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Capítulo 2

Author: Árvore Florida
Quando voltei silenciosamente para o quarto, dei uma olhada pela janela.

Lá embaixo, os dois ainda se beijavam como se o mundo estivesse acabando, sem a menor intenção de subir.

Soltei um longo suspiro, puxei as cortinas para bloquear a visão repugnante e me virei para a empregada.

— Traga a gravata roxa que o Chefão usou esses dias.

Ela congelou por um instante.

— Senhora, aquela gravata está na sala de coleções do Chefão. Para entrar lá é preciso autorização.

Toda a família sabia que Leonardo guardava tudo que tinha a ver com nosso relacionamento na sala de coleções. Até mesmo o bichinho de pelúcia que eu lhe dera estava ali, como se fosse um tesouro.

Era por causa desse tipo de tratamento, dessa preferência pública, que todos na família me respeitavam tanto.

Fiquei alguns segundos em silêncio.

Depois, sem dizer nada, agarrei um bastão e caminhei diretamente para a sala de coleções.

Sob o olhar chocado de todos, desci o primeiro golpe.

— Senhora, o que está fazendo?!

Não respondi.

Apenas peguei uma tesoura e comecei a cortar a gravata em pedaços. Pedaços pequenos, irrecuperáveis.

Em seguida, rasguei o restante das coisas que estavam relacionadas a mim.

E as joias luxuosas?

Destruí cada uma delas sem hesitar.

Minha voz saiu fria como gelo:

— Coloquem esses restos dentro de uma caixa de presente. Vai ser o presente do Chefão pelo segundo casamento dele. E sobre o que aconteceu hoje, mantenham a boca fechada. Ou eu mando todos vocês para o segundo subsolo. Entendido?

Eles assentiram imediatamente.

Ninguém ousaria contrariar.

O segundo subsolo era o lugar onde ficavam os criminosos mais cruéis, e ninguém saía vivo de lá.

Depois de tudo, os empregados limparam a sala com eficiência.

Em poucos minutos, o ambiente voltou a parecer exatamente como antes… Exceto por um detalhe.

Qualquer coisa relacionada a mim havia desaparecido para sempre.

Quando voltei para o quarto, Leonardo já estava sentado no sofá. Ele segurava um cigarro entre os dedos e soltava a fumaça devagar.

Parecia irresistivelmente sedutor naquela pose.

Ao me ver, apagou a ponta do cigarro na mesma hora e fez um gesto para que o capanga abrisse a janela.

Ele sabia que eu odiava cheiro de fumaça.

— Amor, se divertiu fazendo compras? — Perguntou, passando o braço pela minha cintura. A voz estava baixa e suave.

Mas, por estarmos tão perto, o cheiro de cigarro que ainda impregnava nele me deixava nauseada.

— Mais ou menos. — Tirei a mão dele da minha cintura com frieza.

Leonardo não percebeu nada de estranho. Achou que fosse apenas outro dos meus humores.

Com um olhar dele, o assistente trouxe uma caixa de presente.

— Ouvi dizer que você jogou fora as rosas e o anel. Bem impulsiva. Mas eu gosto disso. — Ele abriu a caixa com elegância. — Estas são pérolas importadas do Sudeste Asiático. Paguei trinta milhões no leilão. Gostou?

Ele perguntou, mas não me deu chance de responder.

Simplesmente pegou a corrente e colocou em meu pescoço. Depois recuou um passo, satisfeito.

— Eu sabia. Em você é que fica mais bonita.

Fiquei imóvel por um instante.

"O que ele queria dizer com aquilo?

Então…

Será que aquele colar também era algo que Cristiane havia rejeitado?"

Soltei um riso irônico.

Fiquei imaginando quantas outras preciosidades daquele lindo salão de coleções não eram, na verdade, lixo que Cristiane não quis.

O pensamento me deu um enjoo profundo.

Arranquei a corrente do pescoço e a joguei sobre a mesa.

— Obrigada pela intenção, mas eu tenho alergia a pérolas. Não vou usar.

As sobrancelhas de Leonardo se franziram na mesma hora.

— Alergia? Mas antes você não usava brincos de pérola em eventos? — Ele me encarou com frieza repentina. — Priscila, você pode fazer birra. Mas mentir para mim, eu não permito.

A temperatura no cômodo despencou.

Os capangas abaixaram a cabeça, imóveis, sem ousar respirar fundo.

De repente, Leonardo baixou o olhar e soltou uma risada curta.

Pegou o colar de pérolas, observou-o por alguns segundos e, sem qualquer hesitação, jogou-o no lixo.

— Se não gosta, então vai para o lixo.

Ele se aproximou e levantou meu queixo com os dedos.

Nos olhos dele havia uma mistura de sentimentos que eu não conseguia decifrar.

— Amanhã eu vou sair com você. Compre o que quiser. Assim você finalmente vai parar de ficar brava comigo, minha querida.

Olhei fundo nos olhos dele e, depois de um segundo, sorri de leve.

— Ótimo. Assim aproveito para comprar um presente também.

— Um presente? — Leonardo franziu a testa. — Para quem?

Talvez fosse imaginação minha, mas senti uma pontada de ciúme na voz dele.

— Para alguém que conheço há muitos anos. O casamento dele é daqui a sete dias. Quero preparar um bom presente.

Ao ouvir a primeira parte, Leonardo pareceu incomodado.

Mas, quando escutou "casamento dele", relaxou imediatamente.

Ele deu uma tapinha amistoso no meu ombro e sorriu:

— Certo. Amanhã compre o que quiser. Os seus amigos são meus amigos.

— E você vai comigo ao casamento? — Levantei o rosto, encarando-o diretamente. — É importante.

Ele respondeu na mesma hora, sem pensar:

— Claro. Mesmo que eu precise cancelar reuniões de bilhões, eu vou com você. Considere isso como minha penitência por ter furado com você hoje.

Ele parecia tão sincero…

Se eu não tivesse visto, com meus próprios olhos, cada detalhe da traição, talvez eu caísse de novo no encanto da voz dele.

Leonardo se inclinou e me puxou para um abraço cada vez mais apertado.

No instante em que seus lábios iam tocar os meus, alguém bateu na porta.

— Chefão, aqui estão as notas de reembolso. Preciso que o senhor assine.
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