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Capítulo 2

Author: Isabela Luz
Mônica ficou em silêncio do outro lado da linha. Não sei se estava chocada ou se sentia uma felicidade tão grande que a deixou sem palavras.

Afinal, só com o meu divórcio ela poderia, enfim, estar com Augusto de forma legítima.

Desliguei o celular e permaneci sentada diante da mesa de centro, esperando Augusto voltar.

Esperei a noite inteira. Mas quem apareceu não foi ele, e sim sua assistente, Vitória Dantas.

Assim que Vitória entrou, percebi imediatamente a hostilidade em seu olhar.

Ela trabalhava ao lado de Augusto havia três anos, e eu sempre tive a sensação de que ela nutria por ele sentimentos que iam além de uma relação profissional.

Vitória me olhou de cima a baixo, e, ao ver meu rosto cansado e marcado por uma noite sem dormir, ela abriu um sorriso de superioridade.

— O Sr. Augusto sustentou você por quase quatro anos. Agora que a Mônica está prestes a se tornar a Sra. Moretti, imagino que você deve estar se sentindo péssima, né?

Sustentou?

Nosso casamento foi mantido em segredo, é verdade, mas não era esse o motivo.

Quatro anos atrás, todos os membros mais velhos da família Moretti foram totalmente contra Augusto se casar comigo por causa da minha origem humilde.

Acabei cedendo. Concordei em apenas registrar o casamento, sem festa, sem cerimônia. Fora as pessoas mais próximas, ninguém sabia da nossa união.

Na época, Augusto me olhou com os olhos cheios de ternura enquanto acariciava meu rosto e disse:

— Eu sei que isso é injusto com você. Mas prometo, Débora, assim que eu assumir o controle do Grupo Moretti, farei um casamento digno de você.

Contudo, Augusto já havia conquistado sua posição no Grupo Moretti há tempos, e aquela cerimônia que ele prometeu nunca aconteceu.

Agora, sua assistente pensava que eu era apenas a amante mantida por ele.

Vitória ergueu o queixo e continuou, com um tom cheio de desdém:

— O Sr. Augusto me pediu para investigar a origem do escândalo de ontem envolvendo a Mônica. Descobri que a fonte do vazamento veio da sua empresa. Você é a chefe de redação do departamento de entretenimento, então não me venha dizer que não sabia de nada.

Acusar é fácil quando se tem poder.

Ele me traiu sem nenhuma explicação, mas, ao invés disso, foi rápido em me culpar.

Minha voz saiu fria e sem emoção:

— Não fui eu.

Vitória soltou uma risada seca.

— As provas estão aí. É melhor você admitir logo e sair dessa história de forma amigável. Caso contrário, vai acabar sendo chutada como um cachorro, o que seria ainda mais humilhante.

Assim que ela terminou de falar, levantei-me de repente e, sem hesitar, dei-lhe um tapa no rosto.

Vitória ficou paralisada, com a mão no rosto, me olhando incrédula.

Peguei o acordo de divórcio que estava em cima da mesa e joguei na frente dela.

Sem desviar o olhar, declarei:

— O que acontece entre mim e o seu chefe não é da sua conta. Agora, saia daqui!

Quando seus olhos pousaram no acordo, ela ficou visivelmente abalada.

— Você... Você é casada com o Sr. Augusto?

Mas, ao se lembrar da relação dele com Mônica, ela apertou os lábios e forçou um sorriso gélido.

— O Sr. Augusto me deu plenos poderes para lidar com isso. Se você não admitir que foi a responsável pelo vazamento, terá que ir até a capela e se ajoelhar diante da imagem sagrada para se arrepender. Só levante quando tiver entendido seus erros. Afinal, a Mônica ainda está chorando por sua causa.

Que absurdo. Ele me traiu, mas eu é que deveria me arrepender?

Vitória continuou, com um tom ainda mais frio:

— Você pode recusar, claro. Mas não se esqueça: o aparelho de suporte cardíaco que mantém sua mãe viva foi desenvolvido pelo Grupo Moretti e só estará disponível no mercado daqui a um mês. O Sr. Augusto pode mandar desligar o aparelho a qualquer momento.

Ela sorriu com crueldade.

— Nesse caso, é só esperar sua mãe morrer.

Meu coração gelou. Augusto sabia que minha mãe era minha única família viva. Mesmo assim, ele escolheu atacar o que eu tinha de mais precioso.

No fim, não tinha escolha. Caí de joelhos no chão frio da capela.

O cheiro suave de velas e incenso impregnava o ambiente, cercando-me como o perfume de Augusto, sufocante e inescapável.

Naquele momento, nunca estive tão lúcida. Eu precisava me divorciar dele.

Ana, a empregada, entrou na capela e, ao me ver ajoelhada, correu para interceder por mim:

— Vitória, a Sra. Moretti não pode ficar assim! Ela tem problemas nos joelhos! Isso vai acabar com ela!

Três anos atrás, quando meu filho morreu logo após nascer, Augusto me deu algumas palavras frias de consolo e continuou viajando pelo mundo, dizendo que era por causa do trabalho.

Ele nunca soube que, durante muitas noites, eu me ajoelhei exatamente aqui, na capela, implorando a Deus que trouxesse meu bebê de volta.

Eu deveria estar repousando e cuidando da saúde, mas passei dias inteiros chorando e rezando, sem comer ou dormir. Essa rotina me deixou com sequelas.

Naquela época, com dias seguidos de chuva, fui diagnosticada com artrite reumatoide.

Os médicos disseram que era raro para alguém tão jovem desenvolver essa condição. Também me disseram que não havia cura e que, em dias úmidos, eu só poderia contar com remédios para aliviar a dor.

Até Ana sabia disso. Mas Augusto, o homem que jurou cuidar de mim, sequer percebeu.

Ana tentou interceder por mim diante de Vitória, mas sem sucesso. Quando viu que seus esforços eram inúteis, ela finalmente se colocou ao meu lado.

— Agora mesmo vou ligar para o Sr. Augusto! — Disse ela, indignada.

Eu senti a dor lancinante nos joelhos e, mesmo assim, cerrei os dentes para responder:

— Ana, não ligue para o Augusto.

Eu nunca havia contado a ele sobre essas coisas. No passado, era porque eu não queria que ele sofresse junto comigo.

Mas agora isso não fazia mais sentido. Augusto jamais se importaria com o que eu sentia.

Ana ignorou as minhas palavras e insistiu. Ela discou o número no celular e esperou.

No entanto, mais uma vez, não foi Augusto quem atendeu. Desta vez, era uma voz infantil e doce, completamente alheia ao que estava acontecendo.

— Quem é? Meu papai está ajudando a minha mamãe a escolher roupas novas!

Eu não consegui evitar um sorriso amargo.

Não sabia ao certo quando isso começou, mas percebi que Augusto havia mudado a senha do celular e não deixava mais eu mexer no aparelho. Na época, achei que ele só queria proteger sua privacidade.

Agora, porém, estava claro que o celular era acessível para sua amante e para a filha dela, mas não para mim.

Ana ficou paralisada. Ela olhou para o número no visor, conferiu novamente e confirmou que não havia discado errado.

Quando ela viu a minha expressão, entendeu imediatamente o que estava acontecendo e desligou a ligação depressa.

Eu puxei os cantos da boca para cima, mas o sorriso que surgiu foi mais de zombaria de mim mesma do que de qualquer outra coisa.

Vitória só se deu por satisfeita quando viu sangue começar a escorrer dos meus joelhos. Então, ela riu com frieza antes de se virar para sair.

— Sua atitude de arrependimento é excelente. Não vou incomodar o Sr. Augusto com isso. — Disse ela, jogando as palavras como uma ameaça antes de sair pela porta.

Assim que Vitória foi embora, Ana correu até mim e me ajudou a voltar para o quarto.

Cada passo que eu dava era acompanhado de uma pontada de dor que me fazia ranger os dentes e prender a respiração.

Indignada, Ana não conseguia esconder as lágrimas enquanto desabafava:

— O Sr. Augusto passou dos limites! Ele deixou a senhora ajoelhada por horas na capela, enquanto estava fora se divertindo com outra mulher. E aquela menina…

Ana engasgou com as palavras, incapaz de continuar. Ela apenas me olhou, preocupada, como se temesse que qualquer coisa que dissesse pudesse me machucar ainda mais.

Eu forcei um sorriso vazio e disse:

— Ana, por favor, pegue o kit de primeiros socorros para mim.

Pouco tempo depois, ouvi passos familiares do lado de fora. Era Augusto que havia voltado.

A conversa dele com Ana chegou até os meus ouvidos.

— Ana, para que está pegando o kit de primeiros socorros? — Ele perguntou.

— A Sra. Moretti ficou ajoelhada na capela a noite inteira. Os joelhos dela estão em carne viva.

— Tão frágil assim? — Respondeu Augusto, com um tom de desprezo.

Ele claramente não acreditava na gravidade do que havia acontecido. Sua resposta foi carregada de dúvida, como se achasse que Ana e eu estávamos tentando manipulá-lo com algum tipo de encenação para ganhar sua simpatia.

Mas Ana não se intimidou. Ela respirou fundo, ganhou coragem e respondeu:

— Foi a Vitória quem a humilhou de propósito. Ela empurrou o almofadão para longe, deixando a Sra. Moretti ajoelhar diretamente no chão duro durante horas.

O tom de Augusto ficou mais frio e mais sério quando ele perguntou:

— Quem mandou ela fazer isso?
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