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Capítulo 3

Author: Isabela Luz
— Não foi você? — Ana perguntou, com a voz insegura.

Depois de ouvir isso, Augusto provavelmente foi fazer uma ligação. Sua voz, sempre fria, carregava a autoridade de alguém acostumado a dar ordens:

— Vitória, passe no financeiro amanhã para acertar suas contas. A partir de agora, você não trabalha mais no Grupo Moretti.

Logo em seguida, Augusto entrou no meu quarto com o kit de primeiros socorros na mão.

Ele estava com a expressão fechada, caminhou diretamente até a cama e sentou-se ao meu lado. Sem uma palavra, ele segurou meu tornozelo e colocou minha perna sobre o seu colo.

— Vai doer um pouco. Aguente firme.

Os olhos dele, escuros como a noite, se fixaram nos meus joelhos, onde o sangue seco marcava as feridas. Augusto parecia perdido em pensamentos enquanto pegava um algodão embebido em iodopovidona e começava a limpar cuidadosamente os meus ferimentos.

Se não fosse por tudo o que eu vi nas fotos, que destruiu qualquer expectativa que eu ainda tinha sobre ele, talvez o olhar concentrado dele naquele momento me fizesse acreditar que o Augusto de antigamente, o homem que um dia me amou, ainda estava ali.

Mas ele passou a noite inteira com Mônica.

Não, talvez nos últimos três anos, em todas aquelas noites em que ele dizia estar viajando a trabalho, ele estivesse, na verdade, com ela.

Um nojo profundo tomou conta de mim. Eu rapidamente puxei minha perna de volta, afastando-me dele. Sentei-me mais longe e, sem olhar para ele, peguei o algodão para continuar limpando as feridas sozinha.

A dor aguda e penetrante das feridas parecia me lembrar de algo: não havia mais volta para mim e Augusto.

Sem levantar os olhos para ele, comecei a colocar uma gaze sobre o joelho enquanto dizia:

— Augusto, vamos nos divorciar.

Eu tinha passado a noite inteira ponderando essa decisão. Foi como arrancar a própria pele, uma dor que parecia interminável. No entanto, mesmo assim, minhas palavras não causaram nenhum impacto visível nele.

O rosto dele, frio e impecavelmente bonito, permaneceu inalterado:

— Divórcio? Você tem certeza?

Ele parecia me desafiar, como se soubesse que eu nunca teria coragem de deixá-lo. Afinal, desde que fui adotada pela família Lins aos cinco anos, eu conhecia Augusto. Desde então, eu me tornei sua sombra, sempre o seguindo, sempre com os olhos brilhando por ele.

Ele me olhou com um sorriso cheio de desdém:

— Débora, se quer me provocar, já chega. Dizer isso uma ou duas vezes pode ser engraçado, mas e se, da próxima vez, eu realmente aceitar?

Engoli minha tristeza e respondi com sarcasmo:

— Você já teve filha com outra mulher. Por que acha que eu ainda vou querer ficar com você?

Os olhos dele, ligeiramente estreitados, me analisaram com cuidado.

— Você já sabe?

Eu forcei um sorriso amargo e, com a voz pesada, perguntei:

— A filha de vocês parece ter uns três anos, né? Então isso quer dizer que, pouco depois de perdermos o nosso bebê, o de vocês nasceu. Acertei?

Por um breve momento, algo diferente passou pelo rosto frio de Augusto. Mas ele não confirmou, nem negou.

O silêncio que se seguiu foi sufocante.

Depois de um tempo, ele franziu as sobrancelhas e perguntou:

— Você realmente se importa tanto com a existência da Laís?

Laís. Então esse era o nome da filha dele.

Eu suspirei, cansada, e respondi:

— Se ela existe apenas para satisfazer seu desejo de ser chamado de pai, então não, eu não me importo.

De repente, ele se aproximou e se inclinou sobre mim, as mãos apoiadas nos dois lados do meu corpo, me prendendo completamente.

Eu tentei empurrá-lo com força, mas meu corpo estava fraco demais para sequer movê-lo.

Augusto abaixou mais o corpo, e sua voz, fria como sempre, ganhou um tom baixo e envolvente enquanto sussurrava ao meu ouvido:

— Entre todas as pessoas que já me chamaram de papai, a sua voz continua sendo a minha favorita.

Meu rosto ficou imediatamente vermelho.

No passado, quando ele ainda não era tão frio comigo, tínhamos uma relação como qualquer outro casal apaixonado. Às vezes, no calor do momento, ele me fazia chamá-lo de "papai". Eu nem sei quantas vezes cedi a isso.

Mas agora, apenas pensar nisso me fazia querer desaparecer de vergonha.

Augusto parecia se divertir com meu constrangimento. Ele sorriu, satisfeito, e perguntou:

— Lembrou disso?

Meu rosto queimava, e eu sentia como se minhas bochechas fossem explodir.

Mas, ao olhar para ele, para aquele rosto familiar que agora parecia tão estranho, algo dentro de mim finalmente se libertou.

Com um tom calmo e firme, eu disse:

— Augusto, entre nós dois, não há mais volta. Não importa o que aconteceu antes, nada mais vai acontecer no futuro.

Por um instante, algo passou pelo rosto dele, mas ele logo se recompôs. Ele se afastou, ficando de pé, e me olhou de cima, com frieza:

— Apenas continue sendo a Sra. Moretti. Esse joguinho de fazer charme não cola comigo.

Eu não aguentei mais. Estava prestes a pegar as fotos que comprei na noite passada por dez milhões de reais e usá-las como prova para convencê-lo a assinar o acordo de divórcio.

Talvez assim ele entendesse que eu estava decidida a me separar.

— Augusto, assine o acordo de divórcio. Vamos terminar isso de forma civilizada, ou eu...

Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou.

Ele atendeu, e, surpreendentemente, sua voz estava mais suave:

— Sim, estamos em casa. Certo, tudo bem.

Depois de encerrar a ligação, ele se virou para mim e disse:

— Seus pais estão a caminho.

As palavras que estavam na ponta da minha língua morreram ali mesmo.

Os "pais" de quem ele falava eram meus pais adotivos. Eles sempre me trataram como uma filha de verdade.

Decidi adiar a conversa sobre o divórcio. Poderíamos discutir isso depois que eles fossem embora. Caso contrário, a situação ficaria insuportavelmente constrangedora.

Quando viu que eu não disse mais nada, Augusto foi para a capela e me deixou sozinha.

Fui para a cozinha, onde Ana já estava, e comecei a ajudá-la a preparar o almoço.

Por volta do meio-dia, Maria e Sérgio chegaram.

— Pai, mãe, vocês chegaram! Justamente agora que o almoço ficou pronto. Sentem-se, por favor.

Eu me esforcei para esboçar um sorriso, tentando parecer que nada havia acontecido.

Ao perceber meu andar mancando, Maria olhou para mim, preocupada, e perguntou:

— Filha, o que aconteceu com sua perna?

Com medo de que eles descobrissem a verdade, fiz questão de parecer despreocupada enquanto respondia:

— Foi só uma queda, nada demais.

Sérgio, com o tom carinhoso de sempre, comentou:

— Filha, você sempre foi tão estabanada. Já é adulta e ainda consegue cair andando. Foi ao hospital?

— Fui, sim. O médico disse que não é nada grave. — Eu rapidamente desconversei, tentando mudar de assunto.

Maria olhou ao redor, como se procurasse algo, e perguntou:

— E o Augusto? Onde ele está?

Ao ouvir o nome dele, senti meu rosto endurecer.

— Ele está na capela. Vou chamá-lo.

Sérgio imediatamente me interrompeu, levantando a mão como quem quer evitar algum problema.

— Não precisa chamá-lo, Débora. A gente espera por ele aqui mesmo.

O tom humilde na voz do meu pai fez meu coração apertar.

As famílias Lins e Moretti sempre tiveram uma relação próxima, mas a verdade é que o Grupo Lins não vinha prosperando há anos. Meu irmão, infelizmente, nasceu sem o talento para negócios, e, com o passar do tempo, nossa empresa foi caindo cada vez mais, até quase ser completamente excluída do círculo da alta sociedade de Cidade H.

Por outro lado, desde que Augusto assumiu o Grupo Moretti, ele expandiu agressivamente os negócios da família. A empresa engoliu concorrentes um após o outro, ampliando seu império comercial a um ritmo impressionante.

Nos últimos anos, se não fosse pelo apoio constante do Grupo Moretti ao Grupo Lins, nossa empresa já teria sido devorada pelos competidores.

Por isso, a postura de Sérgio e Maria em relação a Augusto mudou drasticamente. Aquele respeito autoritário de outrora, típico de sogros, havia dado lugar a uma humildade quase servil, como se sempre precisassem pedir algo.

Hoje, por alguma razão, parecia que eu havia irritado Augusto. Meus pais já estavam na casa fazia quase duas horas, e, mesmo depois de eu pedir para Ana avisá-lo, ele ainda não havia saído da capela. Era como se ele estivesse deliberadamente ignorando a presença deles.

Maria parecia sentir algo diferente no ar. Ela me olhou com preocupação e perguntou:

— Débora, ontem vi uma notícia. Falava de um suposto caso envolvendo a Mônica. Não mostraram o rosto do homem, mas, pelo que deu para ver da silhueta dele... Parecia o Augusto. Ele... Não é, né?

Meu coração deu um salto no peito. Uma sensação de ardência tomou conta dos meus olhos, e as lágrimas quase escaparam.

Nesse momento, Ana entrou apressada na sala, interrompendo meus pensamentos.

— O Sr. Augusto chegou! — Anunciou ela.
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