Capítulo 0006

— Por que não ficou lá e tirou um cochilo? — Perguntou Catarina, casualmente.

— No fim das contas, aquele apartamento nunca foi meu lar. — Félix tirou o casaco, entregando a Catarina de um jeito casual, como se tudo estivesse bem. — E, além disso, hoje é seu aniversário. Falei que voltaria para passar esse dia com você, então aqui estou.

Catarina pegou a peça de roupa, mas o aroma intenso de perfume a incomodou imediatamente, deixando-a desconfortável. Largou o casaco no sofá, discretamente mantendo distância entre eles.

— Ah, me lembra, que dia mesmo você vai fazer o próximo pré-natal? — Ao se aproximar, Félix pousou a mão na barriga da esposa, numa tentativa de recuperar a intimidade perdida. — E aí, pequeno, sentiu falta do papai? Na próxima consulta, vou com a mamãe para te ver. Aposto que está animado, né?

Aquela cena poderia parecer carinho para qualquer um, mas para Catarina cada palavra trazia uma pontada de dor.

Filho? O filho deles já tinha partido, levado embora pelas escolhas dele. Como esperar algum reencontro, se o bebê já não existia mais?

— Vai ser na segunda-feira. Você consegue ir dessa vez?

— Eu vou, prometo. Não importa o que aconteça. — Tentando remediar o passado, ele envolveu Catarina num abraço por trás. — Me desculpa, de verdade. Admito que te deixei de lado nos últimos tempos, mas também é porque você anda muito desconfiada, né? Entre eu e a Eunice, não tem nada além de amizade, você sabe disso. Aliás, ontem, você me expôs ali na frente dos meus amigos, ficou complicado para mim também.

Catarina endureceu o corpo, sem dizer nada, como se ouvisse palavras vindas de bem longe. Três anos de casamento e, quando teve a chance de defendê-la, tudo que ele fez foi expor a falta ao escolher Eunice na frente de todos.

Ao perceber que ela não cedia, Félix forçou um tom conciliador:

— Olha, é seu aniversário hoje. Diz um lugar que você quer ir e eu vou com você, pode escolher o que te fizer feliz.

Catarina se lembrou de um antigo sonho, de um desejo nunca atendido. Viver no norte a afastava do mar, e por mais de uma vez, Félix prometeu levá-la à praia nas Maldivas, uma promessa que se perdeu no tempo.

— Eu queria conhecer as Maldivas, lembra? Você disse que um dia íamos ver o mar juntos.

Félix pareceu incomodado com o pedido.

— Maldivas é longe, demora demais. Melhor pensarmos em algo aqui por perto, alguma cidade vizinha. Podemos reservar uma pousada, assim segunda-feira você está em casa para consulta.

Catarina sorriu, como se soltasse de leve um segredo guardado.

— Estou brincando, Félix. Só queria ver se você lembrava, só para testar.

Já esperava aquele tipo de reação. Sabia que Félix nunca conseguiria, nem por um fim de semana, abrir mão de Eunice.

Para tentar compensar o clima, ele reservou uma mesa em um restaurante elegante para comemorar o aniversário dela.

Ela quase recusou, mas pensou que poderia ser a última vez que dividiriam uma refeição, então resolveu aceitar.

Quando chegaram ao restaurante, Félix se mostrou atencioso, passando o cardápio primeiro para Catarina.

— Pede o que você quiser. Hoje é seu dia. — Só que, antes mesmo que ela escolhesse, Félix se apressou a listar suas opções. — Vamos pedir a costela de cordeiro, escargot à moda francesa, foie gras... E, para acompanhar, um tinto especial.

Catarina arqueou a sobrancelha, surpresa, nenhum daqueles pratos fazia parte do seu gosto. E, se bem lembrava, nem Félix gostava de cordeiro.

Enquanto ela ainda processava, Eunice apareceu rapidamente ao lado da mesa, tirando a máscara com um sorriso animado.

— Feliz aniversário, Catarina! Estava gravando ali perto e nem tive tempo de almoçar. O Félix ficou preocupado que eu passasse fome e me chamou junto. Você não se importa, né?

Catarina mal teve tempo de reagir. O garçom já estava servindo os pratos.

— Meu Deus, são todos pratos que adoro! Juro que vou atacar!

Cheia de energia, Eunice começou a comer sem nenhuma cerimônia.

Félix observava a cena com um carinho quase exagerado.

— Lógico, pedi tudo do jeito que você gosta. Vai com calma, não precisa ter pressa.

— Ai, Félix, você é demais! Te amo! — Num impulso, Eunice lançou um sorriso brilhante para ele, e em seguida, percebendo o deslize, se virou apressada para Catarina. — Foi mal, Catarina! Falo "te amo" no automático, fico dizendo isso pros meus fãs o dia inteiro. Não liga, tá?