LOGINA família Pereira sempre teve um status muito mais alto.O Sr. Marcos, no início, não passava do motorista deles.Embora, mais tarde, tivesse feito seus próprios negócios e juntado algo para a neta, no fundo continuavam pertencendo a mundos diferentes.Por isso, ao aconselhar Cristiano a aceitar o divórcio, o Sr. Marcos não dizia uma palavra defendendo Tatiane, nem reclamava por ela.Pelo contrário, assumia toda a culpa para si, dizendo que não a tinha educado da forma correta.A essa altura, já não importava quem estava certo ou errado.O que importava era que os dois jovens pudessem recomeçar.Que não continuassem se ferindo.Que não prolongassem um sofrimento inútil.O conselho pelo divórcio… Cristiano jamais esperava ouvir isso.Quando o Sr. Marcos terminou de falar, Cristiano só sentiu que toda aquela autocrítica era, na verdade, um constrangimento para ele.Porque, nessa história, o inquieto, o que não se manteve no lugar de marido, sempre fora ele.Mesmo que o casamento tivesse
Por algum motivo, aquela frieza de Tatiane, aquela maneira distante de tratá-lo, deixou Cristiano ainda mais incomodado.Ela nunca tinha sido assim. Antes, bastava ele ir ao Residencial Solaris uma única vez para que ela agradecesse aos céus.Cristiano ficou sentado no corredor por um bom tempo antes de voltar a olhar para o quarto.Depois de encarar a porta por alguns instantes, acabou se levantando e caminhando até lá.Ao chegar, viu Tatiane ainda sentada ao lado do Sr. Marcos, cuidando dele como sempre fazia.Sem demonstrar emoção, Cristiano empurrou a porta e voltou a se sentar na mesma cadeira de antes.Nos dias seguintes, o avô permaneceu internado para observação.Tatiane deixou o trabalho temporariamente e ficou no hospital, acompanhando-o todos os dias.E Cristiano, nesses dias, passou a aparecer com frequência.Conversava com o Sr. Marcos, jogava xadrez com ele.Isso deixava o senhor animado.Só que, com Cristiano, Tatiane continuava extremamente educada.Educada até demais.
Afastando a cadeira com um leve empurrão, Tatiane levantou-se rapidamente.Surpresa, perguntou:— O que você está fazendo aqui?Ela realmente não esperava ver Cristiano.Não havia contado nada sobre a internação do avô.Com as mãos nos bolsos da calça, Cristiano observou a reação dela com um olhar frio e distante.Tinha acabado de receber uma ligação de Ricardo, informando que o avô de Tatiane havia desmaiado em casa naquela tarde e estava internado.Assim que ouviu isso, a expressão dele escureceu.Ele não sabia de nada.Ninguém o avisara.Quando ligou para casa para confirmar, a situação ficou pior: todos já sabiam, todos já tinham ido ao hospital, menos ele.E só ficara sabendo porque Ricardo contara.O rosto de Cristiano estava tenso.Tatiane baixou o olhar para o Sr. Marcos e explicou:— O vovô está bem. Acordou já à tarde, já fez todos os exames. Agora está só dormindo. Então… Não precisa se preocupar. Pode ir lá. Eu fico bem aqui.Ela sabia que Cristiano não se importava realmen
De vez em quando, o telefone de Alexandre tocava, e ele saía para atender no corredor.Ao lado do leito, Tatiane segurava a mão do Sr. Marcos. Seus olhos, porém, estavam voltados para a porta entreaberta, observando Alexandre falar ao celular lá fora. Em seu coração, ela sentia uma profunda gratidão.À noite, Karine e Lorena apareceram, e Pedro também veio.A família Silva era pequena, e Tatiane não tinha muitos amigos. Por isso, além da família Pereira, ninguém mais visitou o Sr. Marcos.Mesmo assim, Cristiano ainda não aparecera.Depois das nove, vendo que Alexandre continuava ao seu lado, Tatiane disse:— Irmão, eu fico aqui com o vovô. Pode ir descansar.Alexandre olhou para o Sr. Marcos adormecido.— Certo. Então vou indo. Qualquer coisa, me liga.— Está bom. — Tatiane assentiu levemente.Ela acompanhou Alexandre até o hall dos elevadores.Ainda pensou em descer com ele, mas Alexandre disse:— Até aqui está ótimo. Volte para o quarto. O vovô não está com nada sério, você não preci
De costas para Cristiano, Tatiane soltou um longo suspiro.Depois de alguns segundos em silêncio, ela disse:— Não… Eu sei que você só falou sem pensar.Mesmo tendo sido ela a pessoa repreendida, mesmo sendo ela quem passara vergonha, Tatiane ainda tentava confortar Cristiano.Ao ouvi-la, ele apenas recolocou o fone no ouvido dela.Nos dias seguintes, a rotina voltou ao normal: calma, quase insípida.Cristiano voltava para casa todos os dias, mas as conversas entre os dois continuavam escassas.Naquela tarde, Tatiane tinha acabado de retornar ao escritório após uma reunião quando recebeu uma ligação de Débora.— Sra. Tatiane, o Sr. Marcos foi internado. Ele acabou de fazer alguns exames. Se puder, venha vê-lo quando sair do trabalho.Do outro lado da linha, Tatiane ficou subitamente inquieta.— Meu avô foi internado? Débora, por que vocês não me avisaram antes?Hoje em dia, apenas quando o assunto envolvia o Sr. Marcos Tatiane reagia com tamanha intensidade.— O Sr. Marcos não deixou.
Embora tivesse dito que entendia, depois que deixaram a mansão, no caminho de volta para casa, Tatiane parecia completamente abatida.Encostada no banco, sem forças, com os braços cruzados de leve e a cabeça apoiada no encosto, ela olhava pela janela com um olhar vago.Não havia brilho algum em seus olhos.Cansada.Profundamente cansada.O coração, exausto.Cristiano, de vez em quando, olhava para ela pelo retrovisor. Via-a ali, imóvel, silenciosa, encarando o lado de fora e não tentou puxar conversa.De fato, o que ele tinha dito antes fora no calor do momento.No banco da frente, o celular de Cristiano tocou várias vezes. Ele atendeu algumas ligações, mas Tatiane não percebeu nada. Continuou com o olhar preso na paisagem que passava.Só quando o carro estacionou na garagem, e quando Cristiano abriu a porta para ela, Tatiane finalmente voltou a si. Apressou-se em pegar suas coisas e murmurou, educadamente:— Obrigada.Depois, no mesmo tom educado, acrescentou:— Você ainda deve ter tr






