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Eles Não Me Deixam Ir
Eles Não Me Deixam Ir
Author: Melissa Z

Capítulo 1

Author: Melissa Z
No meu aniversário, o meu enteado que eu criei desde bebê despejou um copo de vinho tinto na minha cabeça. Ele gritou para eu sair da casa dele.

Por anos, fui substituta de uma mulher morta. Agora, eu era um monstro para o menino que criei como filho.

Eu aguentei o suficiente.

— Sua vadia! Nem pense que pode substituir minha mãe só porque está usando as jóias dela!”

Meu enteado de oito anos, Leo, ficou na minha frente. O rostinho distorcido de raiva.

Antes que eu pudesse reagir, o vinho frio escorreu pela minha roupa.

No segundo seguinte, a mãozinha dele agarrou as pérolas no meu pescoço e as puxaram.

O colar arrebentou. As pérolas rolaram pelo chão de mármore — como cem pequenas lágrimas brancas.

O Damien me deu o colar naquela mesma manhã. Ele me olhou nos olhos e disse que aquelas pérolas haviam sido feitas para mim.

Eu achei que ele estava finalmente me enxergando.

Nunca imaginei que as pérolas eram de sua falecida esposa, a Krista.

Todos ficaram em silêncio.

Todos os convidados olharam. Alguns cochicharam. Outros pegaram o celular para filmar.

— Leo. Minha voz estava extremamente calma. — Seu pai me deu esse colar.

— Não importa! — Ele gritou. — Você está copiando ela! Você nunca vai ser minha mãe!

Olhei para o menino que eu criei. Uma dor enorme atravessou meu peito.

Oito anos atrás, a esposa do Damien, a Krista, morreu num ataque de uma família rival.

Ela levou o tiro que era para acertar o seu filho.

Naquele mesmo ano, a empresa do meu pai estava falindo.

Ele viu uma oportunidade.

O plano do meu meu pai era seduzir o viúvo.

Todos sabiam o quanto ele amava a esposa. Eu queria ficar longe disso mas meu pai forçou.

Ele conseguiu me levar para uma festa de gala.

Não imaginei o que aconteceria no próximo ano. Quando o Damien me viu, seu luto virou obsessão. Ele precisava me ter.

Porque eu era a imagem viva de Krista.

Por oito anos, desempenhei meu papel de esposa obediente, madrasta dedicada. Cuidei do pai dele e do filho dele.

Às vezes, eu acreditava que éramos uma família de verdade e feliz.

Até o ano passado, quando o Leo descobriu que eu não era sua mãe biológica.

Ele começou as birras, exigindo a mãe biológica. Me acusou de matar ela.

Eu tentei acalmar ele, como sempre fiz.

Ele só me insultou e foi rebelde.

Antes, eu engolia tudo. Era uma madrasta paciente, gentil.

Mas hoje não. Hoje eu cansei.

Levantei, com o olhar fixo. Meu aniversário tinha terminado.

— Então vá procurar a sua mãe biológica.

O Leo congelou.

Ele claramente não esperava essa resposta.

Eu virei e saí do salão e fui para o jardim respirar.

Mas quando voltei ao meu estúdio no terceiro andar, entrei no inferno.

A pintura do meu avô, Coração do Deserto, estava rasgada. Tinha tinta preta na tela inteira.

Ao lado, estava escrito em letras infantis: “Você tirou minha mãe de mim, então vou tirar o que você mais ama!”

Levou três anos para restaurar.

Agora, estava destruída. A moldura, em pedaços. Um corte profundo na tela. Pigmentos preciosos borrados como sangue seco.

O Leo estava parado ao lado dos destroços, a adaga manchada de tinta ainda na mão.

— É isso que você ganha por mexer comigo! — Ele declarou, satisfeito. — Da próxima vez que me irritar, eu destruo todas as suas coisas!

Meu coração parou.

Aquele quadro era minha última conexão com qualquer coisa real neste mundo.

Era um tributo ao meu avô, que me ensinou a pintar minha alma com cores. Era o meu único consolo nessa mansão fria.

Ajoelhei-me, as mãos trêmulas pegando um pedaço rasgado da tela.

Agora ele estava destruído, assim como meu coração.

— Elara.

A voz do Damien veio da porta. Não me virei, mas pude sentir o olhar dele percorrer o cômodo.

— O que aconteceu? — ele perguntou.

— É óbvio. — Minha voz soou distante. — Seu filho destruiu minhas coisas.

— Leo, por que você fez isso?

— Foi ela que começou! — O Leo rebateu. — Ela vestiu o vestido da mamãe e mandou eu ir procurar minha mãe biológica!

Finalmente me levantei e encarei o Damien.

Ele parecia irritado, mas não pelo que o Leo havia feito.

— Por causa de um quadro? — ele disse, a voz perigosamente baixa. — Você está fazendo cena por um pedaço de tela?

Dois seguranças entraram. O Damien estalou os dedos. — Tirem esse lixo da minha frente.

Lixo.

Ele chamou a alma do meu avô de lixo.

Observei os guardas juntarem a tela rasgada e a moldura quebrada em um saco de lixo.

— Não me olhe assim — O Damien disse, caminhando até mim. — Vou compensar você. Hoje é um dia especial. Tenho outro presente pra você.

Ele tirou um documento do bolso interno do paletó.

— Propriedade de uma empresa legítima, vale cinco milhões de dólares. A partir de hoje, é sua.

Ele estava me comprando. Me pagando como uma prostituta para eu calar a boca e esquecer.

Cinco milhões de dólares.

Ele achava que dinheiro resolvia tudo.

Achava que eu era como todas as outras mulheres, que um cheque caro o suficiente me deixaria grata.

Ele nunca soube o que aquele quadro significava para mim.

Ou talvez soubesse. E simplesmente não se importava.

O Damien estendeu a mão para tocar meu rosto, como fizera milhares de vezes nos últimos oito anos.

Dei um passo para trás.

Pela primeira vez em oito anos, recuei do seu toque.

A mão de Damien ficou suspensa no ar. Seus olhos pareciam confusos.

— Damien. — Minha voz ficou firme.

— Nosso acordo acabou. Amanhã eu vou embora.
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