Capítulo 1

— Dra. Cecília, entre rápido, por favor! O estado do senhor está cada vez pior! — A voz ansiosa do mordomo soou ao meu lado, enquanto meu corpo tremia involuntariamente.

A dor de ser engolida pelo fogo ainda impregnava cada centímetro da minha pele. Os gritos desesperados dos meus dois filhos no porão ainda ecoavam nos meus ouvidos.

— Dra. Cecília? — Esse chamado me fez estremecer.

Desde que me casei com Victor, ninguém mais me chamava assim.

— Hoje é a festa de aniversário do Sr. Victor, ninguém sabe como isso aconteceu.

Parei no meio do caminho. Eu voltei no passado.

— Sr. José, vá chamar a Srta. Joana, o Sr. Victor foi envenenado com uma substância afrodisíaca.

Respirei fundo e me virei para o mordomo:

— Vá buscar Joana Araújo. O Sr. Victor foi envenenado com uma substância afrodisíaca.

— Mas... — O mordomo hesitou.

— Vá chamá-la! — Disse com firmeza. — Caso contrário, ele estará em perigo.

Observei o mordomo sair às pressas, enquanto segurei meu peito, meu coração batia descontroladamente.

No passado, nesse exato momento, ao abrir a porta, Victor me atacou como um animal raivoso. E o mordomo estava do lado de fora, ignorando meus gritos.

Depois, engravidei e me casei com Victor. Achei que seria o começo de um final feliz, mas era apenas o início de um pesadelo.

Ele me odiava por ter me "aproveitado" dele, e por fazê-lo perder o seu grande amor. Ele me desprezava, me humilhava, e não deixava os nossos filhos o chamarem de pai.

No nosso aniversário de dez anos de casamento, ele nos queimou vivos.

Em meio às chamas, os gritos de "mamãe" dos meus filhos pequenos dilaceraram o meu coração.

Engoli todo o meu ódio, abaixei a gola da blusa e fui em direção ao escritório.

Se a memória não me falha, o pai de Victor também havia sido drogado com a mesma substância naquele dia. Os homens da família Santos sempre tiveram dificuldades para ter filhos. Victor só nasceu com o processo de fertilização, e é por isso que sua posição sempre foi estável. Mas, e se ele não fosse mais filho único nesta vida?

Empurrei a porta do escritório.

Átila Santos estava largado no sofá de couro, com o rosto corado, gravata frouxa pendurada no pescoço. Ao me ver, agarrou-me como se eu fosse um salva-vidas.

Na manhã seguinte, saí do escritório com as roupas amassadas. No mesmo instante, dei de cara com Joana saindo do quarto de Victor. Ela exalava satisfação e sensualidade.

Ao me ver, parou por um segundo e logo sorriu com desprezo.

— Dra. Cecília, por que tanta pressa para sair? — Era perceptível o deboche no canto dos seus lábios. — Está com a consciência pesada? Afinal, seduzir um homem velho por dinheiro é bem baixo, não é?

— Somos iguais. — Olhei para ela friamente.