Capítulo 2

— Dra. Cecília, aí é que você se engana. — O rosto de Joana mudou. — Nós duas somos bem diferentes. Eu posso ser a esposa legítima. Já você... no máximo é paga e descartada.

Abaixei meus olhos. Ela estava certa. No passado, a mulher que entrou no mesmo quarto que eu, foi justamente paga para sumir. Mas eu não era ela. Eu nasci com alta fertilidade, e foi justamente por engravidar que consegui entrar na família Santos.

— É melhor cuidar de si mesma, Srta. Joana. — Olhei para o uniforme de empregada dela com intenção.

Nesse momento, Victor saiu do quarto e abraçou Joana com carinho.

— Joaninha, está tudo bem? Por que não descansou mais um pouco? — Victor perguntou com ternura.

Joana abaixou os olhos, tímida.

— Eu ainda tenho muito trabalho a fazer. Não posso ficar fora o tempo todo. Afinal, não sou a Dra. Cecília, que pode ficar à toa o dia inteiro. — Ela me lançou um olhar provocador.

— Ela não passa de uma médica da família. — Victor resmungou. — Querida, já te disse, eu vou te assumir como minha responsabilidade.

— Ouvi dizer que foi você quem mandou o mordomo chamar Joaninha ontem. Pelo menos teve bom senso. — Ele me encarou friamente. — Mas, mesmo assim, não fica desejando o que não te pertence.

As palavras dele foram como facas, rasgando meu coração. Então, ele sempre soube que eu gostava dele.

No passado, fiquei sabendo que foi por uma palavra do Victor que a família Santos decidiu financiar meus estudos. Foi aí que me apaixonei. Depois, me ofereci para ser médica da família só para ficar perto dele.

Antes do casamento, perguntei se ele queria mesmo se casar comigo.

— Pode ser qualquer uma. Não pense demais. Apenas seja senhora da família Santos. — Ele respondeu claramente.

Assim que garantiu sua posição como herdeiro da família, começou a se voltar contra as pessoas. Victor era um hipócrita.

— Tudo bem. — Respondi em voz baixa.

Desta vez, sem a minha presença para atrapalhar, quero ver se eles realmente ficarão juntos.

Estava prestes a sair quando Victor segurou meu pulso com força, me machucando. Seus olhos se fixaram em uma pequena marca vermelha na minha pele exposta.

— O que é isso? — Sua voz era fria como gelo. — Você é mesmo uma vagabunda!

A dor no meu corpo se intensificou, mas me forcei a manter a compostura.

— Não é da sua conta, Sr. Victor. — Encarei-o friamente.

Seu rosto escureceu, e uma emoção estranha passou por seus olhos.

— Quem fez isso? Algum criado? É isso que você consegue? — Seu tom estava carregado de desprezo.

— Ai... está doendo... — Antes que eu pudesse responder, a voz fraca de Joana soou atrás de mim.

Victor largou meu braço e correu até ela.

— Minha perna está doendo... — Ela se encostava na parede, parecendo frágil e indefesa.

Sem dizer nada, Victor a pegou no colo. Joana se agarrou ao pescoço dele, encostando o rosto em seu peito, e lançando um olhar provocador para mim.

Joana sempre quis se agarrar a alguém poderoso. Então, usava sua fraqueza para comover Victor.

No passado, quando soube que íamos nos casar, ela tentou seduzir outros herdeiros só para provocá-lo. Depois, Joana acabou ficando viciada em substâncias ilegais e morreu atropelada numa crise de abstinência. Victor achava que ela o amava profundamente.

Levei a mão ao ventre, sentindo uma ardência mais intensa que na gravidez anterior.