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Capítulo 3

Author: Perara
Três anos atrás, durante um incidente envolvendo um paciente revoltado, meu pai, que estava no hospital para uma consulta, acabou levando duas facadas para proteger Dante, que havia acabado de assumir sua posição no hospital.

A família Lima, reconhecida como uma das mais influentes em Cidade Quilemba, prometeu recompensá-lo generosamente pelo ato heroico. No entanto, meu pai fez um pedido inesperado: que nossas famílias se unissem por meio de um casamento.

Para a família Lima, que ocupava o topo da elite, essa proposta foi vista como uma tentativa oportunista de meu pai para obter um benefício ainda maior. Afinal, ele era apenas o gerente de uma pequena empresa farmacêutica.

Eu não estava presente quando tudo aconteceu. Quando Dante veio me procurar, ele trazia em mãos um contrato pré-nupcial e exalava uma frieza inacessível.

— Nosso casamento terá a duração de três anos. Depois disso, será automaticamente dissolvido. Se não houver objeções, assinaremos no cartório amanhã cedo.

O homem que eu amava há anos estava bem na minha frente. Movida por um impulso irracional, assinei o contrato sem pensar duas vezes.

Só depois percebi que, logo na primeira cláusula, estava escrito claramente:

[Nunca alimente a ilusão de que somos um casal de verdade.]

As lágrimas molharam o papel enquanto eu olhava para as palavras "um casal". Um sorriso amargo surgiu em meus lábios.

“Então, Dante, o que esses três anos significaram para nós?” perguntei a mim mesma em silêncio.

Passei a noite em claro. Foi o som irritante do celular que me trouxe de volta à realidade. No visor, aparecia um número de telefone fixo.

— Olá, Srta. Quezia. Aqui é do departamento de recursos humanos do Hospital Dona Presidente. Por favor, compareça amanhã às 10h para a etapa de prova escrita. O local já foi enviado para o seu celular.

O Hospital Dona Presidente.

Só então me lembrei que, alguns dias atrás, meu orientador, Dr. Caleb, havia indicado alguns de nós para uma entrevista lá. Disseram que havia apenas seis vagas para toda a faculdade de medicina, e, surpreendentemente, eu era uma das selecionadas.

O Hospital Dona Presidente era o lugar onde Dante brilhava intensamente. Era o emprego dos sonhos de qualquer estudante de medicina e, por muito tempo, foi o local onde eu fantasiei trabalhar ao lado dele.

Agora, ao lembrar dessas fantasias, não pude evitar achar tudo isso ridículo.

— Srta. Quezia, poderá vir amanhã no horário marcado? — Perguntou a voz do outro lado da linha.

Olhei para o contrato pré-nupcial na minha mesa e, ao lado dele, a embalagem de anticoncepcionais. Depois de hesitar por alguns segundos, respondi:

— Sim, estarei lá pontualmente.

“Se o amor não pode ser conquistado, então é melhor segurar firme o que realmente importa”, pensei comigo mesma.

Passei o dia inteiro me preparando para a prova escrita. Contudo, perto da hora do jantar, minha sogra, Luna Lima, apareceu sem avisar.

Ela entrou segurando uma caixa de suplementos para fertilidade. Depois de olhar ao redor, perguntou:

— Dante não voltou para casa hoje?

— Ele está de plantão esta noite. — Respondi com naturalidade, já que conhecia de cor o calendário de trabalho dele. — Ele volta amanhã cedo.

A segunda parte da minha resposta era uma mentira.

Os olhos de Luna repousaram em meu abdômen por alguns segundos, antes que ela comentasse:

— Não é seu período fértil? Como esposa, você deveria se esforçar mais. Caso contrário, quando é que vou ter um neto?

Essas palavras me perseguiam desde o segundo ano do nosso casamento. Antes, o amor que eu sentia me fazia ignorá-las, mas hoje, elas soaram particularmente dolorosas.

Afinal, não era eu quem não queria ter filhos.

— A propósito... — Luna disse, sentando-se no sofá e lançando um olhar para os livros de medicina na mesa. — Ouvi dizer que você está na lista para a prova escrita do Hospital Dona Presidente amanhã.

Eu sabia que Luna sempre esteve bem informada, mas não esperava que ela soubesse até mesmo sobre a prova.

Assenti com a cabeça, pronta para explicar, mas ela me interrompeu:

— Desista disso. A família Lima não precisa que você trabalhe. Sua prioridade agora deve ser dar um herdeiro para esta casa. Todo o resto pode esperar.

Ela disse isso como se abandonar a prova fosse algo insignificante.

Todos sabiam o quão difícil era conseguir uma oportunidade no Hospital Dona Presidente. Mesmo para uma vaga de estágio, apenas três ou quatro candidatos eram selecionados entre centenas de inscritos. Conseguir participar da prova já era uma conquista.

E agora, ela esperava que eu desistisse desse sonho apenas por suas palavras?

Eu não podia fazer isso.

Eu não seria mais a tola que colocava Dante e sua família acima de tudo. Era hora de acordar do sonho que eu mesma criei para este casamento.

— Senhora. — Disse eu, com uma voz calma, mas firme. — Eu vou fazer a prova amanhã.

Não pedi permissão. Apenas informei minha decisão.

Luna não esperava que eu desobedecesse. Após um momento de surpresa, ela olhou para mim incrédula, e então sua atenção mudou para algo atrás de mim.

— Dante, você ouviu isso? — Disse ela com um leve tom de escárnio.

Virei-me devagar e vi Dante parado na entrada. Gotas de água escorriam do final de seus cabelos, e ele exalava o cheiro úmido e frio da noite de inverno.

Ele não estava de plantão? Por que havia voltado para casa?
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