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Capítulo 4

Author: Perara
O ambiente ficou em silêncio por alguns instantes. Poucos segundos depois, Dante caminhou até o centro da sala com passos firmes e controlados. Ele olhou para Luna e perguntou:

— Já jantou?

Sua voz era calma, e seu rosto não demonstrava nenhuma emoção, tornando impossível decifrar se estava irritado ou apenas indiferente.

Luna lançou um olhar para mim antes de erguer a voz:

— Com essa situação, como eu poderia jantar? Dante, essa sua esposa é realmente impressionante. Em vez de assumir seu papel como Sra. Lima, ela insiste em se candidatar a uma vaga no Hospital Dona Presidente. Trabalhar como médica já é algo que não tem hora nem dia, e nesse ritmo, o desejo meu e de seu pai de ter um neto este ano vai por água abaixo.

Este ano.

Eu mastiguei essas palavras em silêncio, sentindo um amargo no peito. Talvez eu e Dante fôssemos bons atores demais. Conseguimos enganar as nossas famílias, fazendo-os acreditar que éramos um casal de verdade. Mas ninguém sabia que esse casamento de aparência já estava em contagem regressiva para terminar.

— Dante, diga alguma coisa. — Luna insistiu, aparentemente insatisfeita com o silêncio dele. — Três anos se passaram, e o ventre dela continua sem dar nenhum sinal. Isso faz algum sentido?

O descontentamento de Luna estava estampado em seu rosto, mesmo com toda sua aparência bem cuidada.

Dante, no entanto, permaneceu impecavelmente calmo. Seus olhos frios e distantes passaram lentamente pelo meu rosto antes de dizer:

— Ligue para o departamento de recursos humanos e peça para cancelar a prova de amanhã.

Cancelar? Dante também queria que eu desistisse? Uma sensação esmagadora de perda apertou meu peito, e minhas narinas arderam enquanto as lágrimas ameaçavam cair. Ele havia esquecido que foi ele mesmo quem colocou os anticoncepcionais na minha frente na noite passada?

— Por quê? — Perguntei, percebendo tarde demais que minha voz estava embargada.

Por que ele, que nunca me viu como sua esposa, insistia em me manter presa ao título de Sra. Lima?

— Você sabe por quê. — Ele respondeu, como se fosse algo óbvio. — Trabalhar como médica é um emprego que exige muito tempo.

Então, ele queria que eu continuasse como antes, presa em uma casa fria e luxuosa, esperando por ele todas as noites?

— E por que mais? — Acrescentou Luna. — Passar os dias inteiros no hospital vai atrapalhar o foco em ter filhos, não é? Aliás, acho que está na hora de marcar uma consulta com um ginecologista. Se não puder conceber naturalmente, podemos usar métodos científicos.

A menção de “métodos científicos” me atingiu como uma faca. Então, na visão de Luna, eu não passava de uma máquina de produzir herdeiros?

— Sogra. — Disse eu, contendo a amargura no peito enquanto olhava para a caixa de suplementos para fertilidade na mesa. — Que tal marcar uma consulta para o Dr. Dante em um especialista em andrologia? Afinal, ter filhos não é responsabilidade apenas minha.

Luna ficou visivelmente sem palavras por alguns segundos, sua expressão tornando-se ainda mais sombria.

Dante interveio imediatamente:

— Mãe, já está tarde. Vou pedir para o motorista levá-la para casa. Quanto à questão da prova, deixarei isso entre mim e ela.

Embora contrariada, Luna não teve escolha a não ser concordar. No entanto, antes de sair, ela lançou um olhar afiado na minha direção, deixando claro seu descontentamento.

Quando ficamos sozinhos, Dante sentou-se no sofá, cruzando as pernas. Ele começou a desabotoar os punhos da camisa com movimentos lentos e precisos, enrolando as mangas até revelar parte de seus braços musculosos.

As mãos dele eram longas e elegantes, com articulações bem definidas. Até mesmo os músculos acima do cotovelo formavam um arco perfeito. Eram mãos que pertenciam a um cirurgião, delicadas e habilidosas, mas, naquele momento, me davam a sensação de algo prestes a explodir.

Depois de um longo silêncio, quando percebeu que eu não dizia nada, ele levantou a cabeça lentamente. A luz iluminava seus traços fortes, dando-lhe uma aparência ainda mais imponente. Mas seus olhos haviam mudado. Agora, eles carregavam uma frieza cortante.

— Está com tanta pressa para ir ao Hospital Dona Presidente? — Ele perguntou, com um tom gelado.

— E você está com tanta pressa para que eu não vá? — Retruquei, minha voz carregada de ironia.

Claro, fazia sentido. O Hospital Dona Presidente era o território de Dante. Se eu conseguisse a vaga, eventualmente seria impossível para ele manter a aparência de solteiro.

Afinal, Dr. Dante agora tinha uma "queridinha".

Pensando nisso, acrescentei:

— Mas não se preocupe, Dr. Dante. Se nos encontrarmos no hospital, farei como sempre: fingirei que não o conheço.

Essa atuação, afinal, era algo que eu já havia dominado com perfeição.

— Oh? Está com tanta pressa assim? — Ele zombou, enquanto seus olhos me analisavam de cima a baixo. — Você realmente está apenas usando a família Lima como um trampolim?
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