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Capítulo 3

Author: Grão de Noz
Às nove da manhã, o telefone de Maria tocou.

— Malu, estou te esperando na entrada do elevador do estacionamento. Pode descer. — Disse Eduardo.

Ela pegou as oferendas que já havia preparado e entrou no carro dele.

A avó de Maria tinha falecido quando ela estava no segundo ano da faculdade. Inicialmente, ela queria enterrá-la na sua cidade natal. Mas Eduardo comprou um terreno no cemitério mais caro da Cidade N. Ele disse que no futuro, os dois iam morar juntos na Cidade N, e a sua avó ficaria sozinha na cidade natal. Sob sua persuasão, Maria concordou em sepultar a avó ali.

Mas agora, ela estava prestes a partir para sempre, sem nunca mais voltar. No fim, a avó continuava sozinha, enterrada na Cidade N. Ela nunca deveria ter acreditado cegamente nas promessas de Eduardo.

Sentada no carro, as lágrimas dela começaram a cair incontrolavelmente.

Eduardo, aflito, encostou o carro e a puxou para os braços dele.

— Malu, querida, não chore. Se sua avó te visse assim, ela também não ficaria em paz lá em cima. — Ele tentou consolá-la.

Naquele momento, Maria só conseguia pensar na traição dele. Mesmo assim, ele ainda tinha a cara de fingir ser um homem apaixonado diante dela.

Fechando os olhos com força, ela se afastou de seus braços.

— Você tem razão. Eu não posso deixar minha avó triste. Vamos. — Com a voz rouca, respondeu.

— Malu, aconteceu alguma outra coisa? — Ele insistiu, preocupado. — Sua avó já se foi há muito tempo. Por que você está tão abalada hoje?

— Não. — Ela balançou a cabeça. — É que de repente, senti muita falta dela.

Ele perguntou mais algumas vezes, mas não obteve resposta. Então, com a expressão carregada, ele voltou a dirigir.

— Malu, não chora mais, está bem? Se não, quando encontrarmos a sua avó, eu vou contar para ela que você não anda se comportando. Ontem seu estômago estava ruim, e hoje já está chorando desse jeito.

Ela baixou os olhos e não respondeu.

Chegando ao cemitério, Maria desceu com as duas sacolas de oferendas.

Eduardo estendeu a mão para ajudar, mas ela desviou.

— Eu quero entregar para a minha avó pessoalmente. — Disse.

Subiram as escadas juntos.

Quando ela viu o sorriso familiar no retrato do túmulo, uma onda de tristeza a envolveu. Ajoelhou-se, passando a mão pela lápide. Eduardo também se ajoelhou ao lado.

— Vovó, fique tranquila. Eu vou cuidar bem da Malu, e serei o apoio dela por toda a vida. — Disse ele.

Maria não conseguia entender como ele ainda tinha coragem de falar esse tipo de coisa diante da lápide da avó dela. Ela tirou da sacola um par de cordões com nós vermelhos que havia tecido com tanto cuidado e estava prestes a colocá-los diante da lápide quando Eduardo a segurou.

— Malu, esses não foram os cordões handfasting que você fez para nós dois? — Perguntou.

— Sim. — Ela respondeu calmamente. — Eu quero dar para minha avó, para que ela também fique feliz por nós.

— Mas você disse que nós dois íamos trocar esses nós na cerimônia do nosso casamento. — Ele franziu a sobrancelha.

— Eu faço outros dois novos. — Respondeu sem hesitar.

Ele não teve escolha a não ser soltá-la, observando-a colocar ali os nós que levaram um ano inteiro para serem tecidos. Um aperto inexplicável tomou conta do coração dele.

— Malu, você está...

Antes que pudesse terminar, uma voz alegre soou atrás deles:

— Eduardo!

Os dois se viraram. À pouca distância, estava Jordana. Cabelos soltos, vestido branco, aparência frágil e delicada.

— O que você está fazendo aqui? — Ele franziu a sobrancelha, caminhando até ela:

Maria se esforçou para ignorá-los, pegando da sacola uma pequena escultura em pedra de uma casinha, tal como a sua na sua cidade natal, algo que preparou especialmente para aquele dia.

Em silêncio, pensou consigo mesma: "Vovó, logo eu vou embora. Hoje deixo esta casinha da nossa terra natal com você, para que se lembre de casa..."

No momento em que ergueu a mão para colocar a escultura diante da lápide, alguém a arrancou de sua mão.

Era Jordana. Segurando a casinha, ela deixou as lágrimas caírem.

— Srta. Maria, essa casa parece tanto com a dos meus avós quando eu era pequena. Você poderia me dar de presente? — Perguntou.

— Não. — Respondeu Maria de imediato. — Eu mesma fiz essa escultura para minha avó. Por favor, me devolva.

Ela estendeu a mão, exigindo de volta. Mas Jordana apertou o objeto contra o peito e, com voz suplicante, virou-se para Eduardo.

— Eduardo, você sabe que quando meus avós faleceram, sempre pensavam na casa da cidade natal deles. Parece tanto com essa casinha... pode pedir para a Srta. Maria me dar, por favor?

Ele hesitou apenas por um instante, antes de se virar para Maria:

— Malu, dá para ela. Depois você faz outra para sua avó, está bem?

Um arrepio percorreu o corpo dela, como se tivesse sido jogada em um abismo.

Quando estava aprendendo a esculpir em pedra, ela cortou os dedos tantas vezes que ficaram em carne viva. Eduardo sofria ao vê-la, dizia que suas mãos existiam para salvar vidas, não para serem marcadas por cortes.

Mesmo assim, ele permitiu que ela fizesse apenas uma escultura, desde que prometesse nunca mais esculpir. E agora, ele queria que ela desse justamente aquela, feita com o seu próprio esforço e sangue, para Jordana.

— Isso é para minha avó. — Murmurou Maria, firme.

— Ela está com câncer, não tem muito tempo de vida. — Eduardo se aproximou, inclinando-se para o ouvido dela. — Malu, dá para ela, por favor?

— E se eu disser que não? — Retrucou.

O silêncio tomou conta. O ar parecia congelar.

— Eduardo... — Jordana levou a mão ao peito, chorando de forma frágil.

— Eu concordo. — Sem pensar duas vezes, ele disse. — Jordana, você pode ficar com a escultura.

Os olhos dela brilharam. Rapidamente, ela se virou e correu até o túmulo dos avós para colocar a casinha diante da lápide.

Maria olhou para o sorriso da avó gravado na pedra e forçou um sorriso dolorido, os olhos marejados.

Eduardo ainda disse algo ao lado, mas ela já não conseguia escutar mais nada. Só conseguia pensar em todo o esforço que teve estudando escultura, rabiscando dezenas de rascunhos, falhando inúmeras vezes, até finalmente conseguir terminar aquele presente especial para a avó.

E, no fim, ele entregou assim, com tanta naturalidade, para outra mulher.

Naquele instante, ela percebeu que se até isso ele tinha coragem de dar a Jordana, havia algo que ele não fosse dar?

Avó, a senhora e eu, nós duas estávamos erradas em relação a ele.

Mas, felizmente, ainda há tempo de mudar. Eu, Maria, não quero mais esse homem.
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