Meu Amor, Teu Desdém.

Ao suspirar essas palavras, as lembranças e os detalhes do passado entre os dois vieram à tona. Eduardo era o jovem prodígio da poderosa família Marinho, a família mais rica da Cidade N. E Maria, não passava de uma camponesa de uma aldeia das montanhas.

No verão em que tinha dezessete anos, Maria encontrou Eduardo caído de um penhasco. Ela nunca havia visto alguém tão belo e refinado. Ela o resgatou, levou-o para casa e cuidou dele com todo o carinho do mundo.

Ao acordar, Eduardo estava cego e tinha perdido a memória. Por isso, ele acabou por ficar na casa de Maria por mais de um ano, até recuperar a memória e, com a ajuda dela, conseguir retomar o contato com a família Marinho.

Foi então que Eduardo se declarou pedindo que ela fosse com ele para Cidade N, e prometeu ficar com ela por toda a vida. Profundamente emocionada, Maria não hesitou em segui-lo.

Mais tarde, ela descobriu que a queda de Eduardo não havia sido um acidente. Na época, ele estava com a namorada, Jordana, em uma trilha. Ele caiu ao tentar salvá-la. Jordana, porém, não contou o ocorrido a ninguém. Voltou correndo para casa, arrumou as malas e partiu para o exterior.

Quando retornaram à Cidade N, Eduardo ainda estava cego. A família Marinho já se preparava para escolher outro herdeiro, e Maria temia que ele não suportasse a pressão.

— Enquanto eu tiver a Malu, eu tenho tudo o que eu preciso. — Ele segurou a mão com firmeza e sorriu.

E foi por causa dessa frase que Maria dedicou-se aos estudos sem descanso. Chegou até a se oferecer como cobaia em testes de medicamentos, tudo para ajudá-lo a recuperar a visão.

Até, finalmente, conseguir curar os olhos de Eduardo.

No instante em que voltou a enxergar, ele a abraçou forte e disse que jamais a decepcionaria.

Com a visão recuperada, Eduardo reassumiu sua posição de herdeiro da família mais rica da Cidade N, a família Marinho.

Todos diziam que, por ser nobre, ele jamais permaneceria ao lado de uma camponesa do sotaque puxado. Mas Eduardo tratava Maria como um tesouro, sempre a protegendo. Ele enfrentava qualquer um que ousasse falar mal dela em sua frente.

Suas palavras e atitudes, deixou claro para todos que Maria era o amor da vida dele. E, com o tempo, todos passaram a acreditar nisso. Maria mais ainda.

Até três meses atrás, quando Jordana retornou.

Ela adicionou Maria como amiga nas redes sociais e começou a enviar mensagens, relembrando o quanto Eduardo havia sido bom para ela no passado.

Maria não se importava. Afinal, tudo isso já tinha ficado para trás. Hoje, ele a tratava ainda melhor.

Mas agora, bastou um telefonema para Eduardo a abandonar sem pensar duas vezes para correr até Jordana. Ele nem sequer cogitou ligar para o hospital e confirmar se o diagnóstico de câncer era real.

Três dias antes, quando Jordana mandou aquela mensagem para Maria, ela até mostrou para Eduardo. Na época, ele disse ser apenas uma provocação, para que ela não se importasse. E de fato, ela não se importou.

Mas ele?

Encolhida em um canto, Maria abraçou as próprias pernas, como se aguardasse por uma sentença.

Depois de um tempo indeterminado, o celular vibrou novamente por duas vezes. Um número desconhecido tinha enviado uma mensagem de vídeo.

Com as mãos trêmulas, ela tocou para abrir.

— Jojo... — A voz familiar de Eduardo ecoou, carregada de emoção.

— Eduardo, eu estou morrendo... — Jordana caiu em seus braços, erguendo o rosto para beijá-lo. — Por favor, não me rejeite.

Ele fechou os olhos e aceitou o beijo.

A tela escureceu, mas as respirações ofegantes dos dois ainda podiam ser ouvidas.

Maria não tinha como se enganar, ela não ia admitir esse erro. Aquela voz já estava gravada em seus ossos.

Ela finalmente perdeu todas as esperanças. Fechou os olhos, e as lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto.

Ela pegou o celular, e enviou uma mensagem:

[Mestre, eu aceito fazer o intercâmbio com você.]

Eduardo havia traído a sua promessa.

E Maria, não queria mais nada com ele.