CAPÍTULO 1

"Srta. Inês, seu marido te traiu."

Inês Sanches achou que fosse só uma brincadeira de mau gosto, mas, em seguida, uma enxurrada de fotos inundou o celular.

Nas imagens, Miguel Azevedo e Lígia Sanches apareciam íntimos, trocando olhares cheios de desejo.

Eles se beijavam dentro do carro que ela comprou com empréstimo, se abraçavam no alto da roda-gigante e andavam de mãos dadas aos pés do Monte Fuji, lugar que ela sempre quis conhecer.

O coração de Inês disparou.

Será que Miguel realmente a estava traindo?

Mas ao lembrar de tudo o que viveram nesses dez anos de relacionamento, Inês rapidamente conteve a suspeita que começava a crescer dentro dela.

Com a tecnologia de hoje, criar algumas fotos falsas de traição era coisa fácil.

Além disso, hoje era o nono aniversário do Grupo Azevedo, podia muito bem ser alguém tentando sabotar o evento.

Inês decidiu não se deixar levar. Entrou no carro e voltou para o trabalho.

Precisava chegar antes das três da tarde para revisar o local da celebração e garantir que a festa daquela noite fosse perfeita.

O trânsito estava livre, mas sua mente, não. O pensamento voltava, insistente, às fotos.

Meia hora depois, Inês chegou ao Grupo Azevedo e seguiu direto para o escritório de Miguel.

Mas, assim que estendeu a mão para empurrar a porta, ouviu a respiração baixa de uma mulher lá dentro, logo seguida pelo fôlego quente de um homem.

— Miguel... você é tão bom... meu corpo está todo mole... eu sei que é errado dividir o cunhado com a irmã, mas eu amo demais o corpo do meu cunhado...

— E se ela descobrir que o bebê na barriga dela não é o filho de vocês, mas o meu com você? Será que ela não vai querer me matar?

Inês cambaleou, quase caindo.

A mão foi instintivamente para a barriga, o bebê que ela gerava com tanto esforço era na verdade, o filho do marido com a própria irmã?!

A conversa lá dentro continuava, cruel como facas.

— Ela me ama. — A voz de Miguel soou firme, cheia de desdém. — Se ela ousar fazer escândalo, eu me divorcio e faço ela se ajoelhar pra te pedir perdão.

— Mas isso não vai acontecer. Você não é medrosa? Quando Inês der à luz o bebê por você, eu compro o falido Grupo Sanches e dou pra você de presente de noivado. Naquele dia, só você será digna do nome da família. Eles nem o direito de se ajoelhar aos seus pés vão ter.

Aquela voz familiar, como um sussurro do demônio, explodia nos ouvidos de Inês.

Ela lembrou da noite do casamento, um tufão passava, a chuva caía em torrentes.

Lígia chorava dizendo que torceu o tornozelo e não conseguia voltar pra casa sozinha.

Miguel saiu para buscá-la depois da ligação e acabou sofrendo um acidente no caminho.

Mesmo inconsciente, ao despertar, a primeira coisa que perguntou foi se Lígia estava bem.

Na época, Inês acreditou que era apenas compaixão... agora sabia que, na verdade, o amor de Miguel sempre foi por Lígia.

Os sons indecentes lá dentro ficavam cada vez mais altos.

Mesmo sem abrir a porta, Inês podia imaginar o quanto estavam empolgados.

Cada palavra daqueles dois era como um trovão a rasgar o céu limpo, despedaçando toda a confiança e o amor que ela ainda guardava por aquele casamento.

Com o poder atual do Grupo Azevedo, destruir o Grupo Sanches era tão fácil quanto esmagar uma formiga.

Não era de se admirar que a empresa da família estivesse afundando.

Inês soltou uma risada amarga.

Dez anos de amor, três de casamento.

Ela acreditou em Miguel, acreditou no que tinham juntos.

E agora, não só se perdeu nesse casamento, como arrastou a própria família junto.

Os gemidos lá dentro eram como gasolina sendo jogada sobre o fogo em seu peito.

Ela queria incendiar aquele escritório.

Mas a razão ainda a segurava.

E havia o bebê.

O olhar de Inês ficou decidido.

Ela nunca daria à luz o filho de um traidor e de uma vadia.

Ela pegou o celular e estava prestes a agendar o aborto, quando a tela se acendeu de repente.

Era aquele mesmo número sem nome, o mesmo que havia mandado todas as fotos.

Tomada pela raiva, Inês estava prestes a desligar, mas tocou no botão errado e atendeu.

Uma voz masculina, baixa e rouca, ecoou no alto-falante:

— Srta. Inês, o bebê que você carrega... na verdade é meu.