CAPÍTULO 2

Café.

Inês achou que tinha enlouquecido por realmente ter vindo até ali.

E, ao ver o homem sentado à sua frente, teve certeza de que o mundo também havia enlouquecido.

O homem que controlava o coração econômico de Cidade H, figurava entre os primeiros da revista Finanças Semanais e havia sido eleito, por cinco anos seguidos, o homem com quem as mulheres mais sonham em casar, o presidente do Grupo Moreira, Duarte Moreira, poderia mesmo ser o pai do bebê em sua barriga?!

Duarte, por sua vez, parecia muito mais calmo.

E a primeira frase que saiu de sua boca foi uma bomba.

— Nós nunca dormimos juntos, Srta. Inês. Não há motivo para tanta apreensão.

O rosto dela ficou completamente rígido.

— Sr. Duarte, por que me chamou aqui?

Ele tirou um envelope com o nome de um hospital impresso e o empurrou para ela, prendendo-o sob os dedos.

— Seu marido, Miguel, traiu você com sua meia-irmã, Lígia. Um mês atrás, eles pretendiam injetar o esperma dele no seu útero, para que você servisse de barriga de aluguel.

— Mas, por erro médico, foi o meu material genético que acabou sendo injetado em você.

Inês virou as páginas dos documentos nas mãos.

Mesmo aliviada por saber que não havia se tornado a mãe de aluguel do marido e da irmã, o coração não se acalmou nem um pouco.

Respirou fundo e voltou a um semblante sereno.

— Sr. Duarte, por que não vamos direto ao ponto? O que exatamente o senhor quer comigo?

Um leve traço de admiração passou pelo olhar dele.

— Imagino que, diante da traição e da mentira do seu marido, a Srta. Inês vá optar pelo divórcio. E eu, coincidentemente, preciso de uma esposa e de um filho para apresentar à minha avó.

— Se aceitar ser minha esposa contratual e tiver meu filho, estou disposto a pagar cem milhões e salvar o Grupo Sanches, ajudando você a dar a volta por cima.

Inês soltou uma risada leve, com um toque de ironia.

— Engraçado... vocês todos são bem criativos. Casar com você? Nem pensar...

— Srta. Inês. — A voz de Duarte soou firme e grave, enquanto os dedos tamborilavam de leve na mesa. — Antes de decidir, pense se a sua coragem sozinha é suficiente para suportar o que ainda pode perder.

Sim... ela já estava cercada por todos os lados.

Se perdesse mais alguma coisa, talvez não aguentasse de vez.

De olhos semicerrados, Inês repassou mentalmente tudo o que havia acontecido, e por fim, tomou uma decisão.

— Daqui a um mês, registramos o casamento.

— Perfeito.

Parecia que ele já esperava por essa resposta.

— Daqui a um mês, no cartório, não falte, minha noiva.

Apesar da calma no tom, Inês sentiu algo de íntimo naquelas palavras.

Mas não se deteve nisso, levantou-se e foi embora.

Nem percebeu o olhar que Duarte manteve sobre ela até o último instante.

Nos dias seguintes, Inês preparou rapidamente os papéis do divórcio e sua carta de demissão.

Com os documentos nos braços, bateu à porta do escritório.

Assim que empurrou, viu Miguel se afastar de Lígia às pressas, o zíper da calça social ainda meio aberto.

— Que urgência é essa pra entrar sem bater? Não se esqueça de que está no trabalho. Aqui existem regras.

Ignorando o tom de reprovação dele, Inês caminhou até a mesa, sob os olhares do casal, e largou todos os documentos ali.

— Documentos urgentes. Você precisa assinar antes pra liberar o resto do processo.

Pelo canto do olho, viu Lígia ajeitar a roupa, propositalmente deixando à mostra as marcas vermelhas no pescoço, o sorriso nos lábios era puro desafio.

Aqueles dois ainda tinham fôlego pra isso... não temiam morrer de tanto vigor, aparentemente.

Miguel estava prestes a revisar os documentos um por um, enquanto o olhar de Inês alternava entre ele e Lígia:

— Eu não tinha reparado... o que minha irmã está fazendo aqui?

O gesto dele congelou. E, talvez pra disfarçar, pegou a caneta e assinou todos os documentos de uma vez, sem ler.

— Ela tem tido pesadelos. Eu faço fisioterapia, então entendo um pouco de relaxamento corporal. Estava apenas conversando sobre isso.

Antes mesmo de terminar a frase, já havia assinado tudo.

Inês conteve um riso amargo, pegou os papéis de volta sem alterar a expressão.

— Então continuem. Eu tenho trabalho a fazer.

No tempo da escola, Inês costumava ajudar Miguel, o presidente do grêmio estudantil, organizava eventos, escrevia planejamentos e relatórios.

Agora, na empresa, ela também se tornara a funcionária mais dedicada e competente aos olhos de todos, a secretária mais confiável do grupo.

Normalmente, quando entregava documentos a Miguel, ele apenas dava uma olhada rápida antes de assinar.

Mas, naquele dia, nem se deu ao trabalho de ler.

A demissão da secretária-chefe exigia a assinatura dele.

O divórcio também.

Olhando para as duas pilhas de papéis já assinadas, Inês sentiu uma mistura amarga de emoções.

Todos aqueles anos de dedicação... jogados fora, como se nada tivessem valido.

Foi até o departamento de RH entregar a carta de demissão, junto com o pedido oficial de desligamento.

O gerente do setor ficou surpreso, mas, ao ver a assinatura de Miguel, qualquer dúvida se desfez.

— Sra. Sanches, vamos abrir o processo de recrutamento para uma nova secretária-chefe. Nesse meio tempo, vamos precisar da sua ajuda.

— Um mês é o suficiente pra fazer a transição. Se não encontrarem alguém de fora, escolham alguém interno.

Inês balançou a cabeça. Conhecia bem o pessoal da empresa, sabia quem tinha capacidade e quem não tinha.

De volta à sua mesa, respirou fundo.

Sem precisar mais se prender àquela relação podre, sentiu um alívio imenso.

Mas, assim que ligou o computador, uma nova mensagem apareceu na tela.

Era um endereço.

"Noiva, venha morar aqui. Você está grávida e precisa de cuidados."

"Daqui a um mês, eu vou te ver."

Um mês, exatamente o tempo que faltava para o processo de divórcio chegar ao fim.

Esse casamento... estava definitivamente acabado.