Capítulo 4

Rafael, ao me ver assim, sorriu com os olhos semicerrados.

Ele me abraçou e se inclinou para beijar meu rosto, mas eu me esquivei.

Mesmo já tendo decidido me separar de Rafael, eu não queria fazer um escândalo na frente de todos agora.

Somos adultos, temos que manter a dignidade.

Então, inventei uma desculpa casualmente.

— Um paciente precisa de mim no hospital, preciso ir.

Rafael franziu a testa, um lampejo de desapontamento passou por seus olhos.

— Mas é seu aniversário, não pode descansar um pouco?

Como antes, toquei suas sobrancelhas, e o consolei suavemente.

— Tudo bem, e lembrei que o presente que preparei para você ainda está na gaveta do hospital.

O dia em que começamos a namorar foi no meu aniversário.

Então, Rafael e eu fizemos um acordo: trocar presentes no meu aniversário.

Todo ano, eu projetava um terno.

Este ano não foi exceção.

Antes de saber sobre a traição, eu já havia desenhado o padrão, e nos três meses seguintes, consegui terminar.

Ao ver minha insistência, Rafael suspirou, e uma expressão de carinho apareceu em seu rosto.

— Não consigo te convencer do contrário. Então assopre as velas antes de ir, fiz um bolo de sorvete especialmente para você, vai derreter logo.

Eu balancei a cabeça.

Rafael me levou sorrindo até o bolo, e eu assoprei as velas.

Então ele disse em voz alta:

— Eu e Letícia, queremos ficar juntos para sempre, quero passar a vida inteira com ela!

Ao ouvir isso, as pessoas ao redor começaram a aplaudir e brincar.

— Rafael, você está demais! Se exibindo assim na frente de todo mundo.

— O Rafael e a Letícia namoram há quase dez anos, não é? Ainda são tão doces, morro de inveja.

Ao ouvir isso, não pude deixar de me perder em pensamentos.

Foram onze anos.

Este ano, completamos onze anos, eu e Rafael.

Mas ele mudou de ideia.

Controlei minhas emoções, olhei para Rafael com uma expressão indiferente e soltei a mão que ele segurava.

— Então vou buscar minhas coisas, não voltarei muito tarde. Fique com seus amigos, divirtam-se.

Virei-me e saí.

Depois de resolver o assunto do paciente no hospital, levei o terno de volta ao clube.

Este era o nosso décimo primeiro ano, com um começo e um fim.

Acho que este final, por último, também era completo.

Mas assim que subi, vi Gabriela abrir a porta do camarote e entrar.

Segurando a sacola, senti meu coração tomado por um misto de emoções.

Rafael, estava com tanta pressa assim?

Em tão pouco tempo, ele precisava chamar Gabriela para acompanhá-lo.

A dor no meu coração era avassaladora, quase me sufocando.

Encostei-me na parede, com os olhos vermelhos de angústia.

Por fim, decidi ligar para minha melhor amiga.

— Sofia Costa, eu concordo em me juntar ao instituto de pesquisa, como você disse.

Meu hospital tinha um projeto confidencial recente para o noroeste, que exigia a seleção de médicos altamente qualificados para participar de pesquisas e experimentos.

E o conteúdo do projeto era sobre tumores cerebrais.

Naquela época, meu pai havia falecido devido a um tumor cerebral, e minha mãe, por não conseguir aceitar, caiu em depressão e morreu pouco depois.

Então, depois de estudar medicina, meu sonho era vencer os tumores cerebrais.

No entanto, ao entrar para o projeto confidencial, não se podia deixar o instituto de pesquisa facilmente.

De poucos anos a mais de dez anos.

Pensando em ficar tanto tempo longe de Rafael, hesitei.

Sofia é minha colega, ela também é uma das participantes deste projeto. Ao saber da minha dúvida, ficou furiosa e me chamou de "cabeça de vento apaixonada".

No entanto, agora que eu concordei de repente, ela achou estranho.

— Você está falando sério? Você não consegue viver sem seu Rafael?

Eu curvei os lábios.

— Eu entendi. Uma pessoa não deveria viver para si mesma nesta vida?

Eu não queria contar a Sofia sobre a traição de Rafael, com o temperamento dela, sabe-se lá o que ela faria.

Desliguei o telefone, encostei-me na parede, tentando acalmar minhas emoções.