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Capítulo 5

Author: Doce Felina
— Tem certeza? — Ícaro me olhou com frieza, avaliando cada gesto meu.

Antes que eu pudesse responder, Júlia se adiantou, parou ao lado do carro do Ícaro, lançou um olhar rápido pros meus pés e falou baixinho:

— Qualquer reclamação, resolve depois, não faz isso na frente de todo mundo. Quer colocar o Sr. Ícaro numa saia justa?

— Não foi essa minha intenção. — Minha voz foi sumindo, difícil até de dizer. — Eu só não quero… Acompanhar…

Eu mordi o lábio, sentindo a vergonha me consumir. Pra ele, já tinha perdido a graça tão rápido? Homem é mesmo um bicho frio.

Júlia não perdeu a chance de me atacar, jogando cada palavra como se fosse um veneno entre mim e Ícaro.

— Você diz que não, mas é isso que tá fazendo agora. Para de drama, não complica a vida do Sr. Ícaro.

— Eu...

No fim das contas, eu é que virei a problemática, a egoísta que não enxergava o todo, quando na verdade era só uma peça usada no jogo deles.

Quando eu hesitei, vi o sorriso vitorioso e debochado de Júlia no canto da boca. Ela sempre quis me ver longe do Ícaro, e agora mostrava que ia conseguir.

Todas nós éramos mulheres, por que ela precisava me humilhar desse jeito?

Naquele momento, eu entendi: eu era ingênua. Sempre quis provar que era diferente dela — ela se entregava por escolha, eu só ficava com Ícaro porque ele queria. Eu achava que isso fazia de nós duas pessoas distintas.

Eu só queria sumir dali, então declarei, com a voz contida:

— Tenho certeza!

Quando me virei para sair, ele jogou a verdade na minha cara, sem dó.

— E a sua família, vai deixar pra lá?

Eu parei na hora, como se meus pés pesassem toneladas.

Era verdade… E o Tiago, ia abandonar a promoção dele? E as dívidas dos meus pais, quem ia pagar?

Até Júlia percebeu minha hesitação. Ela sorriu com desprezo, empurrou minhas costas e enfiou o contrato no meu peito:

— Anda logo, o Davi já tá perdendo a paciência.

Olhei de lado e vi meu reflexo no vidro. Tudo que eu usava, até a lingerie, tinha sido escolhido pelo Ícaro. Naquele instante, finalmente entendi o que o Tiago sentiu quando me entregou ao Ícaro.

Eu era só um pedaço de carne no açougue, pronta pra ser cortada.

Se fosse só pelo Tiago, eu teria ido embora sem olhar pra trás. Mas a dívida dos meus pais era uma montanha impossível de escalar. O orgulho já não servia de nada.

No momento em que dei o primeiro passo em direção ao Bentley, deixei meu orgulho pra trás.

O motorista do Davi desceu apressado para abrir a porta pra mim. Antes de entrar, ainda olhei pra trás, buscando um olhar de compaixão do Ícaro. Tudo o que vi foi o vidro do carro subindo devagar, me ignorando por completo.

Júlia, por outro lado, me deu um sorriso vitorioso antes de entrar no carro.

Eu realmente não tinha direito de recusar. Só me restava fingir que não me importava com o desprezo do Ícaro ou com a arrogância da Júlia.

Assim que sentei no banco do carro, Davi passou a mão grossa pela minha perna. Eu me encolhi, virei o rosto para a janela.

Davi se aproximou, apertou meus ombros finos e falou num tom "carinhoso":

— Yasmin, você já conhecia Nova Candeia?

Eu balancei a cabeça.

— Nunca vim aqui.

— Ótimo, então. Vou aproveitar esses dias pra te mostrar a cidade. — Ele se aproximou, cheirou meu cabelo e murmurou com a voz rouca. — Você é tão cheirosa.

Senti um nojo tão grande que quase vomitei. Tapei a boca, engolindo o enjoo.

Davi percebeu meu desconforto, mas só ficou mais animado. Colou a boca quase no meu ouvido, falou bobagens que me fizeram corar de raiva. Eu quis dar um tapa nele, mas sabia que não podia.

Só de pensar no que vinha pela frente, eu fiquei tensa, os dedos se fecharam com força nas pernas. O nariz ardeu, uma vontade de chorar quase me venceu.

Eu respirei fundo, segurei as lágrimas.

O carro logo parou na frente do hotel. Eu saí, cada passo ao lado do Davi era um peso, mas eu segui.

Cada metro no saguão do hotel foi dado por mim, mas nenhum deles foi escolha minha.

O que eu não vi foi que, logo atrás, um carro preto parou discretamente na porta do hotel.

Quando eu já ia entrar no elevador, ouvi uma voz suave me chamar pelas costas.

— Davi?

Davi parou na hora, ficou todo travado, e eu também parei logo atrás dele.

Mesmo sem ver o rosto, só pela voz dava pra notar que a mulher era elegante e cheia de classe.

Eu virei o rosto e vi que Davi ficou sem graça, baixou a voz pra me dizer:

— Fala que você veio buscar o contrato pro Sr. Ícaro.

Eu entendi na hora: era a esposa dele.

— Pode deixar.

Davi soltou a mão da minha cintura e se virou, mudando totalmente a expressão. Ele abriu um sorriso gentil, caminhando até ela.

— Amor, que coincidência te encontrar aqui!

Como eu imaginava, a esposa do Davi, Amália, era uma mulher de postura impecável, elegante, já com certa idade mas ainda linda e imponente.

Amália sorriu com doçura, ajeitou naturalmente a gola do paletó dele enquanto dizia:

— Vim passear um pouco com as amigas, nem imaginava que ia topar com vocês.

Só com esse “vocês”, ela já me colocou na conversa.

Davi logo adotou um tom profissional e me apresentou:

— Amália, essa é a Yasmin, assistente do presidente da SkyLança.

Eu estendi a mão, mantendo a compostura:

— Prazer, Sra. Siqueira. O nosso presidente teve um imprevisto e pediu que eu trouxesse o contrato para o Sr. Davi assinar, olha só.

Eu tirei o contrato da bolsa e entreguei.

Davi se surpreendeu, não esperava que eu fosse agir tão rápido. Mesmo contrariado, ele pegou a caneta, assinou com pressa e me devolveu o contrato.

— Yasmin. — Davi disse, com aquele tom cheio de segundas intenções. — Seu chefe tem mesmo bom gosto pra escolher assistente.

Eu guardei o contrato sem perder a pose:

— Sr. Davi, agradeço, mas com uma esposa tão elegante ao seu lado, não é de se admirar que seus negócios vão tão bem.

Vi nos olhos de Amália que ela passou a me olhar diferente, quase com aprovação. Ela confirmou com a cabeça e comentou:

— Além de bonita, você é educada. Continue assim, que vai ter um futuro brilhante.

Eu agradeci, inclinando levemente a cabeça:

— Muito obrigada, Sra. Siqueira. Que suas palavras tragam sorte pra mim.

Agora era minha deixa de sair dali.

— Sr. Davi, Sra. Siqueira, o contrato já está assinado, não vou atrapalhar mais vocês. Com licença.

Davi ficou paralisado, não esperava que eu fosse embora tão rápido, mas com Amália ali, não podia me segurar.

Ele ainda disse, com um olhar carregado de segredos:

— Yasmin, quando encontrar o Sr. Ícaro, manda um abraço meu.

— Sim, senhor, pode deixar. Até logo, Sra. Siqueira.

Amália sorriu:

— Até logo.

Eu me virei e praticamente voei dali, desejando ter asas pra sumir mais rápido.

Assim que saí do saguão, desci as escadas correndo, parei o primeiro táxi que passou e fui embora.

Quando me sentei no banco do carro, senti um alívio enorme, como se o peso do mundo tivesse sumido dos meus ombros.

Peguei o contrato na bolsa, conferi várias vezes se estava tudo certo. De repente, não consegui segurar o riso.

— Hahaha... — Só de imaginar a cara do Davi sendo flagrado pela mulher, já dava vontade de gargalhar.

Mas no fundo, eu sabia: se não fosse por Amália, eu não teria escapado tão fácil.

Quando voltei ao hotel, abri a porta do meu quarto e levei um susto ao encontrar Ícaro sentado no sofá, com um cigarro entre os dedos. O olhar dele era frio, como se nada tivesse acontecido.

Ele perguntou:

— Terminou tão rápido assim?

Fechei a porta, sentindo a raiva subir.

— Pelo seu tom, parece até que ficou decepcionado.

Coloquei o contrato sobre a mesa e falei, provocando:

— O que você pediu está aqui. Agora, se não se importa, pode sair. Quero tomar um banho.

Ícaro levantou devagar, veio até mim, segurou meu queixo para que eu o encarasse e murmurou, num tom brincalhão:

— Você me surpreendeu. Achei que fosse mais fraca.

Eu desviei do toque dele e fui direto pro banheiro.

Quando estava prestes a fechar a porta, ele entrou junto, e de repente me pegou no colo e me sentou na pia.

Eu fiquei furiosa, com os olhos marejados:

— Acabei de sair de perto de outro homem, não sente nojo de mim?

Ele começou a abrir a camisa, ignorando minha pergunta, segurou meu rosto e me beijou à força.

— Eu sei que vocês não subiram pro quarto. — Ele sussurrou, rouco. — Meu carro ficou o tempo todo lá fora.

Aquilo me deixou mais irritada ainda. Bati com força no peito dele, mas o beijo só ficou mais intenso.

O vapor tomou conta do banheiro, as mãos dele deixaram marcas no vidro, e eu chorei no colo dele, o nariz vermelho, enquanto ele me apertava com ainda mais força.
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