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Capítulo 0004

Author: Lina dos Santos Coelho
Rogério quebrou a promessa. Ele não voltou para casa e, por vários dias seguidos, simplesmente não deu sinal de vida.

Só fiquei sabendo que ele havia viajado a trabalho de novo quando, em uma ligação com Sofia, ela comentou casualmente que ele tinha partido acompanhado de Renata outra vez, o que me deu um pouco mais de tempo para arrumar minhas coisas.

No calendário, restavam apenas sete dias até minha mudança para a capital.

Naquele dia, enquanto eu tentava organizar a mala que levaria, Sofia me ligou de repente, soando um tanto confusa:

— Aurora, você preencheu o endereço errado no seu pedido?

— Como é? — Perguntei, franzindo a testa.

— O vestido de noiva que você ia usar com o Rogério foi entregue na empresa, e o destinatário também está no seu nome. Ele gastou uma fortuna, hein? Parece que é da marca AND, uma peça sob medida que deve ter custado centenas de milhares de reais. Será que ele acabou com toda a poupança dele e não quer mais viver depois do casamento?

Segui direto para a empresa e, assim que abri a caixa, fiquei atônita.

O tamanho estava certo, realmente feito sob medida para mim, mas aquele gasto exorbitante não tinha nada a ver com o perfil do Rogério.

Embora a empresa tivesse obtido bons resultados ao longo desses anos, ainda não era viável fazer um investimento tão alto em um único vestido de noiva. Além disso, eu tinha quase certeza de que ele nem sequer cogitava se casar comigo.

Enquanto eu matutava sobre tudo, recebi uma ligação da minha mãe. A voz dela transbordava alegria:

— Meu amor, já recebeu o vestido de noiva? Pois é, a família Salazar está super empolgada com o casamento de você e Leon. Eu comentei que você só estaria de volta em uns quinze dias, mas eles começaram a preparar tudo com a maior urgência. Até o vestido já mandaram para você ver se gosta e se serve direitinho!

Ouvi a satisfação dela do outro lado da linha e, claramente, ela estava encantada com a atenção da família Salazar. Pressionei a sobrancelha, sentindo uma pontada de dor de cabeça.

— Mãe, foi você quem passou o endereço para eles?

— Fui eu mesma! Você trocou de empresa ou algo assim?

— Não exatamente... — Respondi, sem alternativa. — Vou te mandar outro endereço agora. No futuro, se tiver mais algum item para confirmar ou enviar, use esse novo endereço, por favor.

— Tudo bem, tudo bem! — Concordou na mesma hora, soando ainda mais radiante. — Ah, a dona Francisca me pediu para perguntar se você tem alguma exigência para o dia do casamento. Qualquer coisa que você queira, ela faz questão de providenciar.

— Eu não tenho exigência nenhuma. — Apertei os lábios, pegando fôlego. — Vocês podem organizar tudo do jeito que acharem melhor.

De repente, ouvi uma voz às minhas costas.

— Casamento? Que casamento é esse?

Meu coração quase saltou do peito, e eu encerrei a chamada.

— Você já voltou da viagem de trabalho?

— Sim. — Ele desviou o olhar, visivelmente desconfortável, e então reparou no vestido de noiva largado no sofá. Franziu a testa e tentou explicar, com a voz tensa. — Aurora, eu disse que, neste momento, não estou em condições de pensar em casamento. Será que você pode parar de me pressionar?

Fiquei em silêncio por uns instantes antes de encará-lo.

— Em que momento eu disse que você seria o noivo?

— Como assim?

— Nada demais. — Dei de ombros e, sem acrescentar explicações, fechei a caixa do vestido, pronta para ir embora.

Ele segurou meu braço, adotando um tom mais suave:

— Você está chateada comigo? Desculpe... Eu andei tão atarefado nesses dias de viagem que estou exausto. Será que pode me perdoar?

— Tá bom. — Concordei de imediato, sem pensar muito.

— Sério mesmo? — Ele questionou, ainda inseguro.

— Sério.

— Então, podemos deixar esse vestido aqui por enquanto? — Arriscou Rogério, cauteloso. — Aurora, só me dê mais um tempo. Eu prometo que vou me casar com você.

Ele parecia alguém morrendo de medo de ser forçado a cumprir logo aquela palavra, o que me fez soltar um riso quase inaudível.

— Por que você está pensando nisso? Você escutou a minha conversa ao telefone, não escutou? É para uma amiga da faculdade que vai se casar, mas errou o endereço na hora de enviar o vestido.

Assim que ouviu isso, Rogério soltou um longo suspiro aliviado e chegou a apertar meu rosto com carinho, como se quisesse pregar uma peça.

— Então você estava só me assustando?

— Se quiser pensar assim, tudo bem.

Ele conhecia muito bem as minhas três colegas de faculdade. Se ele ainda se importasse comigo, mesmo que ligeiramente, provavelmente lembraria que todas elas já tinham subido ao altar. Em cada casamento, ele me acompanhava, e naquelas ocasiões vivíamos fazendo planos para nosso futuro. Sempre repetíamos que, quando a empresa se estabilizasse, marcaríamos logo nossa cerimônia.

Porém, três anos se passaram, e ele jamais tomou a iniciativa de oficializar nada. Cheguei a pensar, por um tempo, que Rogério tivesse algum tipo de fobia de casar, até descobrir que, na verdade, o problema não era medo. Era apenas que a noiva que ele queria não era eu.

Naquele instante, Sofia bateu à porta e entrou, com uma expressão de quem não aguentava mais segurar vela, e interrompeu:

— Não quero atrapalhar vocês, mas, Aurora... Precisamos de você na entrevista para diretor do departamento de design, que vai acontecer daqui a pouco. Seu comparecimento é essencial.

Rogério pareceu confuso, com um olhar que pendeu brevemente para mim, perguntando:

— Diretor de design? É porque você não está dando conta do serviço, Aurora? Precisamos contratar alguém para te ajudar?

— Não é bem isso. — Neguei com a cabeça. — Rogério, eu me demiti.

Ele franziu o cenho de modo intenso e pareceu profundamente incomodado.

— Você se demitiu? Por que não conversou comigo antes? Aurora, estamos em um momento crucial para a captação de investimentos na empresa, e o departamento de design é o coração de tudo. Você faz ideia do impacto que pode causar se um novo diretor assumir agora?

Olhei para ele com uma sensação estranha, como se sequer o reconhecesse mais.

— E o que você quer fazer a respeito?

— Sem a minha assinatura, seu pedido de demissão não se completa. — Ele suspirou, tentando amenizar a situação. — Você não é mais uma garota impulsiva, pare com essa infantilidade e volte ao trabalho amanhã.

— Rogério, você já assinou minha demissão. — Sorri sem humor. — Se não acredita, veja com a Sofia. Ela tem uma cópia do documento.

Sem esperar qualquer resposta, peguei o vestido e segui para a saída, deixando Rogério para trás, perplexo.
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