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Capítulo 7

Author: Lillian Frost
Eu... Fui sequestrada, por isso perdi o celular... — Disse Eulália, quase sem pensar.

Hélia soltou uma risada fria, cheia de desdém:

— Sequestrada? Até isso você inventa agora? Só para arrumar uma desculpa para tirar dinheiro da família? Você não tem vergonha? Sua índole é idêntica à daquela sua mãe adotiva. Às vezes, eu nem acredito que você é minha filha de verdade.

O coração de Eulália se contraiu levemente. Toda vez que Hélia ficava irritada, ela dizia coisas desse tipo.

Eulália era a filha biológica da família Vargas, mas, antes de ser reconhecida por seus pais verdadeiros, seu nome era Célia Silveira.

Vinte e três anos atrás, Hélia, esposa do poderoso Grupo Vargas, deu à luz em uma clínica particular. No mesmo hospital, Jordana David, uma enfermeira, também deu à luz sua filha, Filomena.

Logo após o parto, Filomena foi diagnosticada com uma doença congênita. Jordana sabia que não tinha dinheiro para tratar a filha. Ainda pior, ela tinha um marido viciado em jogos, Basílio Silveira, que só trazia problemas.

No desespero de garantir um futuro melhor para Filomena, Jordana tomou uma decisão cruel. Usando sua posição no hospital, ela trocou as duas crianças. A filha de Hélia foi entregue a ela, enquanto Filomena foi levada para a família Vargas.

A partir desse momento, o destino de Eulália e Filomena mudou completamente.

Enquanto a família Vargas dava a Filomena uma vida de luxo e carinho, Jordana criou Eulália de forma fria e manipuladora, usando métodos que a deixaram emocionalmente desgastada.

Três anos atrás, tudo veio à tona. Filomena sofreu um acidente de carro e, durante o tratamento, os exames de sangue revelaram que ela não era biologicamente filha de Hélia e André Vargas. Os testes de DNA confirmaram a troca de bebês, revelando o segredo guardado por duas décadas.

A revelação foi um choque para a família Vargas. Eles estavam devastados, mas não conseguiam abandonar a filha que tinham criado e amado por tantos anos. Só depois de muita insistência da matriarca da família, Vanessa Vargas, eles finalmente concordaram em buscar Eulália.

Eulália ainda lembrava do dia em que chegou à mansão dos Vargas. Hélia a analisou de cima a baixo, com um olhar frio e cheio de julgamento.

— Suas botas sujaram meu tapete. Eu mandei fazer sob medida na Itália no mês passado. — Foi a primeira coisa que Hélia disse, franzindo a testa.

Depois, ela acrescentou com desdém:

— Que roupa é essa? É assim que Jordana te criou? Sem respeito, sem se arrumar para cumprimentar os outros? Mas, pensando bem, isso é típico de uma mulher como Jordana. O que ela saberia sobre boas maneiras ou classe? Agora que você é uma Vargas, vai aprender a se comportar.

Rian Vargas, o irmão mais velho, foi ainda mais hostil. Ele estava furioso:

— Minha irmã é a Filomena. Não reconheço essa desconhecida como parte da minha família.

André Vargas, o patriarca, manteve uma expressão séria e distante. Ele não demonstrou emoção, apenas declarou de forma fria:

— A partir de agora, você é minha filha. Quero que se dê bem com Filomena.

Filomena, por sua vez, olhou para Eulália com uma mistura de ressentimento e triunfo. Seus olhos pareciam dizer: “Viu? Mesmo sendo a filha biológica, você nunca vai ocupar o meu lugar.”

Ela ainda teve a audácia de se aproximar e dizer, em um tom teatral:

— Papai, mamãe, me desculpem. Já que Eulália voltou, acho que é melhor eu ir embora.

Hélia ficou desesperada:

— Filomena, não diga isso! O erro foi de Jordana, não seu. Você sempre será a nossa filha querida. Nunca vou deixar você sair desta casa.

O tom de voz de Hélia começou a subir novamente, mas Eulália saiu de seus pensamentos e a interrompeu com impaciência. Sua voz estava fria:

— Você tem razão. Eu não sou sua filha. Filomena é. Agora está satisfeita?

Hélia ficou furiosa, quase fora de si:

— Eulália, que atitude é essa? Não tem respeito nenhum! É por isso que sempre dizem que gratidão vale mais do que laços de sangue. Filomena é mil vezes mais atenciosa que você. Ela nunca me trataria assim!

Os olhos de Eulália ficaram levemente vermelhos, brilhando com lágrimas contidas.

— Então por que você ainda me procura? Por que não cortamos os laços de uma vez?

— Eulália! Você quer me matar de raiva? — Hélia respirou fundo, tentando se acalmar, mas estava claramente à beira de perder o controle.

Sempre que o assunto era Filomena, Eulália reagia como um porco-espinho, pronta para se defender. Mas, no fundo, Hélia sabia que Filomena não tinha culpa. Toda a tragédia vinha de Jordana, que já estava pagando por seus crimes na prisão.

Hélia mudou o tom para algo mais ameno, mas ainda firme:

— Amanhã é o aniversário de 30 anos do Grupo Vargas. Vamos organizar um grande evento na mansão. Quero que você venha com Valério. Aproveitaremos a noite para falar sobre o casamento de vocês.

Eulália sabia, desde que foi oficialmente reconhecida como filha da família Vargas, que Hélia não tinha nenhum afeto genuíno por ela. Pelo contrário, Hélia desprezava os vinte anos que Eulália passou sob os cuidados de Jordana.

Foi só depois de descobrir que Eulália namorava Valério que Hélia começou a aceitá-la um pouco mais.

— Eu e Valério terminamos. — Disse Eulália diretamente, sem rodeios.

Hélia ergueu a voz, incrédula:

— O quê? Terminaram? Eu ouvi errado ou você está confundindo as coisas? Eulália, que tipo de birra infantil é essa? Você tem ideia do que está dizendo? Nos últimos anos, a expansão do nosso império comercial só foi possível graças ao apoio do Grupo Santiago. Como parte da família, você também tem que pensar no bem maior do clã! Sem contar que Valério é o tipo de homem que toda mulher sonha em ter. Do que mais você pode reclamar?

A família Vargas era dona de uma rede de grandes shoppings em Cidade de Orion. Após Eulália ser oficialmente reconhecida como filha, a relação dela com Valério gerou frutos também nos negócios. A parceria com o Grupo Santiago permitiu que a rede de shoppings dos Vargas crescesse de 10 para 30 unidades, dominando um terço da área comercial da cidade.

Eulália manteve a expressão serena e respondeu com calma:

— Ele já fez um casamento com a Lorena. O que você quer? Que eu me rebaixe a ponto de implorar para ele me aceitar de volta sem nenhum pingo de dignidade?

Ao ouvir sobre o casamento, Hélia ficou desconfortável. Claro que ela já tinha ouvido rumores, mas, na visão dela, isso era culpa da própria Eulália. Se ela tivesse “segurado” Valério de forma mais firme, outra mulher nunca teria tido a chance de se aproximar.

Hélia sentiu um misto de frustração e irritação. Como sua filha biológica podia ser tão pouco inteligente? Tudo bem que ela não foi criada por eles, mas ainda assim... Jordana tinha feito um péssimo trabalho.

— Eu ouvi falar sobre essa “cerimônia”. Foi tudo falso, apenas uma brincadeira, uma encenação. Como mulher, precisamos saber engolir certas coisas. Case-se com Valério primeiro, depois você pode colocar Lorena no lugar dela. Mas agora, sem um título, sem um compromisso oficial, se você criar confusão, corre o risco de Valério se irritar de verdade e te abandonar de vez.

Eulália não hesitou em responder:

— O que Valério pensa ou quer já não me interessa mais. Eu não vou, de forma alguma, ter qualquer tipo de relacionamento com ele de novo.

— Não seja tola, Eulália... Alô? Eulália!

O som da chamada encerrada foi tudo o que Hélia recebeu como resposta. Olhando para o celular, ela sentiu o peito apertar de raiva.

Após alguns minutos, Hélia respirou fundo, pegou o celular novamente e discou outro número.

— Val, aqui é a Hélia.

Do outro lado da linha, a voz de Valério soou calma, mas distante.

— Sim, eu sei que Eulália tem sido difícil. Não leve para o lado pessoal, ela está com ciúmes, é só isso. Garotas fazem birra, você sabe como é. Eu só queria pedir que você fosse paciente e conversasse com ela. Se ela fez algo errado, peço desculpas em nome dela.

Hélia fez uma pausa, ajustando o tom para algo mais amigável:

— Não esqueça de vir à nossa festa de 30 anos do Grupo Vargas amanhã. Eu e seu tio queremos aproveitar para discutir os detalhes do casamento de vocês.
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