Capítulo 3

— Além disso, comparada com você, a Sueli fica bem melhor de vestido de festa.

Sueli estava de costas para ele, mas sua expressão de arrogância era impossível de ignorar.

Ainda assim, ela falou com culpa: — Se a Srta. Lemos não quiser, tudo bem, esse vestido é tão fino, não é algo para alguém simples como eu vestir…

— Que bobagem, a mulher que eu amo nunca seria alguém sem importância! Aquela Estela também depende dos pais, não tem nada de tão nobre assim.

Carlos disse isso sem a menor gentileza e entregou o vestido diretamente ao Sr. Fagner.

O Sr. Fagner manteve-se impassível, aguardando minhas ordens com a mesma postura respeitosa de sempre.

Afinal, desde os tempos do avô do avô dele, nossa Família Lemos era a maior cliente da loja.

Mas a atitude dele deixou Carlos irritado: — Você…

— Se a Srta. Silveira gosta, pode deixar com ela.

Eu o interrompi.

Carlos finalmente relaxou um pouco.

— Já que você sabe se comportar, depois do casamento posso jantar com você uma vez por mês.

Ele falou com aquela arrogância de quem achava que estava me concedendo um grande favor.

Naquele momento, eu finalmente entendi por que, desde que ele descobriu que nossa Família Lemos era a mais importante da alta sociedade, enquanto a Família Uchoa mal entrava no top dez, seu jeito comigo mudou.

Antes, eu adorava seu espírito jovem e destemido, ele nunca julgou ninguém pelo dinheiro.

Depois disso, ele não parava de repetir "vocês, da Família Lemos", sempre lembrando que eu dependia dos meus pais, sempre me rebaixando, me desprezando, aproveitando-se do meu amor para falar o que queria.

No fundo, era pura insegurança.

Pensando nisso, de repente sorri.

— Carlos, quem te disse que é com você que eu vou me casar?

Carlos curvou os lábios num sorriso debochado.

Como se tivesse ouvido a maior piada do mundo.

— Você sempre correu atrás de mim dizendo que gostava de mim, todo ano pedia de aniversário que queria casar comigo aos vinte.

— Agora que chegou aos vinte, vai mesmo casar com outro?

Sueli, encostada no peito dele, também caçoou:

— Nem é certo, viu? Com o nome da Família Lemos, tem herdeiro do Brasil inteiro brigando para casar com ela.

— Mesmo que o mundo inteiro queira, ela só vai ser minha esposa.

Depois de dizerem isso, os dois se viraram e saíram.

Antes de atravessar a porta, Carlos ainda lembrou o Sr. Fagner: — Depois que ajustar o vestido, mande para minha casa. E aquelas abotoaduras bregas, faça quadradas e sem gravação.

O Sr. Fagner olhou as costas dele e suspirou, resignado.

— Srta. Lemos, o que deseja que eu faça…

— Se ela quer, pode dar. Assim aproveito e crio um modelo novo só para mim.

Sentei para continuar desenhando.

— Não ligue para as abotoaduras, o noivo não é ele, ele não tem autoridade para opinar.

À noite, fui ao aniversário de uma amiga.

No meio da festa, Sueli chegou atrasada, acompanhada pelo segurança de Carlos.

O segurança carregava uma sacola plástica transparente, que deixou aos meus pés.

— Srta. Lemos, estava ansiosa? Eu ia devolver seu vestido depois do concerto, mas o Carlos me segurou no carro…

— Mas a Srta. Lemos é famosa por ser generosa, não vai se incomodar, né?

Olhei para baixo e vi que o vestido, que valia três milhões, agora parecia um pano velho, todo amassado.

O tecido branco estava manchado por um líquido branco espesso, chamando atenção de longe.

As pessoas ao meu redor viram a cena, alguns ficaram indignados por mim, outros acharam graça.

— Já jogaram na cara dela e mesmo assim ela mantém a pose, deve estar muito apaixonada pelo Carlos.

— De que adianta? O Sr. Uchoa só tem olhos para a Sueli.

— A filha única da Família Lemos se rebaixando assim… aposto que logo a empresa deles vai acabar nas mãos dos Uchoa.

Desviei o olhar para não ver mais e pedi que levassem a sacola embora.

— Se a Srta. Silveira gostou, está ótimo.

Minha resposta fria fez o brilho de vitória da Sueli sumir, e ela apertou os punhos de raiva antes de ir para a última mesa, a que era reservada para ela.