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Quando o Amor se Cala
Quando o Amor se Cala
Autor: Ren

Capítulo 0001

Autor: Ren
— Vovô, já pensei bem e decidi sair de Auristela. — Disse Eloá, com serenidade, mas sem vacilar.

— E o casamento com o Samuel... — A voz trêmula de Adrian Albuquerque, o vovô de Samuel, soou pelo celular.

— Não vai mais acontecer. — Respondeu ela, com firmeza.

— Foi a família Albuquerque que te falhou. Esses anos todos, só te fizemos perder tempo. Vou pedir que Samuel te ofereça alguma compensação. — Disse ele, com um suspiro resignado.

Mas compensação já não importava. A dívida que tinha com a família Albuquerque estava quitada. O melhor fim era não dever, nem ser cobrada.

— Não precisa. Só peço que não diga nada a ele, por enquanto. — Disse Eloá, recusando com gentileza.

Adrian concordou.

Ela já não era mais a surda patética que os outros zombavam sem pudor. Tinha recuperado a audição. Um novo futuro se abria.

Fechou os olhos. A memória da conversa com Adrian, dias antes, voltou com nitidez.

...

— Já tomei minha decisão. Vou fazer a cirurgia de reconstrução da cadeia ossicular. — Contou Eloá, mesmo com o medo percorrendo o corpo dela. Sua voz, porém, permaneceu firme.

As palavras do médico ainda ecoavam em sua mente:

— Se a cirurgia falhar, pode afetar os nervos cerebrais e levar à morte encefálica. Srta. Eloá, a senhora está mesmo preparada? — Dissera ele, sério.

Ela sabia dos riscos. Mesmo assim, escolheu enfrentar.

Tudo porque, nas raras intimidades, Samuel sempre tirava o aparelho auditivo dela com impaciência.

E porque os amigos dele riam: como alguém como ele podia se casar com uma mulher surda?

Na época, ela pensava: se eu voltar a ouvir, talvez ele fique feliz.

Mesmo diante dos riscos, Eloá enfrentou toda a cirurgia. Quando foi levada para a sala de operação, lançou um último olhar para a tela do celular. Nenhuma mensagem.

Mas já estava acostumada ao jeito instável de Samuel... ora frio, ora caloroso.

Desta vez, porém, a sorte estava ao lado dela.

A cirurgia foi um sucesso. Cheia de alegria, Eloá esperava pelo retorno de Samuel, ansiosa para contar: reconstruíra a cadeia ossicular, agora podia ouvir como qualquer outra pessoa.

Quis fazer surpresa. Colocou novamente o aparelho auditivo e esperou. Queria que fosse Samuel a retirar isso com as próprias mãos.

Mas o que encontrou foi Samuel completamente embriagado.

Antes que pudesse reagir, ele entrou pela porta e a prensou contra o batente da entrada.

Apertou os ombros dela com força e cobriu os lábios dela com um beijo, não deu nenhuma chance de falar.

Nunca o vira tão urgente, tão dominador.

Foi levada até o sofá, enquanto os beijos dele se espalhavam pela pele dela: o pescoço, a orelha.

Logo ele mesmo retirou o aparelho auditivo, como sempre fazia.

Era um hábito antigo de Samuel. Eloá imaginava que ele apenas achava aquilo incômodo.

Enquanto o observava por cima do próprio corpo, o coração dela acelerava. Estava prestes a contar a novidade, queria ver a reação dele ao descobrir que ela podia ouvir de novo.

Mas, antes que dissesse qualquer palavra, ouviu a voz dele sussurrar:

— Mi... Mirela... — Murmurou Samuel, com a respiração pesada.

O corpo de Eloá congelou. Recém-recuperada, a audição dela estava extremamente sensível. E infelizmente, Samuel, tomado pelo desejo, não percebeu nada.

Ele não estava chamando por ela. Estava chamando por Mirela.

Todos esses anos... Ele nunca superara Mirela Antunes. Sua antiga paixão.

Agora tudo fazia sentido. Todas as vezes em que tirava o aparelho auditivo não era por incômodo — era para poder chamar outro nome.

Mirela o destruíra. Quase lhe custara a vida. Ainda assim, continuava sendo a mulher que ele não conseguia esquecer.

Ridículo. E ela? Quem era, afinal? Um capricho que ele usava quando queria e descartava quando não precisava?

Só a procurava quando dava na telha. Quando não lembrava dela, tanto fazia.

Eloá, ingênua, pensava que um dia havia conquistado um lugar no coração dele.

Mas tudo não passava de ilusão. Um amor que só existia dentro dela.

Observando Samuel adormecido, Eloá parecia estranhamente tranquila.

Foi então que, na penumbra do quarto, a tela do celular dele se acendeu.

Uma nova mensagem apareceu:

[Samuel, a Mirela voltou do exterior, divorciada. Aproveita essa chance!]

Tudo fez sentido. A mulher que ele nunca esquecera tinha voltado. Era por isso que ele estivera tão estranho naquele dia.

Eloá não hesitou. Pegou o próprio celular e fez a ligação para Adrian.

Afinal, a família Albuquerque um dia lhe estendera a mão. Adrian fora quem financiara os estudos dela. Quando pediram que cuidasse de Samuel, após o fim traumático do relacionamento com Mirela, ela não recusou.

Ainda mais porque já gostava de Samuel em segredo. Ter a chance de se aproximar era, para ela, um presente.

Quando Mirela partiu para o exterior, Samuel afundou. Mas não no álcool ou no cigarro. O jeito dele de se perder foi outro: esportes extremos.

Esqui, mergulho, paraquedismo, automobilismo, escalada. Em apenas duas semanas, ele quase perdeu a vida.

Eloá foi chamada às pressas. Recebera instruções para cuidar dele. Sem saber por onde começar, escolheu o caminho mais simples: acompanhar ele em tudo.

Samuel a ignorava, como se ela fosse invisível.

Até o dia do mergulho.

Durante uma descida, um pedaço de coral rasgou o cilindro de oxigênio dele. O perigo era real.

Eloá entregou o próprio cilindro para o salvar.

Mas o preço foi alto. A pressão da água danificou os nervos auditivos dela. Desde então, não conseguiu mais ouvir.

Samuel sobreviveu. Se recuperou, voltou a se dedicar aos negócios. E Eloá, por ter salvado a vida dele, permaneceu ao lado dele.

Seguindo a vontade do avô, ele a pediu em casamento. Chegou a prometer:

— No futuro, vou cuidar de você. Vou tentar te amar. — Prometeu ele.

Naquele momento, Eloá era pura felicidade.

Mas o ser humano é mesmo insaciável.

Antes, ela só queria ficar ao lado de Samuel. Com o tempo, começou a desejar um lugar no coração dele.

O retorno de Mirela destruiu todas as ilusões. E fez com que Eloá enxergasse a realidade. Era hora de partir.

Ainda sem espaço para a tristeza, Eloá, de mente clara, pegou o próprio celular. O que viu foi um lembrete gritante: seu perfil no Duolingo estava cheio de tarefas atrasadas.

Com os olhos marejados, começou a repetir palavras em voz baixa, tentando memorizar o vocabulário.

Mas, desta vez, havia uma diferença. Pela primeira vez, ela não precisava mais do aparelho auditivo para aprender um novo idioma.

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Último capítulo

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