Retorno à Noite Trágica: A Luta pela Verdade

— Bianca Amaral, a Natália está com dor de barriga. Já que você está de plantão, pode cobrir ela por um tempo? — Por telefone, o meu irmão Pedro Amaral perguntou. A voz calorosa me fez estremecer dos pés à cabeça.

Olhei para o relógio na parede, eram duas horas da manhã.

Fiquei um tempo encarando o movimento no posto de enfermagem até me dar conta de que tinha renascido.

Natália Amaral percebeu meu estado de choque e me empurrou com impaciência.

— Se você aceitar, eu já vou arrumar minhas coisas e sair daqui.— Minha barriga está doendo muito. Preciso ir para casa descansar. Às cinco da manhã, lembre-se de aplicar o soro no paciente do leito 6 por mim.

Na vida passada, por consideração ao Pedro, aceitei aplicar o soro no paciente da Natália.

Assim que cheguei ao lado do paciente, percebi algo estranho.

O menino estava quase completamente coberto pelo lençol, só o rosto pálido aparecia.

Quando me preparei para examiná-lo, o telefone tocou: era Natália.

— Já terminou de aplicar o medicamento?

Respondi, ainda confusa:

— Ele está dormindo profundamente, que estranho... acho que tem algo errado, vou verificar.

Do outro lado da linha, Natália explodiu.

— Ah, esse menino deu trabalho o dia inteiro. Agora que finalmente dormiu, não vai acordá-lo, né?

Mesmo assim, continuei preocupada.

— E os pais dele? Por que não tem ninguém acompanhando?

— Não se mete, só troca o frasco de soro. Não precisa aplicar de novo. Você vai mesmo acordar o garoto por causa disso?

Olhei para o nome do medicamento: era apenas glicose, uma solução energética. Finalmente relaxei.

Mas esse descuido me custou uma vida.

No dia seguinte, quando estava prestes a trocar de turno, os familiares do paciente do leito 6 invadiram o posto de enfermagem e me agrediram sem me dar chance de explicar.

Foi assim que soube da morte do menino. Irineu Resende foi vítima de choque anafilático, e eu fui a última pessoa a aplicar nele o soro.

Mas só tinha aplicado glicose, era impossível causar alergia.

Após o incidente, Natália transferiu toda a responsabilidade para mim.

— O soro foi aplicado pela Bianca, não tenho nada a ver com isso.

Achei que meu irmão e o amigo de infância iriam me ajudar a descobrir a verdade.

Mas o meu irmão Pedro era o policial que me incriminou.

— As digitais no frasco são da Bianca. Não há dúvidas de que ela é a responsável.

O médico legista, Fagner Macedo, lançou o laudo da autópsia no meu rosto.

— O horário da morte coincide com o momento em que você aplicou o soro. Tem mais alguma coisa a dizer?

Sem argumentos, acabei sendo encurralada na porta da delegacia pelos familiares do menino, que me espancaram até a morte, enquanto Pedro e Fagner assistiam friamente.

Até morrer, não consegui como as pessoas que eu tanto admirava fizeram isso comigo?.

A dor lancinante e o sofrimento do corpo sendo rasgado pareciam não ter ido embora.

"Nesta segunda chance, eu jamais permitiria que a mesma tragédia se repetisse comigo."