capítulo 2

Virei as costas e fui embora. O segurança ainda me olhava sem acreditar.

Atrás de mim, ouvi o murmúrio debochado:

— Essa mulher sem dignidade simplesmente desistiu?

Dei um riso amargo e entrei no carro.

No círculo da alta sociedade de Alvorada, todos sabiam: eu amava Lorenzo como se fosse minha própria vida.

Os produtos dele? Eu ajudava a desenvolver.

O lançamento? Eu contratava modelos, fechava acordos, cuidava de tudo.

A ele, bastava colher os frutos.

Mais de uma vez Lorenzo disse que a família Alencar não tinha raízes firmes na cidade, que precisava de apoio.

Eu entreguei todos os recursos da minha família sem hesitar. No entanto, nas festas de comemoração, ele sequer mencionava meu nome. Quem recebia os agradecimentos com lágrimas nos olhos era sempre ela, Patrícia, uma influenciadora de quinta categoria.

Sem qualquer aviso, Lorenzo trocou todos os embaixadores da marca por ela. Quando questionei, ele riu com desprezo:

— A Patrícia é esforçada, batalhadora. Por que não dar uma chance?

Achei ridículo. Como se neste meio esforço e boa vontade fossem suficientes para vencer.

À medida que eles se aproximavam, mandei investigar. Foi então que descobri: Patrícia era a antiga paixão dele, aquela que nunca conseguiu esquecer.

Quando ela sofreu ataques de haters, Lorenzo não mediu esforços. Usou todos os recursos da empresa para defendê-la. E quando ousei questionar, ele me humilhou diante de todos com um tapa ardido no rosto:

— A Patrícia é funcionária da nossa empresa. Quem é você para se meter?

— Ela é pura, inocente, não faz ideia do que está acontecendo. O que queria, que eu ficasse parado enquanto a destroem?

A verdade, porém, era outra. Patrícia tinha marcado encontros secretos com patrocinadores de suas lives, foi pega pela esposa de um deles e acabou alvo de vingança.

Na vida passada, engolida por mentiras e humilhações, eu sofri até o fim. Desta vez, não queria repetir o mesmo destino.

Assim que cheguei ao hospital para marcar o aborto, dei de cara com Lorenzo, cuidadoso, amparando Patrícia pelo braço.

Eles se entreolharam e sorriram como se fossem um casal apaixonado.

No instante em que os olhos de Lorenzo se cruzaram com os meus, um arrepio percorreu meu corpo inteiro. A dor da queda da vida passada voltou com força brutal.

O sorriso dele sumiu de repente, dando lugar a uma sombra fria e sombria.

Patrícia, percebendo a tensão, falou baixinho, com ares de inocente, mas os olhos brilhando de malícia:

— Não pense mal, o palco simplesmente desabou de repente. Eu caí sem querer, e o Sr. Lorenzo só me trouxe ao hospital...

Ergueu o tornozelo, exibindo um hematoma roxo, nem grande, nem pequeno.

Depois, balançou de leve a manga do paletó dele, chorosa:

— Não culpe a Isa, tenho certeza de que não foi de propósito.

Como esperado, bastou isso para o sangue de Lorenzo ferver. Num instante, agarrou meu pescoço e me sacudiu:

— Se não fosse por você, a Patrícia nunca teria se machucado!

Aquele evento em que eu sequer fora convidada, e mesmo assim, todo o trabalho de preparação tinha saído das minhas mãos.

Agora, com o acidente, a culpa caía sobre mim, ainda que eu não estivesse lá.

Minha respiração já começava a falhar quando ele lançou um olhar para a placa do setor de obstetrícia e soltou uma risada cruel:

— Isadora Albuquerque, não me diga que você pretende usar uma gravidez para me chantagear em casamento?

De repente, largou meu pescoço. Caí de joelhos no chão, arfando.

— Se realmente estiver grávida, se vire e tire. Não me obrigue a sujar as mãos. Achar que pode ter um filho meu? Você não merece!

Disse isso agarrando a mão de Patrícia com força, e saiu sem olhar para trás.

Um calor úmido escorreu pelo meu corpo. Uma enfermeira que passava parou assustada, soltando um grito:

— Socorro! Emergência!