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Capítulo 4

Author: Beleza
Bianca acariciou o pelo macio do cachorro e perguntou em voz baixa, como se estivesse cansada de tudo. Em seguida, ela finalmente ordenou aos seguranças que soltassem Otávio.

Ela levantou o pé e pisou com força no rosto inchado e roxo do Otávio, enquanto ostentava uma expressão falsa de compaixão:

— Está vendo? Nem o seu pai te quer mais. Que pena de você.

As portas do elevador se fecharam lentamente, deixando para trás o pequeno corpo de Otávio, encolhido no chão frio de porcelanato.

Eu me ajoelhei ao lado dele. Mesmo sabendo que era inútil, tentei, repetidas vezes, abraçá-lo.

Não adiantava. Nada adiantava.

As portas do hospital já estavam fechadas, e sem uma ordem de Flávio, ninguém ousaria ajudar meu filho.

O sangue no canto da boca de Otávio já estava seco. Ele moveu as pálpebras, mas não conseguiu abrir os olhos.

O único som que se ouvia vinha do plástico fino que ainda envolvia o cobertor em seus braços.

Seu escapulário havia desaparecido em algum momento. Tudo o que restava era uma leve marca em seu pescoço, como prova de que um dia ele já foi um tesouro amado por alguém.

Eu não sabia quanto tempo fiquei ajoelhada ali, chorando. Só sabia que a dor no meu coração tinha se transformado em um vazio anestesiante, e minhas lágrimas há muito haviam secado.

Quando pensei que tudo estava realmente acabado, Flávio apareceu. O som dos sapatos de couro feitos sob medida ecoava pelo saguão silencioso.

Flávio parou no centro do corredor e olhou para o corpo imóvel de Otávio. Seu olhar era sombrio e indecifrável:

— Ainda não cansou de fingir? Foi isso que Heloísa te ensinou? Vocês acham que, bancando os coitadinhos, eu vou me comover? Estão sonhando!

A voz fria de Flávio ecoou pelo espaço. Cada palavra era como uma faca cravada diretamente no meu coração.

Eu quis perguntar a ele:

"Você é mesmo humano? Como pode pensar tão mal do seu próprio filho? Ele é tão bom, tão puro, tão..."

Minhas lágrimas caíram no rosto de Otávio, e, por um instante, achei que tinha visto seus cílios tremerem.

Flávio ainda despejava palavras cruéis, mas sua expressão começou a mudar quando percebeu que Otávio não reagia. Ele ficou inquieto e se aproximou, hesitante:

— Otávio? Por que você não está dizendo nada? Eu já entendi o seu teatrinho. Pare com isso agora.

O tom do Flávio ficou cada vez mais grave, e seus passos, cada vez mais apressados. Quando estava quase alcançando o filho, ele viu a pequena mão de Otávio se mexer.

Flávio parou imediatamente. Sua expressão de preocupação deu lugar à raiva. Ele pegou o celular, tirou algumas fotos das costas de Otávio e enviou diretamente para mim.

[Heloísa, você está se superando? Além de fingir, agora está ensinando Otávio a mentir também?]

[Legal. Já que vocês gostam tanto desse show, vamos ver quem vai se importar no final.]

Depois de enviar as mensagens, Flávio hesitou por alguns segundos, mas acabou se virando e saindo sem olhar para trás.

Quando o silêncio finalmente voltou ao saguão, Otávio abriu os olhos com dificuldade. Ele tossiu várias vezes, e cada tosse trouxe sangue à sua boca.

O sangue escorreu até o plástico do cobertor, e isso pareceu despertá-lo. Ele se levantou com esforço e segurou o cobertor contra o peito como se fosse o maior tesouro do mundo. Mesmo com os lábios rachados e ensanguentados, ele tentou sorrir.

Otávio cambaleou pelo corredor, segurando o cobertor com todas as suas forças, até encontrar a cama onde meu corpo estava. Ele tocou minha pele fria e ficou imóvel por alguns segundos.

Então, com o que restava de suas forças, ele abriu o cobertor e o estendeu sobre mim:

— Mamãe, seja boazinha. Com o cobertor, você não vai sentir frio.

Depois de dizer isso, Otávio desmaiou ao meu lado.

Na manhã seguinte, um médico residente que passava pelo corredor soltou um grito que ecoou pelo hospital inteiro:

— Alguém, rápido! Tem uma paciente que faleceu aqui!

Flávio ouviu a comoção e, irritado, empurrou a multidão que havia se formado ao redor:

— Por que estão todos reunidos aqui? Se vocês perturbarem o descanso de Bianca, eu juro que...

As palavras de Flávio ficaram presas em sua garganta. Ele viu meu corpo inerte na cama e o pequeno Otávio, deitado sobre mim, respirando com dificuldade. O rosto do Flávio ficou instantaneamente pálido.
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