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Capítulo 3

Author: Stella Pomelo
Naquela noite, Carolina não conseguia dormir.

A boca seca, levantou-se para pegar um copo d’água. Ao passar pelo quarto de Leonardo, percebeu que a porta estava entreaberta, deixando escapar a luz amarelada do abajur.

Depois daquela ligação na noite anterior, ela usara como desculpa um mal-estar e passara a dormir no quarto de hóspedes.

Agora, do quarto de Leonardo, vinham sons abafados.

Sons carregados de ambiguidade.

Logo, a respiração pesada de Leonardo ecoou.

— Lari, não faça isso… Estamos na minha casa.

— E daí? Tem medo de que ela descubra? — Respondeu Larissa, com voz lânguida e provocante. — Léo, do que você tem medo? Nós somos os verdadeiros, os que têm um casamento oficial.

— Lari! — A voz dele endureceu de repente. — O que tivemos já passou.

— Léo…

— Se não fosse para ajudá-la a se livrar do seu ex-marido violento, eu jamais teria me casado com você. A Carol está comigo há cinco anos. Ela é minha namorada e será minha verdadeira esposa. Assim que seus problemas estiverem resolvidos, nós vamos…

A frase morreu no ar, interrompida pelos sons novamente íntimos que tomaram conta do quarto.

Carolina, atônita, percebeu que suas mãos tremiam sem controle.

Um riso sarcástico lhe escapou.

Leonardo, um homem de quase um metro e noventa… Se ele não quisesse, Larissa teria mesmo como forçá-lo a um beijo?

Ajudá-la a se livrar do ex-marido abusivo? Era esse o único jeito? Com um casamento?

Era óbvio: os dois só queriam se esconder atrás de desculpas bonitas para justificar a própria sordidez.

— Léo, você não sente falta daquilo que tínhamos? O prazer que eu te dou, Carolina nunca poderá oferecer.

— Lari… — A voz dele soava rouca, carregada de desejo.

Logo, os gemidos preencheram o ambiente.

Carolina gravou tudo no celular. Ainda assim, o estômago se revirava.

Sentiu-se enjoada, correu ao banheiro e se apoiou na pia, sufocada por ânsias de vômito.

Que nojo. Que patético.

Ao sair, recebeu a mensagem do cliente: havia um problema urgente no projeto, e ela precisaria corrigir tudo durante a madrugada.

Exausta, quase sem forças, não teve escolha a não ser abrir o computador e se forçar a trabalhar.

Naquele instante, lembrou-se de quando Leonardo concorria à presidência do grêmio estudantil.

Ela havia corrido de um lado para o outro pedindo votos, forçando sorrisos, gastando energia sem medida.

Depois, com a vitória dele, continuara a viver em função de cada detalhe da vida e da carreira do homem que agora a traía sem pudor.

Depois de formada, Carolina entrou na empresa dele. Por anos, dedicara-se incansavelmente à sua carreira, consumindo toda a própria energia.

Uma dor leve no estômago a trouxe de volta das lembranças.

Seria a última vez.

E não por ele, mas pelo esforço de sua equipe, pelos meses de trabalho que não poderiam ser desperdiçados.

Os cinco anos de dedicação, a dor lancinante do acidente de carro, a perna perdida para sempre na dança, os sonhos destruídos… E agora, as vozes obscenas daquele casal ecoando em sua mente.

Carolina jurava: quando descobrisse toda a verdade, faria com que pagassem caro.

Na manhã seguinte, ao sair do quarto, o aroma da comida fresca a envolveu.

Virando-se, viu Leonardo na cozinha, fritando ovos. Ao lado, o café borbulhava.

Na porta, Larissa observava a cena com um sorriso suave.

— Irmão, depois de tantos anos, ainda é o seu café da manhã que mais me agrada.

— Vá sentar-se à mesa, já vou levar. — Respondeu ele, voltando-se para ela.

Mas, ao virar a cabeça, seus olhos se cruzaram com os de Carolina.

— Carol. — Disse ele, com a mesma ternura de todas as manhãs. — Bom dia.

Carolina deixou escapar um sorriso de pura ironia.

Três anos de convivência… E ele nunca havia preparado uma refeição sequer para ela.

Mesmo quando, para ajudá-lo a conquistar contratos, ela acompanhava clientes em intermináveis jantares e voltava com o estômago em chamas, Leonardo jamais lhe oferecera uma sopa feita por ele mesmo. No máximo, mandava alguém entregar comida pronta.

Ela sempre acreditara que ele simplesmente não sabia cozinhar.

Mas a verdade era outra.

Não era incapacidade.

Era escolha.

Porque, para ele, ela não valia esse esforço.
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