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A Amante que Virou Cunhada
A Amante que Virou Cunhada
Author: Mel Soares

Capítulo 1

Author: Mel Soares
— Srta. Margarida, sua família ainda não atendeu o telefone? — Perguntou a enfermeira, já em sua enésima indagação.

Margarida estava sentada na pequena cama da sala de atendimento, ouvindo aquela pergunta repetida diversas vezes, enquanto o celular que ela havia ligado permanecia mudo, como se afundasse no silêncio.

Sob a luz opaca da lâmpada, seus traços delicados e sua postura frágil se evidenciavam. Mesmo com os dedos levemente pálidos ao segurar o aparelho, havia nela um charme etéreo, algo tão bonito que parecia acima do mundano.

Mesmo vestindo apenas uma simples blusa branca e calça preta, ela emanava uma beleza encantadora, quase sobrenatural, que suavizava até mesmo o tom apressado da enfermeira.

— Srta. Margarida, seu tornozelo apresentou uma lesão grave nos tecidos moles. Se você for para casa sozinha, corre o risco de agravar a situação. É melhor que alguém venha te buscar para podermos autorizar sua alta. — Explicou a enfermeira, com voz carregada de preocupação.

Margarida baixou a cabeça, e após um silêncio, respondeu num murmúrio quase inaudível:

— Desculpe... Acho que ele deve estar ocupado com trabalho. Provavelmente não virá.

Naquele dia, houve um caos na galeria de arte. Durante a exposição, dois garotos, impulsivos demais, haviam destruído uma escultura exposta. Os pais tentaram minimizar o ocorrido com a desculpa de que "são apenas crianças brincando", o que provocou um confronto acalorado entre as partes. Logo, trocas de insultos, empurrões e até gritos fizeram do local uma cena chocante.

Como ex-aluna da faculdade de artes, Margarida estava lá como voluntária. Apesar de seus esforços para impedir a briga, acabou se envolvendo e sofreu uma lesão no tornozelo, com sangue escorrendo copiosamente.

Desde a chegada à emergência naquela tarde, enquanto os demais estudantes feridos já haviam sido recolhidos por seus familiares, Margarida permanecia sozinha no hospital.

Com um tom cuidadosamente persuasivo, a enfermeira perguntou:

— Moça, você tem namorado? Se preferir, pode chamar seu namorado para vir te buscar.

Namorado...

Mas era exatamente seu namorado que ela estava tentando contatar.

Ao ouvir essa indagação, Margarida apertou os lábios, demonstrando ainda mais desconforto diante da situação que lhe pesava.

Naquele instante, a televisão ligada ao fundo irrompeu em notícias. A locução anunciou com entusiasmo: [Bombástico! Augusto Carvalho, o presidente do Grupo Carvalho, reservou o Hotel Luar para presentear a filha da família Almeida com um sapato de cristal feito sob medida, além de declarar publicamente que estão apaixonados. O noivado está previsto para daqui a três meses!]

Na tela de alta definição, uma jovem de traços delicados sorria para as câmeras, enquanto Augusto, o homem com quem Margarida mal conseguia manter contato, se ajoelhava diante da garota, ajustando cuidadosamente a fita cor-de-rosa que adornava o sapato de cristal.

Em seus olhos, parecia que só havia espaço para ela, como se o mundo ao redor simplesmente não existisse.

A enfermeira, observando a notícia, não pôde deixar de comentar, entre suspiros e um tom de admiração:

— Esse romance da alta sociedade é tão doce, não acha? O presidente do Grupo Carvalho e a filha da família Almeida formam um casal perfeito. Aposto que a internet está fervendo de comentários!

Outra enfermeira comentou, com um misto de resignação e inveja:

— Olha só, enquanto eles desfrutam de felicidade num hotel, aqui estamos nós, sozinhos no hospital...

As palavras das enfermeiras penetraram os ouvidos de Margarida, aprofundando o tom já pálido de seu semblante, afetado pela perda excessiva de sangue.

No final, foi um telefonema para Teresa Moura, sua grande amiga, que a tirou do hospital.

Teresa andava ocupada com os preparativos para uma exposição de arte nos últimos dias. Se não fosse uma verdadeira emergência sem mais ninguém para ajudar, Margarida jamais teria incomodado a amiga tão tarde da noite.

Mas Teresa claramente não considerava isso um incômodo.

Ao ver a situação deplorável da amiga, Teresa a abraçou com os olhos marejados e exclamou:

— Sua bobinha! Como foi que isso aconteceu? Só agora me liga? E a Luísa, não cuida mais de você?

Desde treze anos atrás, Luísa Assis levou a pequena Margarida consigo ao se casar com Carlos Carvalho, o patriarca da família. Apesar de ter uma mãe biológica, a jovem se sentia praticamente desamparada.

Para se firmar na família, Luísa se dedicava exclusivamente ao marido e ao filho da família, sendo exemplar com Augusto, atuando como uma madrasta dedicada, mas negligenciando a própria filha.

Entre dentes cerrados, Teresa ainda indagou:

— E quanto ao Augusto? Que notícia é essa na internet? Ele não é seu namorado, já faz três anos, não é?

Margarida hesitou por um instante. Enquanto seu rosto permanecera impassível ao ouvir sobre sua mãe, seus lábios agora se curvaram em amargura ao som do nome de Augusto.

— Sim, ele é, afinal, meu namorado? — Ela murmurou com ironia dolorosa.

Margarida ainda se lembrava de quando conheceu Augusto aos oito anos, logo após ter acompanhado a mãe para a família Carvalho.

Mas foi somente quando a pressão e os abusos dentro daquela casa se tornaram insuportáveis, que Margarida decidiu fugir sozinha. E foi nessa busca por liberdade, que ela acabou se apaixonando por Augusto.

Naquela noite, foi Augusto quem a encontrou à beira da estrada. Na escuridão, ele chamava seu nome insistentemente, apressando-se para alcançá-la. Quando a alcançou, não hesitou em a envolver num abraço apertado e a erguer nos braços, conduzindo-a para longe do perigo.

Durante o caminho, com a voz rouca e cheia de emoção, Augusto sussurrava:

— Não chore. A partir de agora, ninguém mais vai te machucar. Estou sempre ao seu lado.

Com o rosto molhado de lágrimas, Margarida apenas acenou com a cabeça. Naquele instante, o frio que antes habitava seu coração cedeu lugar a um calor reconfortante, um sentimento que ela jamais esqueceria.

Porém, dada a imensa diferença entre as origens dos dois, durante seus longos e inocentes anos de juventude, Margarida teve coragem de guardar esse amor apenas no silêncio do seu íntimo. Bastava um olhar furtivo em direção a Augusto para que ela se sentisse completamente realizada.

A virada no destino aconteceu no dia em que Margarida completou dezoito anos, seu ingresso na vida adulta. Embriagada pelos efeitos do álcool, ela acabou, sem intenção, confessando seu amor a Augusto.

Para sua surpresa, Augusto aceitou a declaração com uma serenidade inesperada e concordou em ficar com ela.

Apenas explicou que, para proteger melhor aquele sentimento, seria necessário esconder a relação, evitando que qualquer sinal de romance chegasse aos olhos das famílias.

Radiante, Margarida aceitou sua proposta sem a menor hesitação.

Ela acreditava, com todas as forças, que enquanto seu amor por Augusto permanecesse intacto, um dia os dois poderiam se exibir em público e conquistar o aval dos pais.

No entanto, no imenso e caprichoso universo dos sentimentos, parecia que quem se entregava de corpo e alma acabava se tornando alvo das mais cruéis ironias.

Três anos se passaram. Margarida esperava ansiosamente o reconhecimento do amor de Augusto, mas o que chegou foi uma notícia devastadora.

Publicamente de mãos dadas com a filha da renomada família Almeida, Augusto havia oficialmente anunciado o relacionamento com ela.

...

Ocupada com a correria de sua exposição de arte, Teresa se certificou de que Margarida chegasse bem à casa da família Carvalho e, sem demora, se retirou para continuar com seus compromissos.

Em apenas trinta minutos, o burburinho sobre Augusto e a filha da família Almeida se espalhou como fogo em palha. Até as empregadas da casa, sorridentes e animadas, fofocavam sobre o casamento grandioso e o poder da família Almeida. Algumas chegaram a especular que a moça já estava grávida, o que explicaria a pressa no anúncio.

Com os dedos cerrados em sinal de contenção, Margarida se esforçava para suportar a perna ferida enquanto subia os degraus.

Ela recusou qualquer ajuda, determinada a não se deixar ver vulnerável.

Mas, ao abrir a porta do quarto e dar os primeiros passos, ela parou bruscamente. Diante de seus olhos, emergia a figura impecavelmente elegante e encantadora de um homem que, sob a luz branda, parecia ter saído de um sonho.
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