— Quero que você seja mais feliz. — Vicente murmurou ao ouvir a pergunta divertida da Margarida, mas seu rosto belo e enigmático permanecia sério enquanto acariciava o rosto dela com ternura. — Margarida, espero que você não se deixe consumir pelas sombras do passado e possa abraçar melhor essa nova vida que está por vir.Somente quando o estado emocional de Margarida estivesse completamente estabilizado é que Vicente poderia revelar toda a verdade sobre a morte trágica do pai dela, sem temer que ela não conseguisse suportar o choque.Afinal, mesmo com Margarida já tendo rompido os laços com Luísa, descobrir que a própria mãe havia assassinado o próprio pai seria devastador para qualquer pessoa. Seu mundo psicológico poderia desabar por completo. Por isso, embora a investigação já tivesse chegado até Marcelo e Vicente já possuísse todas as evidências necessárias para destruir Luísa de vez, ele ainda pretendia aguardar alguns dias, pensando no bem-estar de Margarida.Sem perceber os pen
Mas quem podia imaginar que, com aquele contato simples, ele mesmo tinha se enfiado numa roubada das bravas.Agora Marcelo chorava de um jeito mais patético que porco no matadouro.— Sr. Vicente, sobre o que rolou naquela época... nesses mais de dez anos eu me arrependi muito mesmo. Principalmente após saber que aquela cobra da Luísa matou o próprio marido, se casou com Carlos levando a indenização gorda dele, e ainda tratava mal a Margarida, a própria filha biológica. Sinto que se Deus me desse uma segunda chance, nunca mais ajudaria a Luísa! Agora estou disposto a me redimir pelos erros que cometi contra a Margarida. Posso pedir desculpas para ela, posso pedir desculpas para o senhor... Desde que me deixe vivo, faço qualquer coisa mesmo!Marcelo olhava para o Vicente com uma cara de cachorro abandonado na chuva, achando que, tendo alguma serventia, Vicente com certeza ia poupar ele.Vicente manteve uma expressão tranquila o tempo todo, mas quando Marcelo terminou de falar, ele já tin
— Pronto, Marga, já falei para você parar de neuroses. Encomendei um vestido especialzinho para você usar na exposição de arte, com um mês e meio de antecedência. Agora vai lá experimentar para ver como fica, eu espero aqui fora.Vicente se levantou, carregou a Margarida até o provador e acomodou ela no sofá de couro macio.Ao redor, três funcionárias já estavam de prontidão, esperando para ajudar a Margarida a vestir aquela obra de arte única no mundo e o vestido sob medida mais caro de toda a loja.Margarida não teve escolha, precisou cortar o pensamento da cabeça e começar a se trocar, seguindo as instruções delas.O resultado era óbvio. O vestido era de tirar o fôlego, moldando perfeitamente as curvas delicadas da Margarida, tão deslumbrante que parecia fazer toda a luz da butique brilhar ainda mais forte.Vicente deu um sorriso aprovador. Depois, quando Margarida terminou de experimentar e já estava mostrando sinais de cansaço, ele mandou alguém levar ela para casa, e ele pegou um
Foi naquele momento que uma mão grande e quentinha pegou na dela.Margarida quase pulou do susto, e quando se virou num reflexo, viu que Vicente tinha aparecido do nada e já estava ali do ladinho dela.— Por que você está gelada de novo? — Ele perguntou, com aquela voz macia, tentando acalmar o coração disparado dela.Tinha recebido um toque do segurança dizendo que a situação de Margarida estava estranha, então largou tudo, até uma reunião importante na empresa para correr até ali.Assim que chegou na butique, Vicente não entrou de cara. Ficou do lado de fora um tempinho, só observando ela.Como já imaginava, Margarida estava encolhidinha num cantinho, com aquele olhar perdido no vazio, o rostinho lindo dela travado que nem estátua, como se alguma coisa muito sombria tivesse sugado toda a vida de dentro dela.Lembrando do que o segurança tinha contado, Vicente puxou a Margarida para o colo dele e perguntou:— Marga, esse mau-humor súbito aí é por causa daquele velho que você esbarrou
O ar ficou pesado naquele instante.O velho tinha um corpo ressecado, as bochechas encovadas, e quando olhava as pessoas, seus olhinhos triangulares misturavam uma falsa honestidade com uma esperteza de dar arrepios. Era a cara de uma toupeira que passava a vida cavando túneis no escuro. Ele não era qualquer um, era Marcelo Barros, aquele funcionário safado do turismo que tinha se aliado com a Luísa treze anos atrás para empurrar o pai da Margarida penhasco abaixo.O teatrinho dele tropeçando nos degraus do shopping tinha sido calculada nos mínimos detalhes, tudo para chegar perto da Margarida da forma mais inocente possível e arranjar uma brecha para agir.Até agora, tudo saindo como planejado.Margarida tinha puxado ao pai mesmo, daquele tipo de gente boa que não conseguia ver ninguém se ferrando sem correr para ajudar.Só que por algum motivo, talvez o sol escaldante batendo forte, Marcelo reparou que o rosto da Margarida ficou uma folha quando ela viu ele tirar o chapéu, e até a m
Carlos olhava para Vicente com um carinho que poucos pais tinham pelos próprios filhos. Sendo o verdadeiro filho de Carlos, Augusto provavelmente nunca tinha visto tanta ternura naquele olhar paterno.No passado, Margarida tinha ficado bem incomodada com isso, chegando até a pensar que Carlos tratava Vicente com tanta gentileza só por interesse nos negócios. Afinal, a posição e o status dele ajudavam muito o Grupo Carvalho. Mas agora descobria que Carlos agia de jeito tão diferente simplesmente porque Vicente era filho de uma velha amiga.Vicente deixou seus olhos escuros se aprofundarem devagar e, depois de um tempo contemplando, tirou os olhos dos pertences antigos da mãe e olhou direto para o rosto de Carlos.— O que exatamente você quer fazer para me ajudar?— É bem simples. Quero garantir que você e sua mãe peguem tudo que é de vocês por direito. — Carlos respondeu. Ele fechou a caixa com cuidado, colocou os objetos pessoais de Sofia de volta no carro e só então voltou para fica