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Capítulo 3

Auteur: Bagel
— Eu disse que não roubei!

— Papai, por favor, acredite em mim!

Corri atrás dele e agarrei seu braço, as lágrimas finalmente escapando dos meus olhos.

— Juro que nunca toquei naquele diamante!

Meu pai me sacudiu com violência.

— Chega! A prova está bem ali. Até quando vai continuar mentindo?

— Apenas confesse, Alessia. — Zombou Marco.

— Achou que iríamos aliviar só porque você está chorando?

Vincent bufou.

— Talvez devêssemos reconsiderar esse noivado de uma vez por todas.

— Não! Eu não fiz isso! — Voltei-me para Carina, em desespero.

— Você sabe que não, não sabe? Você sabe que eu não roubei!

Um sorriso rápido surgiu nos lábios dela, logo disfarçado por uma expressão de preocupação.

— Irmã, talvez estivesse exausta e confusa. Talvez tenha feito algo que nem se lembra...

A ficha caiu. Como pude ser tão estúpida a ponto de recorrer a ela?

Era justamente Carina quem mais queria me ver como culpada.

— Trancem-na! — Ordenou meu pai.

Dois seguranças agarraram meus braços. Lutei contra eles.

— Soltem-me! Eu sou filha desta família! Vocês não têm esse direito!

— Filha? — Marco riu, sarcástico.

— Uma filha que rouba um tesouro sagrado da família? Você merece esse título?

Vincent completou com desdém:

— Já deviam tê-la trancado há muito tempo. Teria poupado a família de muita vergonha.

Enquanto me arrastavam em direção à cela nos fundos da propriedade, vi o triunfo escancarado nos olhos de Carina.

Ela se aproximou e sussurrou:

— Suponho que, a partir de agora, serei eu a representar a família em público.

Dei uma risada súbita. Sim, eu tinha perdido.

Não apenas aquela honra. Tudo aqui passaria a ser dela.

A porta da cela se fechou com estrondo atrás de mim, o som da fechadura ecoando como um sino fúnebre.

Comparado à escuridão ancestral da cripta, aquele lugar era uma prisão moderna.

Quatro paredes de metal liso, sem janelas, apenas uma lâmpada fraca no teto lançando um clarão cruel.

O chão era gelado como gelo, e meu único consolo era um cobertor fino.

Aquela cela já havia abrigado traidores e inimigos da família. Agora, me abrigava.

Encolhi-me num canto, a dor no peito avançando como uma onda devastadora.

Cada respiração dilacerava meus pulmões. Eu já não conseguia nem ficar de pé.

Nas minhas últimas horas, ainda não conseguia entender.

Como o diamante fora parar no meu bolso?

Eu só havia tocado nas lápides... a não ser que...

Uma tosse violenta me sacudiu. Senti umidade nos lábios.

Ao levar a mão à boca, os dedos saíram manchados de sangue.

Provavelmente não me restavam muitas horas.

Minha mente começou a vagar, repassando cenas do passado.

Cena após cena, as armadilhas cuidadosamente calculadas por Carina passaram diante dos meus olhos.

A vez no baile da família em que ela "acidentalmente" derramou vinho tinto no meu vestido exclusivo, transformando-me em piada entre a elite da cidade.

A vez em que adulterou uma mensagem no meu caderno.

E a pior de todas: quando usou o abridor de cartas da minha escrivaninha para cortar o próprio braço... e depois me acusou.

O peso dessas lembranças esmagava o ar dos meus pulmões. Meu coração batia fraco, errático.

Ainda assim, memórias belas também emergiram.

Marco, com sete anos, voltando para casa coberto de hematomas depois de brigar com meninos que me intimidavam.

— Ninguém tem o direito de mexer com a minha irmã! — Ele disse.

Meu pai, velando ao lado da minha cama quando estive doente, a mão calejada acariciando suavemente minha testa.

— Minha pequena princesa, o papai vai proteger você.

As imagens eram tão vívidas que pareciam de ontem.

Por que... por que tinham mudado tanto?

Minha visão começou a turvar, os membros adormecendo.

A dor no peito foi cedendo lugar a uma estranha sensação de leveza.

Talvez fosse isso que significava morrer.

Anos atrás, quando meu pai havia traído os votos de casamento, dissera que era apenas "o jeito do submundo", que nenhum Don tinha apenas uma mulher.

Minha mãe, devotada àquele matrimônio, não suportou e escolheu partir.

Ela quis me levar com ela para longe de Nova York, mas meu pai e meu irmão imploraram que eu ficasse.

Disseram que precisavam de mim. Eu era jovem demais para resistir às súplicas, e acabei convencendo minha mãe a me deixar.

Se eu tivesse ido com ela, teria sido diferente?

Ainda seria a Alessia deles, envolta em amor?

À beira da inconsciência, pensei ouvir a voz da minha mãe me chamando.

— Alessia, minha querida, não vem com a mamãe?

Desculpe, mãe. Eu preciso ir primeiro.

Meu coração desacelerou. O último compasso da minha vida.

Dez... nove... oito... sete...

Fechei os olhos e deixei a escuridão me engolir por completo.

O mundo silenciou.

Às seis da manhã seguinte, Antonio foi verificar a cela, como fazia de rotina.

Depois de trinta anos a serviço dos Moretti, já vira sua cota de vida e morte, mas quando espiou pela pequena janela da porta de ferro, a cena o gelou até os ossos.

— Senhorita Alessia! Senhorita Alessia! — Chamou, com a voz trêmula, batendo contra a porta.

Nenhuma resposta.

A figura encolhida no canto estava imóvel, o rosto pálido, um traço de sangue seco no canto da boca.

A mão de Antonio tremia tanto que mal conseguiu encaixar a chave na fechadura. Por fim conseguiu abrir e correu para dentro.

— Senhorita Alessia! Acorde! — Ajoelhou-se ao lado dela, procurando sinais de respiração.

Fria como gelo. Nada.

Antonio desabou no chão.

Na sala de jantar principal, Don Moretti degustava seu café da manhã com a mesma elegância de sempre.

Carina sentava-se obediente ao seu lado, entregando-lhe o jornal.

Marco também estava lá, revisando os relatórios da noite anterior.

— Don! Senhor Marco! Depressa! — Antonio, esquecendo toda a etiqueta, irrompeu na sala, a voz tomada por um terror que o Don jamais ouvira.

— Já te repreendi ontem por esse comportamento. O que é toda essa gritaria logo cedo? — Don Moretti franziu o cenho, visivelmente irritado com a interrupção.

Antonio tropeçou até o centro da sala.

— Don! É terrível! A senhorita Alessia, ela...

— O que foi agora? — Marco perguntou sem levantar os olhos dos papéis.

— Está fingindo doença outra vez?

— Não! Don... a senhorita Alessia... ela está morta! Morta na cela! — A voz de Antonio se quebrou em puro horror.
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