Share

A Sentença da Lua e a Lealdade Sem Fim
A Sentença da Lua e a Lealdade Sem Fim
Author: Alyssa J

Capítulo 1

Author: Alyssa J
Minha irmã adotiva Sophia, a última loba branca puro-sangue da vila Grell, estava morta.

Três dias. Foi por quanto tempo ela sofreu nas mãos de um lobo rebelde desconhecido antes de ser encontrada.

Sua linhagem de loba branca puro-sangue havia sido completamente profanada. Ela não conseguia mais encarar a alcateia. Estava apavorada com a ideia de trazer desgraça para todos que amava.

Então ela correu para a floresta. Rasgou a própria garganta com as presas. Depois se jogou no lago gelado.

A água ao redor de seu corpo devastado ficou vermelha.

A carta de suicídio dela continha apenas uma frase: "Lina viu o rosto dele."

A partir daquele dia, eu me tornei a maior pecadora da alcateia.

Porque eu sabia quem era o assassino. Sabia o nome, o rosto, o cheiro dele. Mas escolhi o silêncio. Durante cinco anos inteiros, protegi aquele monstro.

— Tia Lina, por favor! — A voz do lado de fora da minha caverna estava rouca de tanto desespero. — Só me diga o nome dele!

Era Aiden. O único filhote de Sophia. Ele ajoelhava na entrada da minha caverna de pedra a cada lua cheia, lágrimas escorrendo por seu rosto jovem.

— Por favor! Vingue minha mãe! Você viu o rosto do assassino! Por que não fala?

Os soluços dele ecoavam pelas paredes da caverna. Cada choro era como uma faca girando dentro do meu peito. Aquele garoto de sete anos havia perdido tudo. Sua mãe se foi. Sua infância, destruída.

E eu era a única que podia lhe dar justiça.

Fiquei atrás da porta de pedra, ouvindo seus lamentos de partir o coração. Minhas mãos tremiam contra a rocha gelada. Cada instinto gritava para eu ir até ele, confortá-lo, segurá-lo, dar-lhe as respostas que precisava.

Em vez disso, virei as costas. Caminhei mais fundo na caverna e fechei a porta interna.

O som do choro dele me acompanhou até a escuridão.

Cinco anos atrás.

— Maldita protetora! — As vozes furiosas do lado de fora cresciam. — Você traiu Grell!

A alcateia havia cercado minha caverna novamente. Eles carregavam tochas que projetavam sombras dançantes nas paredes. Seus rugidos furiosos faziam a base de pedra tremer.

— Saia e enfrente a gente, traidora!

— Você está protegendo o verme que profanou nossa puro-sangue!

— Covarde! Assassina!

Eu ouvia essas acusações. As palavras já não doíam. Mas o ódio por trás delas ainda queimava como ácido nas minhas veias.

Caminhei até onde Fenrir aguardava nas sombras. Meu cão de caça negro havia sido meu único companheiro desde a morte de Sophia.

— Afaste eles. — Sussurrei, segurando sua corrente de ferro.

Os membros da alcateia se dispersaram como presas assustadas.

Eles se foram. Mas eu também perdi tudo naquela noite.

Cinco anos depois, meu corpo estava fraco e debilitado. Eu mal conseguia deixar minha cama de pedra. Apenas as ervas medicinais nativas do nosso território me mantinham viva.

Foi então que Damien atravessou a destruição.

Meu irmão adotivo havia retornado. Ele não era mais o jovem lobo que eu lembrava da infância. Agora, era o lorde Alfa mais poderoso da América do Norte. Doze Guardas do Lobo Negro o acompanhavam como sombras da morte.

— Levante-se, Lina. — A voz dele era mais fria que o gelo do inverno. — Hoje é o seu dia de julgamento.

Dois Guardas do Lobo Negro avançaram sem hesitar. Agarraram meus braços e me ergueram da cama como se eu fosse um saco de grãos.

— Damien, eu estou doente... — Eu arquejei, minha voz mal passando de um sussurro.

— Doente? — Ele riu, mas o som não tinha calor algum. Apenas desprezo amargo. — Você está doente porque a culpa está corroendo sua consciência!

Os olhos âmbar dele ardiam com uma fúria que eu nunca tinha visto antes. Ele já não era mais meu irmão. Era um estranho usando o rosto dele.

— Sophia foi cega ao chamá-la de irmã! — Ele rosnou. — Ela está morta há cinco anos! Enquanto isso, o desgraçado que profanou os puro-sangue está vivendo livre há cinco anos!

Os guardas me arrastaram em direção à saída da caverna. Meus pés descalços raspavam na pedra áspera, deixando rastros de sangue.

— Hoje, vou usar o Dispositivo de Visão da Alma, — Damien continuou, a voz aumentando a cada palavra. — E vou ver exatamente quem você vem protegendo todos esses anos!

A lua cheia brilhava no alto, iluminando com sua luz prateada a praça da vila logo abaixo.

Todos os lobisomens de Grell tinham se reunido para aquele momento. Formavam um círculo perfeito ao redor da antiga plataforma de julgamento. Seus olhos brilhavam com sede de sangue e expectativa.

Um escriba da alcateia ergueu um orbe de cristal. O dispositivo mágico pulsava com uma luz etérea. E, com horror crescente, percebi que aquele julgamento estava sendo transmitido ao vivo para toda a comunidade de lobisomens da América do Norte.

Os Guardas do Lobo Negro me arrastaram pela escada de pedra acima. Cada movimento disparava ondas de dor pelo meu corpo desnutrido.

— Tia Lina! — Uma pequena figura rompeu a multidão e subiu correndo até a plataforma.

Aiden. Agora com sete anos. O único sangue sobrevivente de Sophia. Os olhos lupinos dele já começavam a ficar vermelhos de raiva e luto.

Ele agarrou minha manga rasgada com as duas mãos. — Por que você não diz quem a matou? Por que não me deixa vingar minha mãe?

Lágrimas escorriam pelo rosto jovem. A voz dele se quebrava de tanta dor.

— Eu esperei cinco anos! Cinco anos inteiros! — Ele chorou. — Toda noite eu sonho com ela! Ela está chamando por justiça!

Olhei para aquela criança despedaçada. Minha garganta se fechou. As palavras que eu queria dizer viraram cinzas dentro de mim.

A multidão começou a uivar lá embaixo:

— Ela sabe quem é o assassino, mas não fala!

— Lobos rebeldes não têm coração!

— Ela trouxe vergonha à honra de Grell!

As vozes vinham como um tsunami, cada vez mais altas, até eu não conseguir mais pensar com clareza.

Damien parou diante de mim. Os olhos de lobo dele eram como lascas de gelo ártico.

Um dia, nós fomos família. Brincamos juntos quando filhotes. Compartilhamos refeições, histórias, sonhos. Mas após a morte de Sophia, ele decidiu que eu havia traído tudo que era sagrado.

— Ainda há tempo para dizer a verdade. — Ele disse, a voz baixando para um sussurro mortal. — Confesse quem você está protegendo. Diga qual desgraçado profanou nossa puro-sangue.

Ele se inclinou mais perto. O hálito quente roçou minha orelha.

— Caso contrário, quando o Dispositivo de Visão da Alma ativar, as vibrações de alta frequência vão fazer você implorar pela morte. Seus ossos de loba vão se estilhaçar um por um.

Eu me debati desesperadamente contra os guardas que me seguravam. — Damien, você não pode ativá-lo! Você vai se arrepender disso!

— Arrepender? — Ele riu friamente, cortando minhas palavras. — Meu maior arrependimento foi ter te pegado na neve quando éramos crianças!

A voz dele ficou crua de dor e fúria. — Todos esses anos, tratei você como uma irmã de verdade! Eu te protegi! Eu me importei com você!

Os Guardas do Lobo Negro me forçaram a sentar na cadeira metálica de julgamento. O aço gelado mordeu minha pele. Algemas pesadas se fecharam em meus pulsos e tornozelos.

Eu não podia me mover. Não podia escapar.

Um capacete metálico desceu do alto. Agulhas finas como fios pressionaram meu couro cabeludo, procurando pontos de entrada. As pontas afiadas perfuraram pele e osso, avançando direto em direção ao núcleo da minha alma de loba.
Continue to read this book for free
Scan code to download App

Latest chapter

  • A Sentença da Lua e a Lealdade Sem Fim   Capítulo 8

    Eu estava deitada na neve, e o canto da minha boca se curvou lentamente. Uma lágrima ensanguentada escorreu do canto do meu olho e caiu no gelo com um som quase inaudível.Damien gritou meu nome, sua voz rasgada como uma lâmina quebrada levada pelo vento. Mas eu mal conseguia ouvi-lo. Meus ouvidos estavam cheios do rugido do meu próprio sangue. O mundo estava desaparecendo.Minha consciência afundou para trás, de volta a dez anos atrás, para aquela tarde assustadoramente silenciosa.Floresta do Pinheiro Negro, flocos de neve caindo suavemente.Nosso pai adotivo estava ajoelhado diante de Sophia, suas garras cavando desesperadamente o solo. Em suas mãos, ele segurava várias ervas de luz lunar esmagadas. Sua voz tremia. — Sophia... Papai não queria... Por favor... não conte ao Damien... Por favor...O corpo inteiro de Sophia tremia. Sua pelagem branca como neve se eriçou de medo. Ela tampou os ouvidos com força. Lágrimas misturadas com sangue escorriam do canto da boca. Seus gritos

  • A Sentença da Lua e a Lealdade Sem Fim   Capítulo 7

    A imagem parou abruptamente ali, mas todos os lobos entenderam o que aconteceu depois.— Erva da loucura lunar… — A voz do ancião da aldeia tremia. Seus dedos estremeciam enquanto ele apontava para a tela. — Esse é o cheiro da erva da loucura lunar… Depois de consumi-la, a natureza lupina se intensifica violentamente, fazendo perder completamente a razão…O antigo Alfa era, na verdade, o assassino que violou a puro-sangue, a verdade rasgou o peito de todos como uma lâmina de prata, incendiando instantaneamente todo o local.Damien parecia ter sido atingido por um raio. Cambaleou para trás, depois se virou de repente e agarrou meus ombros, sacudindo-me desesperadamente. — Impossível! Meu pai é o herói de Grell! Ele me ensinou a proteger os puro-sangue. Como ele poderia fazer algo assim?!Seus olhos estavam completamente vermelhos. As veias saltavam em suas têmporas. Ele avançou contra o mago da alma. — Você alterou as memórias, não foi?! Isso não é real! Desligue isso!O mago da al

  • A Sentença da Lua e a Lealdade Sem Fim   Capítulo 6

    A imagem surgiu, a Floresta do Pinheiro Negro sob uma lua de sangue.Eu estava à beira do lago congelado. Na minha mão havia uma tira de pele animal embebida em ervas. Minha voz tremia.— Sophia? É você?De repente, vento e neve se ergueram. A névoa branca tomou o ar.Uma sombra negra cruzou o lago.Gritei assustada. Meus pés escorregaram. Caí na neve.Aquela pessoa vestia um manto de pele de lobo negro com bordas prateadas. Havia um rasgo visível nas costas.Mas num piscar de olhos, a figura desapareceu na escuridão.Damien encarou a tela com as pupilas dilatadas.— O rosto! — Ele sibilou. — Por que não conseguimos ver o rosto?!O mago da alma recuou apavorado.— Po… porque ela nunca viu o rosto do assassino.— O vento e a neve eram fortes demais. A distância era grande demais. Nem a visão noturna dos lobos funcionou… Isso é exatamente o que ela realmente viu.O corpo inteiro de Damien tremeu. Sua respiração cessou por um momento.— Impossível! — Ele rugiu. — A carta de su

  • A Sentença da Lua e a Lealdade Sem Fim   Capítulo 5

    O mago da alma mantinha os dedos trêmulos pairando sobre a alavanca de energia. Sua voz estava tensa de medo.— Mas o corpo dela está fraco demais. Se extrairmos mais do núcleo da alma… ele pode se despedaçar e matá-la.Toda a praça prendeu a respiração.Damien estava no centro da plataforma. Ele encarava a sombra da alma rachando na tela. Seu rosto estava tão sombrio quanto o céu antes de uma nevasca.Ele permaneceu em silêncio. Sua mandíbula se contraiu até formar uma linha afiada.Por um instante, algo brilhou no fundo de seus olhos lupinos. Um lampejo quase imperceptível de dor, como uma corrente escura sob o gelo.Mas aquela suavidade durou apenas um segundo.No instante seguinte, o ódio inundou seu olhar novamente.Ele falou uma única palavra, fria como lâmina:— Continue.O pequeno Aiden gritou de repente:— Pare de torturar a tia Lina! Ela vai morrer!Ele avançou correndo. Seu pequeno corpo se chocou contra a barreira de proteção. Mas os membros da alcateia o agarraram

  • A Sentença da Lua e a Lealdade Sem Fim   Capítulo 4

    — Lágrimas de crocodilo!Um ancião da alcateia saltou de repente para a plataforma. Suas garras bateram com força contra o Dispositivo de Visão da Alma.A tela oscilou. Ficou preta por um momento. Depois voltou a funcionar.Ele apontou para mim, os nós dos dedos esbranquiçados de tanta raiva.— Anos atrás, o pequeno Aiden se ajoelhou na porta da sua caverna! A cabeça dele sangrava de tanto bater na pedra! Por que você não abriu a porta?! Fale! Por que está se fazendo de muda agora?!Ninguém respondeu.Todos os olhares na praça se voltaram para mim.Da entrada veio o som de passos pequenos.O pequeno Aiden estava ali. Descalço. Suas órbitas pareciam afundadas. Suas pupilas estavam vazias e ocas.Ele murmurou como se falasse com fantasmas:— Mamãe… não tenha medo… Aiden vai ficar com você…Sua voz carregava um soluço. Seu corpinho tremia sem parar.De repente, ele avançou contra o Dispositivo de Visão da Alma. Suas pequenas garras pressionaram a tela. Ele gritou:— Saia! Mamãe,

  • A Sentença da Lua e a Lealdade Sem Fim   Capítulo 3

    — Alfa, continue! Queremos ver o assassino!Os lobos lá embaixo rugiram como um tsunami. Agitavam as tochas no alto, faíscas voando sobre a plataforma.Damien ergueu a mão, frio como gelo. Ele fez um sinal para o mago da alma.— Aumente a intensidade da visão da alma. Quero ver as memórias daquela noite na Floresta do Pinheiro Negro.O mago da alma cerrou os dentes e empurrou a alavanca de energia para frente.As agulhas metálicas perfuraram mais fundo de repente, três polegadas a mais. Atingiram direto o núcleo da minha alma.Meu corpo inteiro convulsionou violentamente. Um grito rasgou minha garganta.A vibração da alma parecia lâminas afiadas girando dentro do meu cérebro. Uma luz vermelho-sangue explodiu diante dos meus olhos.Fragmentos de memória começaram a piscar na tela.A sala de aula. Uma pequena cabana cercada por paredes de terra. Uma fogueira queimava no centro. Sophia, Damien e eu estávamos sentados em círculo.Ela usava as garras para rasgar a perna de cervo as

More Chapters
Explore and read good novels for free
Free access to a vast number of good novels on GoodNovel app. Download the books you like and read anywhere & anytime.
Read books for free on the app
SCAN CODE TO READ ON APP
DMCA.com Protection Status