Capítulo 7

Jorge sempre demonstrava um temperamento gentil e cavalheiresco diante de Talita, mas ele era, afinal, o atual líder do Grupo Esteves. Sua presença e autoridade não eram algo que qualquer pessoa pudesse ignorar. Naquele momento, com uma pitada de raiva em seus olhos, a pressão ao seu redor parecia ainda mais opressiva.

A aura intimidadora de Jorge fez o coração de Enrico vacilar por um instante. No entanto, ao olhar para Talita, ele ainda se recusava a abaixar a cabeça.

— Acho que o senhor está enganado. A Srta. Talita é minha. — Enrico declarou, com a arrogância de quem acreditava ter controle absoluto sobre algo ou alguém.

No fundo, ele queria dizer que Talita era como uma cadela domesticada sob seu comando. Pensava que, independentemente de quem fosse o homem à sua frente, ninguém teria o gosto ou a coragem de roubar algo que ele considerava "dele".

Mas, antes que pudesse continuar, Jorge riu com frieza e respondeu:

— Você acha que está à altura?

Aquelas palavras foram como um golpe direto no ego de Enrico, que sentiu o rosto arder de vergonha e raiva. Sua expressão alternava entre tons de roxo e verde, tamanha a humilhação.

Talita, que já estava desconfortável por não ter comido nada e pelas taças de vinho que havia bebido, sentiu seu estômago ainda mais revirado ao lembrar do perfume exagerado de Flora que havia cheirado antes. Ela não queria prolongar aquela discussão inútil com Enrico, muito menos explicar quem era Jorge.

Seus olhos, naturalmente belos, estavam ainda mais brilhantes devido ao leve efeito do álcool. No entanto, havia uma frieza neles que era impossível ignorar. Ela olhou diretamente para Enrico e, com um sorriso irônico nos lábios, declarou:

— Sr. Enrico, acho que já deixamos tudo suficientemente claro. Terminamos, seguimos nossos caminhos, cada um com sua vida.

Sem esperar por qualquer reação, Talita virou as costas e puxou Jorge pelo braço, saindo dali sem olhar para trás.

Enrico ficou parado por um momento, atordoado. Quando voltou a si, viu Talita sendo cuidadosamente escoltada até a porta do hotel e entrando em um luxuoso carro. Jorge a ajudou a subir, tratando-a como a joia mais preciosa do mundo.

Naquele instante, Enrico sentiu como se uma faca tivesse perfurado seu coração. Sua mente estava inundada pela imagem do rosto perfeito de Talita e pela frieza em seus olhos. Pela primeira vez, ele começou a se perguntar se ela realmente havia decidido terminar tudo com ele.

Enquanto isso, Flora, que havia assistido a tudo de longe, finalmente se aproximou. Com ninguém por perto, ela não precisou fingir que não conhecia Enrico.

— Enrico, será que Talita arranjou outro homem pelas suas costas? — Perguntou Flora, com um tom provocativo.

Enrico virou-se para ela, lançando um olhar gelado. Ele e Flora já haviam se encontrado algumas vezes em particular. Embora não tivesse negado os rumores sobre o noivado, ele nunca os havia confirmado oficialmente.

Flora percebeu a rejeição no olhar dele, mas continuou, tentando inflamar a situação:

— Ela viveu às suas custas, aproveitou tudo o que você deu e agora te traiu pelas costas. Enrico, você não pode ser tão mole assim. Não acredito que, sem os projetos do Grupo Araújo, Talita tenha conseguido fechar um contrato com o Grupo Lifano.

As palavras de Flora acenderam uma luz nos pensamentos de Enrico. Ele estreitou os olhos e refletiu.

"É verdade. A negociação com o Grupo Lifano já estava sendo preparada há algum tempo. Mesmo que eu não tenha dado a Talita qualquer responsabilidade nesse projeto, ela com certeza ouviu falar sobre ele. Com os anos que passou na empresa, ela teria acesso a todas as informações e documentos necessários. Se não fosse por isso, como ela teria conseguido fechar esse contrato?"

O olhar de Enrico se tornou mais sombrio. Ele murmurou entre os dentes:

— Talita... Então você roubou informações confidenciais do Grupo Araújo?

Finalmente, ele encontrou o ponto de onde poderia despejar toda a sua raiva. A indignação em seu tom era quase palpável:

— Quando o comitê de supervisão e o departamento jurídico começarem a te processar, quero ver quem vai conseguir te proteger. Se você não quis obedecer, não reclame quando eu não tiver piedade.

Flora, vendo que sua manipulação estava funcionando, ficou radiante por dentro:

— Enrico, com um problema tão grande, você não pode voltar atrás dessa vez. Não deixe que a pena te impeça de agir.

Enquanto falava, Flora tentou segurar o braço de Enrico, mas o perfume pesado que ela usava fez com que ele imediatamente se lembrasse do aroma suave e delicado de Talita.

Irritado, ele afastou o braço com brusquidão:

— Tenho coisas para resolver. Preciso ir.

Sem dar mais atenção a Flora, Enrico se virou e foi embora, deixando-a sozinha.

No banco traseiro do Porsche Cayenne, Talita parecia um pouco abatida.

— Ainda não conseguiu esquecer ele? — Perguntou Jorge, suspirando enquanto lhe entregava um copo de café quente.

— Não é isso, só me sinto desconfortável. — Respondeu Talita, pegando o café e forçando um sorriso.

Jorge olhou para Talita com um aperto no coração. Ele não podia deixar de notar o cansaço e as marcas de tudo o que ela vinha enfrentando. Com um gesto carinhoso, ele levantou a mão e bagunçou de leve os cabelos dela:

— Minha sobrinha não é feita de pedra. Sentir-se mal com mágoas ou decepções é perfeitamente normal. Mas você me ajudou tanto hoje. Diga, o que você quer como recompensa?

Talita lembrou-se da enorme quantidade de roupas e joias que já se acumulavam na mansão e balançou a cabeça apressadamente:

— Eu não preciso de nada. Desta vez, a parceria entre a Yision Limited e o Grupo Lifano já foi um grande passo para abrir novos mercados. Mas, para sustentar o suporte técnico necessário, acho que teremos que investir mais dinheiro. Isso significa que talvez o tio precise injetar mais recursos. Mas prometo que o retorno virá muito rápido.

Enquanto Talita falava, Jorge olhou para ela com ternura e tocou de leve a ponta do nariz dela, como fazia quando ela era criança.

— Eu já te contei que eu e seus outros três tios somos filhos adotivos de seu avô?

— Por que está trazendo isso à tona agora? — Perguntou Talita, franzindo o nariz com certa irritação. Ela não gostava de ouvir termos como "filhos adotivos". Para ela, laços de sangue eram importantes, mas não deveriam ser mais valiosos do que os laços de afeto. Se a família Pinto não tivesse sido tão cruel no passado...

Antes que pudesse mergulhar mais fundo em seus pensamentos, a voz tranquila de Jorge a interrompeu:

— O que quero dizer é que tudo o que pertence à família Esteves tem apenas uma herdeira legítima: você.

As palavras dele pegaram Talita de surpresa.

— O quê? Está me dizendo que vocês vão embora? — Perguntou Talita, enquanto segurava o pulso de Jorge com força, refletindo a ansiedade que sentia.

Seu coração ficou apertado ao pensar na possibilidade de ser abandonada mais uma vez, assim como aconteceu quando Flora voltou para a família Pinto.

A mão de Talita ainda estava vermelha e inchada por causa do incidente anterior, e Jorge percebeu isso imediatamente. O desconforto em seu rosto se transformou em pura dor. Ele abaixou o tom de voz, tentando acalmá-la:

— Claro que não vamos embora. Eu, seus tios e seus avós estaremos sempre com você, até o fim de nossas vidas. O que eu quis dizer é que tudo da família Esteves já é seu por direito. Então, não importa quanto dinheiro precisemos investir; essa é sua decisão, e você não precisa se preocupar em justificar nada.

O calor das palavras de Jorge envolveu Talita como um cobertor acolhedor. Pela primeira vez em muito tempo, ela se sentiu completamente protegida e amada. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela respirou fundo para se recompor. Não havia mais nada a temer enquanto estivesse cercada por esse amor incondicional.

Quando finalmente chegaram em casa, Talita tentou argumentar que não precisava de nada, mas foi em vão. Jorge já havia chamado uma equipe de designers, advogados e outros profissionais para ajustar roupas, preparar documentos e transferir propriedades. Ela passou horas sendo medida, assinando papéis e respondendo perguntas. Só conseguiu respirar novamente quando tudo acabou.

— Tio, agora já chega, não? — Disse Talita, jogando-se no sofá com uma expressão exausta. — Estou mais cansada agora do que depois de um dia inteiro de reuniões.

Jorge riu enquanto lhe entregava uma bandeja com frutas que ele mesmo havia cortado.

— Isso é só o começo. Você vai ter que se acostumar com tudo isso.

Ele fez uma pausa, como se estivesse ponderando algo, antes de continuar:

— A propósito, a família Gama já sabe que você voltou. Sobre o nosso acordo de casamento com eles, você...

— Que acordo de casamento? — Perguntou Talita, engasgando com um pedaço de fruta.

Jorge apressou-se em explicar:

— A família Gama é uma aliada de longa data da nossa. Esse casamento foi arranjado antes mesmo de você nascer. Mas, depois que você desapareceu, ninguém mais falou sobre isso. Agora que você está de volta...

Enquanto Jorge falava, Talita finalmente entendeu o que ele queria dizer. Ela levantou a mão para interrompê-lo, sua expressão mostrando claramente sua discordância:

— Eu não quero me casar.

As palavras foram ditas com firmeza. Após o término de um relacionamento tão conturbado, a última coisa que Talita queria era se envolver em algo tão complicado e emocionalmente desgastante.

Além disso, ela tinha certeza de que Jorge não havia explicado tudo à família Gama. Afinal, a imagem dela não era exatamente a de uma herdeira perfeita. Seu nome ainda estava manchado por escândalos, e ela nunca foi criada como uma dama da alta sociedade.

Jorge soltou uma risada, mas não insistiu:

— Tudo bem, Lita. Se você não quer se casar, então não vai se casar.

Embora acreditasse que o casamento seria benéfico, Jorge sempre respeitava a vontade de Talita. A família Esteves nunca precisou de alianças estratégicas. Para eles, a felicidade de Talita vinha em primeiro lugar.