Capítulo 4

Quando voltei para o quarto do hospital, Emilio tinha ido embora. Só restava um recibo de pagamento com sua assinatura, deixado sobre a cama.

A enfermeira explicou:

— Ele pagou a conta e saiu às pressas. Provavelmente tinha algo urgente para resolver.

Fiquei olhando para o recibo. Depois de uma longa pausa, perguntei suavemente:

— Como ele estava quando saiu?

A enfermeira pensou por um momento antes de responder:

— Ele não parecia bem. Os olhos estavam vermelhos, como se tivesse chorado.

Chorando?

Apertei o papel com mais força. Eu tinha subestimado o quanto Emilio se importava com Amber.

— Você está bem, senhorita? Está se sentindo mal de novo?

Balancei a cabeça e me virei para a enfermeira.

— Por favor, faça minha alta.

Ela pareceu surpresa.

— Mas você ainda...

— Eu não quero mais ficar aqui.

Eu não queria permanecer em um lugar que ainda carregava o leve cheiro do perfume de Amber.

Em vez de voltar para a mansão que eu dividia com Emilio, fui para minha própria casa.

Christopher ficou chocado ao me ver.

— Calista, você não estava no hospital? Por que voltou tão de repente?

Meus olhos encheram de lágrimas e eu me joguei nos braços dele, deixando que minhas lágrimas encharcassem sua camisa.

— Meu Deus. O que aconteceu, Calista? — A voz de Amber soou.

Afastei-me de Christopher e me virei para ela.

— O que você está fazendo aqui?

Christopher explicou:

— Estamos dando uma festa de boas-vindas para a Amber aqui. Ela é a estrela do dia.

Meus olhos encontraram os dela. Os de Amber estavam cheios de provocação e deboche.

Christopher bagunçou meu cabelo.

— Calista, o que houve? Por que estava chorando? Alguém te aborreceu?

Balancei a cabeça e sequei as lágrimas de qualquer jeito.

— Não é nada.

Depois, caminhei em direção à porta.

— Ei, pra onde você vai? Calista, o que houve? — Christopher começou a me seguir, mas Amber segurou a mão dele.

Ela disse suavemente:

— Deixa que eu converso com ela. Você não entende como as mulheres se sentem.

O som de saltos altos me seguiu. Amber se aproximou e sussurrou:

— Calista, vamos conversar?

Afastei sua mão e respondi friamente:

— Não temos nada pra conversar.

Em vez de ficar irritada, ela riu.

— Ah, é mesmo?

Ela se aproximou ainda mais, sua voz baixa o suficiente para só eu ouvir:

— Afinal, nós duas já dormimos com o mesmo homem.

Meu corpo se enrijeceu.

Amber me levou de volta para a sala de estar, onde suas amigas estavam reunidas. Seus olhos estavam cheios de maldade. Ela provavelmente já lhes contara quem eu era.

Mesmo assim, ela fez uma encenação e me apresentou ao grupo:

— Esta é o lixo que o Emilio ainda não teve tempo de jogar fora.

Suas palavras ofensivas me fizeram virar para ela com frieza.

— E você é o quê? Uma manipuladora que tenta enganar o Emilio fingindo ser difícil só pra fazê-lo se apaixonar?

Amber vacilou, claramente não esperando que eu reagisse. Sua expressão escureceu imediatamente, mas suas amigas entraram para me atacar.

— Manipuladora?

— Ha! Pelo menos a Amber conquistou o Emilio de verdade, diferente de você!

— É, ela não entrou chorando aqui mais cedo? Patética.

— Quer apostar quanto tempo vai levar pro Emilio terminar com ela?

— Eu aposto em um dia!

— Eu aposto em uma hora!

Arremessei um copo no chão, o estalo ecoando alto.

A sala ficou em silêncio, mas Christopher saiu correndo da cozinha. Amber imediatamente recolheu os cacos de vidro e segurou minha mão com cuidado, perguntando se eu havia me queimado.

Naquele momento, eu não me senti repulsiva. Apenas aliviada.

Então, era essa a mulher calculista que Emilio não conseguia esquecer há tantos anos. De repente, perguntei-me como ele reagiria se soubesse que toda sua dor e desespero por Amber não passavam de parte do jogo dela.

Claro, isso já não tinha mais nada a ver comigo. Virei-me para Christopher e disse:

— Ouvi do Sr. Slater que você queria me apresentar a alguém.

Ele piscou, depois riu.

— É. Ele até te contou isso? Desde quando vocês estão tão próximos?

Por um momento, tive vontade de contar que Emilio e eu não éramos apenas próximos. Nós nos beijávamos todos os dias, tocávamos um ao outro e trocávamos apelidos carinhosos.

Mas tudo que fiz foi sorrir amargamente e dizer:

— Não somos próximos. Quanto ao cara que você queria me apresentar... eu topo.

Mantive a cabeça abaixada enquanto saía, adicionando o contato do homem no meu celular. A foto do perfil dele era do mar, antiquada e simples.

Logo, ele respondeu minha mensagem com uma sua:

[Sou Rowan Sterling.]

O nome me pareceu familiar, como se eu já tivesse visto em algum lugar.

De repente, meu celular foi arrancado da minha mão. Emilio tinha aparecido em algum momento, com o rosto fechado.

— Por que não me avisou que recebeu alta?

Seu olhar caiu sobre meu celular e ele franziu a testa.

— Rowan Sterling? É nome de homem. Quem é ele? Por que você nunca mencionou ele antes?

Peguei meu celular de volta, ignorando suas perguntas.

— Você também saiu sem dizer nada, não foi?

Ele ficou rígido. Quando abriu a boca para responder, Christopher o chamou:

— Perfeito! Hoje é a festa de boas-vindas da Amber. Venha tomar um drink.

Emilio olhou para Amber, que estava no centro do grupo. Ele rosnou:

— Uma festa de boas-vindas da qual ninguém me falou?

Percebendo o clima, alguém interferiu:

— Ah, a Amber só convidou amigos próximos. Não leve pro pessoal.

— É, e o paquera dela, Jon Clarke, está aqui. Seria estranho te convidar.

— Paquera? Jon Clarke? — A expressão de Emilio escureceu completamente. Eu sabia que ele estava prestes a explodir.

Se eu não estivesse ali, ele provavelmente já teria ido atrás de Amber para confrontá-la.

Sorri amargamente ao ver seu corpo tremer de raiva e virei-me para Christopher.

— Estou indo pra casa.

Meus passos estavam instáveis porque minha febre ainda não tinha passado. Emilio instintivamente estendeu a mão para me segurar, mas parou quando olhou para Amber. Sua mão caiu, silenciosa.

— Calista, você não está bem. Por que não deixa o Emilio te levar pra casa? Ele não tem nada melhor pra fazer aqui, e eu estou ocupado recebendo os convidados mesmo. — Amber passou por Emilio e segurou minha mão.

Ele virou o rosto para ela, a dor em seus olhos me atravessando como uma lâmina.

Balancei a cabeça.

— Não há necessidade de incomodar o Sr. Slater.

Emilio ficou imóvel. Ele deu um passo, como se fosse me seguir, mas acabou desistindo. No fim, foi Christopher quem me levou para casa. Apoiei a cabeça na janela sem dizer uma palavra.

Meu celular vibrou com uma mensagem de um número desconhecido. A remetente se identificou como Amber e enviou uma foto do perfil de Emilio sentado no banco do motorista.

[Ah, como ele é rancoroso. No momento em que você saiu, ele deu um soco no Jon e me arrastou embora. Pobrezinho, ele só estava entrando no meu jogo. Vou ter que compensá-lo depois.]

[Você ainda não sabe lidar com homens, Calista. Você tem que ser quente e fria; ser cruel num momento e doce no outro. Mantenha-os na coleira e eles nunca vão te esquecer.]

Ampliei a foto e notei sangue no canto da boca de Emilio. Provavelmente da briga com Jon.

— Calista, o que está acontecendo com você? — Christopher encostou o carro e olhou para meus olhos avermelhados.

— Você esteve estranha o dia inteiro. Diga o que aconteceu e eu resolvo isso pra você!

Cerrei os lábios. Quando finalmente ia falar, um Porsche parou à nossa frente. Emilio e Amber desceram.

Ele a puxou para fora do carro e começaram a discutir de novo. Mas dessa vez, não terminou com eles se separando. Ele a prensou contra a porta do carro e a beijou com força. Suas mãos apertaram a cintura dela enquanto aprofundava o beijo.

Eu comecei a tremer enquanto observava em silêncio.

Christopher percebeu meu olhar e riu, achando que eu estava apenas curiosa.

— Não fique surpresa. Eles sempre foram assim. Um segundo, estão brigando. No outro, estão indo para um quarto. Já estou acostumado. Depois de tanto tempo separados, a Amber ainda deixa o Emilio na palma da mão.

Ele olhou para mim e, ao perceber meu suor frio, entrou em pânico.

— Calista, o que houve?

Agarrei meu abdômen e disse, fraca:

— Me... leva para o hospital...