Perdi Para Sempre o Meu Coração

Casar com um libertino exige verdadeira disciplina.Enquanto via o pacote de lenços em minha mão ficando cada vez mais fino, essas palavras surgiram do nada na minha mente.A garota sentada à minha frente era Camila Duarte, aluna do último ano da faculdade.Desde que entrou, já chorava havia duas horas.No total, seu romance açucarado com Renato não passara de um mês.Francamente, não valia a pena chorar até borrar toda a maquiagem.Abri a boca para tentar consolá-la, mas ela, com os olhos vermelhos, olhou direto para mim:— Ele disse que eu me parecia um pouco com você. Olhando bem... realmente parece.Fiquei surpresa. Nenhuma das outras havia dito isso antes.Camila fungou, enxugou os cantos dos olhos e, com ironia amarga, acrescentou:— Não preciso do seu consolo. Você é bem mais lamentável do que eu.E não era verdade?Todo Porto Azul sabia que Renato tinha se casado com uma esposa perfeita.Tão perfeita que, mesmo sendo traída repetidas vezes, ainda ajudava a enxugar as lágrimas d

Não consigo esquecer a voz fria de Renato do lado de fora da enfermaria naquele dia:— É melhor assim. Isso nunca deveria ter acontecido.Depois disso, parecia que tínhamos chegado a um acordo silencioso.Ele continuou a viver como o libertino que era.E eu me dizia que estava tudo bem, desde que a Família Moreira permanecesse respirando.Ele podia namorar, desde que não levasse ninguém à morte.Agora, foi ele quem quebrou a promessa.A Família Moreira já não passava de uma casca vazia desde a morte dos meus pais.E ele... eu também não queria mais insistir.Encostei a cabeça na janela do carro, respirando o ar quente que me sufocava.Vi-o acalmar Camila antes de voltar para o meu lado.Abriu a porta, colocou minha mão ao redor do pescoço e me carregou até a sala de emergência.Por cima do ombro dele, vi Camila fungar e me encarar com desprezo.Quando ele passou, ela tentou agarrar o casaco dele.Mas ficou com a mão no ar.Ele avançava a passos largos, o rosto — uma obra que nem o melh

Renato voltou a si e retirou a mão de repente.Com um gesto impaciente, disse:— Vá. Procure meu assistente, como você pediu.O homem que o acompanhava logo avançou para arrastar Marcelo para fora.Dei dois passos à frente.— Espere... o que você quis dizer com isso?Renato bloqueou meu caminho, suas mãos firmes apertando meus ombros como um torno.— Nada. Volte comigo.Soltei-me com esforço e corri até Marcelo, agarrando a lapela de seu casaco.— Você só quer dinheiro, não é? Eu lhe dou. Mas diga claramente o que quis dizer agora há pouco.Meu coração batia violentamente, o pânico sem precedentes quase me tirando o ar.Marcelo já havia se livrado da contenção. Passando por mim com calma, encarou diretamente Renato:— No mês passado, enquanto esperava pelo seu investimento, acho que finalmente compreendi muitas coisas.— Dez anos foram suficientes para provar que eu realmente não sirvo para os negócios. Mudei de área tantas vezes e todas fracassaram.— Então, quando soube do divórcio d

— Sempre me referi a elas como suas ex-namoradas, mesmo quando apareciam durante o nosso casamento.— No entanto, nenhuma delas foi a destruidora da nossa união. Do começo ao fim, quem me consumiu foi você.Todas eram apenas passageiras, fugazes como a água corrente.Eu já pensei que fossem, ao menos, um pouco melhores do que eu, que tivessem deixado algum traço no coração de Renato.Mas, ao ver seus olhos cada vez mais perdidos, senti de repente uma compaixão infinita por elas.— Não se lembra?— Esta aqui, que você preferia... depois de quase um ano juntos, ela apareceu de vestido de noiva para tentar reconquistá-lo.— E esta, que meus pais flagraram e foram confrontá-lo... por causa dela, você cortou vários empréstimos bancários da Família Moreira.Talvez fosse porque, nesses dez anos, meus pais já haviam feito exigências absurdas vezes demais, às claras e às escondidas.Ao mencioná-los novamente, meu coração mal se agitou.Mas a palma da mão de Renato começou a suar. Após longa pau

Parecia que desde pequena eu existia apenas como o contraponto de Juliana, como sua sombra imperfeita.Evitando o olhar dele, estendi a mão para ajeitar o cobertor.Minha mão, porém, congelou no ar: o afundamento de um lado vazio deixou meu peito em desamparo.Ele apenas sorriu de forma constrangida.— Agora não tenho mais capital para ser imprudente.Levantei a cabeça de repente, com o coração acelerado.— Renato! Você enlouqueceu? Com a Camila no carro, por que dirigiu tão rápido?A mão dele, sobre o cobertor, estremeceu levemente.Curvou os lábios, mas já não conseguia mostrar nem sombra de um sorriso.— Houve um instante em que pensei que ela fosse você...Naquele dia, ele fora se encontrar com Camila para negociar.Depois de mais de quinze dias de insanidade, estava à beira de enlouquecer com os próprios demônios.Sabia muito bem que seus pais queriam manter aquela criança, ainda que em circunstâncias vergonhosas.Ficou parado à porta por muito tempo, calculando cada trunfo de qu