Meu Noivo Deu os Rins para Minha Irmã e Eu Morri

Quando soubemos que haviam dois rins compatíveis e que tanto eu quanto Mariana poderíamos fazer o transplante, chorei de alegria.

Esperei três anos. Meu casamento com Henrique Silva foi sendo adiado várias vezes. Agora, com a cirurgia marcada, eu poderia finalmente me casar com ele sem nenhuma preocupação. Sem aquele medo constante de morrer antes do altar.

Enquanto sonhava com o vestido branco, com os votos, com o futuro... Mariana se ajoelhou diante de mim com um baque seco.

— Mana, eu estou doente há tanto tempo... Eu só queria saber como é viver num corpo normal. Você pode... Pode deixar os dois rins pra mim?

Fiquei paralisada. Não podia acreditar que Mariana teria coragem de pedir algo assim.

Antes que eu dissesse qualquer coisa, ela agarrou a barra da minha calça, falando baixinho, com lágrimas escorrendo pelo rosto:

— Mana, eu sofri dez anos a mais que você. Eu não aguento mais viver assim. Por favor... Deixa os dois rins pra mim. Espera o próximo doador. O Rick vai encontrar um pra você, eu sei que vai...

Mariana sempre foi mimada. Desde pequena, usava a doença como desculpa pra tirar tudo de mim. Mas agora... Até os rins ela queria tomar?

Afastei suas mãos com firmeza e respondi, palavra por palavra:

— Esses rins foram destinados pra nós duas. Um pra cada uma. Mesmo que você queira os dois, o hospital não vai autorizar. E eu também não. Esperei tempo demais por isso. Eu só quero fazer a cirurgia e me casar com o Rick. E quem garante que eu vou viver até o próximo doador? Mariana, um rim já é o suficiente.

Mal terminei de falar e alguém invadiu o quarto.

Era Henrique.

Ele correu até Mariana, ajoelhada no chão, e a levantou com todo cuidado, como se ela fosse feita de vidro. E então olhou pra mim, furioso:

— Sabrina, como você deixa a Mari nesse estado? Ela tá gravemente doente! Quer matar sua própria irmã?

Olhei para Henrique abraçando Mariana com tanta proteção. Um gosto amargo subiu pela garganta.

“Quando foi que eles ficaram tão íntimos assim?”

Mariana, com o rosto coberto de lágrimas, se encolheu no peito de Henrique como uma pobre vítima:

— Rick, não briga com a Sabrina... Ela só... Só não quer me dar os rins. Tudo bem. Me deixa morrer, vai. Se eu não posso viver como uma pessoa normal, então morrer é melhor.

Minha mãe entrou nesse momento. Ouviu só a última frase.

Sem hesitar, me deu um tapa no rosto.

— Como eu pude dar à luz uma filha tão cruel?! Tá querendo matar a própria irmã?! Desde pequena você é falsa, vive implicando com a Mari... Agora que temos os rins, você não quer ceder?! Acha que eu não sei o que você tá tramando?

Henrique franziu a testa ao me ver sendo agredida e tentou se aproximar, mas Mariana o segurou pelo braço.

E então começou a chorar ainda mais.

— Mãe, depois que eu morrer, promete cuidar bem do pai... Vocês já fizeram tanto por mim... Me perdoa por não conseguir retribuir... Rick, obrigada por achar os rins. Eu... Eu não sou digna. Se tiver próxima vida, eu pago essa dívida...

Ela dizia que queria morrer. Minha mãe a abraçava com desespero, chamando-a de “meu anjinho”, “meu tesouro”.