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capítulo 3

Author: Pequeno Ouriço
Depois de dois segundos de silêncio, ouvi uma risada seca do outro lado da linha.

— Clarice, você virou uma especialista em inventar mentiras, é isso? Tudo isso só pra me fazer correr atrás, pra me rebaixar e te bajular? Até uma história absurda dessas você tem coragem de inventar?

Fechei os olhos e soltei um riso amargo.

No fundo, eu já sabia. Sempre soube que o fim seria assim.

Sabia que, pra ele, não importava o que eu sofresse, nada nunca seria mais grave do que a Noemi quebrar uma unha.

Sabia de tudo. E mesmo assim, ainda tinha a ilusão de que poderia ser diferente.

De repente, uma onda forte de enjoo subiu pela garganta. Me curvei na beirada da cama e vomitei.

Do outro lado, Frederico continuava indiferente, falando como se estivesse num púlpito, acima de tudo e de todos.

— Quer fazer drama, faz sozinha. Mas não arrasta a Viviane junto nessa história! Ela e o Theo tinham marcado de conversar com os pais hoje, pra acertar a data do casamento, e agora ela simplesmente sumiu!

— Você não consegue lidar com seu próprio relacionamento e ainda quer estragar o dos outros. E agora até aprendeu a usar a própria saúde como desculpa? Clarice, você não acha que tá passando dos limites? O que vai ser da próxima vez, hein? Vai se machucar de propósito pra me chantagear?

É isso. Não importava o que acontecesse, Frederico sempre assumia que era tudo plano meu, tudo manipulação, pra explorar o pouco de compaixão que ainda restava nele.

Até no ano passado, naquela festa, quando a Noemi me fez comer um prato que continha o alimento ao qual sou gravemente alérgica. Fiquei com febre alta, quase morri.

E ele? Só me olhou de cima, como se eu fosse um incômodo.

— Clarice, esse seu teatro já me enoja. É patético o jeito como você tenta manipular todo mundo com essas mentiras. Você só queria entrar pra família Azevedo, né? Conseguiu enrolar meus pais até arrancar um noivado. E agora ainda tem a cara de pau de bancar a vítima?

Pra ele, eu nunca fui nada além disso: uma mulher mesquinha, que fazia cena e se machucava de propósito só pra tentar separar ele da Noemi.

Antes, toda vez que ele me dizia essas coisas, eu tentava explicar, me desesperava pra fazer ele entender.

Mas agora, tudo o que eu sentia era cansaço.

Estava tão cansada que nem forças tive pra dizer uma palavra tentando reverter aquilo.

Falei apenas, com voz baixa e firme:

— Frederico, eu quero romper o noivado. Quando estiver melhor, eu mesma explico tudo pro seu pai e pra sua mãe. Mas hoje, eu não vou à recepção.

E desliguei.

O que eu não esperava, era que Frederico realmente aparecesse.

Quando me viu deitada ali, na cama do hospital, a expressão dele se fechou. A testa se contraiu imediatamente.

Mas antes que ele dissesse qualquer coisa, Noemi entrou logo atrás.

Sem cerimônia, enlaçou o braço de Frederico e praticamente colou o corpo inteiro no dele.

Olhou pra mim como quem marca território, mas no rosto tentava forçar uma expressão de falsa compaixão.

— O que aconteceu, Clarice? Você tá assim por quê? — Disse, com a voz mansa, fingida.

— Me desculpa mesmo, Clarice. Aquele dia eu tava passando muito mal, por isso o Frederico foi me ver. Você não devia ficar brava com ele por causa disso. Os seus pais ainda estão no hotel esperando por você! Você faz isso e deixa todo mundo numa situação tão difícil...

Aquela voz melosa e falsa dela mal tinha terminado de sair quando Frederico a interrompeu, mas não pra me defender.

Olhou pra Noemi com um carinho visível nos olhos.

— Nena, você não precisa se desgastar falando com ela.

E então se virou pra mim, o olhar cortante, cheio de desprezo:

— Clarice! Isso já passou de todos os limites! Você acha que esse teatro vai me comover? Que eu vou pedir desculpa de joelhos? Agora você vai pedir desculpas à Nena. E vai se desculpar com nossos pais, com todo mundo! Essa é sua última chance. Se sair por essa porta, esquece de vez a família Azevedo!

Soltei uma risada seca.

— Frederico, entre nós dois não existe mais nada. Então, por favor, leve sua namorada Noemi e saia do meu quarto. Agora.

Ao ouvir o nome da Noemi sair da minha boca daquele jeito, Frederico se transtornou.

O rosto dele ficou vermelho, os olhos faiscando de raiva.

E então ele levantou a mão.

O tapa veio forte, estalado, direto no meu rosto.
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