Share

Capítulo 4

Author: Surpresa da Primavera
O diretor do hospital entrou no quarto com um sorriso exagerado no rosto. Sem sequer olhar para Sandra, ele caminhou diretamente em direção a Pablo e Mônica.

— Sra. Barros, não se preocupe tanto. Eu mesmo coordenei a equipe de especialistas do hospital para avaliar o jovem Mestre Caio. Ele está bem agora, só precisa de um pouco de repouso e logo poderá ter alta. — Disse o diretor do hospital.

Ao perceber que havia confundido as identidades, o rosto de Mônica ficou levemente ruborizado, mas ela não se apressou em explicar o engano.

Pablo, que estava atrás dela, manteve a expressão fria e indiferente. Ele estava prestes a dizer algo, mas Sandra foi mais rápida:

— Doutor, eu sou a mãe do Caio.

Sandra não fez questão de se declarar como "Sra. Barros". No fundo, ela já não sentia que tinha qualquer conexão com aquele homem frio ao seu lado.

O constrangimento tomou conta do ambiente, deixando o ar pesado.

O diretor ficou boquiaberto, seus olhos passando rapidamente de Sandra, vestida com um simples conjunto esportivo, para Mônica, que exibia roupas de grife impecáveis. Ele ficou atordoado com a confusão:

— Perdão, perdão, Sra. Barros! Não se preocupe, seu filho está fora de perigo.

Mônica abaixou os cílios e apertou os lábios com força, tentando esconder a insatisfação que sentia.

— Qual foi a causa da crise de asma do Caio? — Sandra perguntou, séria.

O médico explicou:

— Mestre Caio tem asma congênita devido à função pulmonar reduzida. A dieta dele precisa ser rigidamente controlada. Alimentos como frutos do mar e nozes podem desencadear crises graves, como esta. Felizmente, a intervenção foi rápida, caso contrário, poderia ter sido muito perigoso.

Pablo olhou para o rosto pálido do filho, visivelmente confuso:

— A dieta do Caio é sempre controlada com muito cuidado. Nunca deixamos ele consumir frutos do mar ou nozes, e até os professores da escola foram avisados. Como ele pode ter comido algo assim?

Seu olhar frio e acusador se voltou imediatamente para Sandra, como se a culpa fosse dela.

— Descobrir o que aconteceu é simples. — Sandra respondeu, com os olhos fixos em Mônica, cuja expressão inocente parecia intocável. — Todos na família Barros sabem que Caio tem asma. Ninguém seria tão imprudente a ponto de lhe oferecer algo perigoso. Basta verificar com quem ele esteve hoje antes de ir para a escola, e saberemos o que causou a crise.

Cada palavra dela parecia casual, mas a intenção era clara: todas as suspeitas apontavam para Mônica.

Mônica apertou Caio em seus braços, mas por dentro sentia o coração disparar como um tambor.

— Caio, o que você comeu? Quem te deu? — Sandra perguntou, encarando o filho com seriedade.

Desde que nasceu, Caio era o herdeiro natural do Grupo Barros. Ele deveria ser educado com disciplina, mas Pablo, sempre ocupado com o trabalho, era ausente no papel de pai. A avó de Caio, por outro lado, mimava o menino em excesso, levando toda a família Barros a tratá-lo como um reizinho.

O resultado foi que Caio se tornou um garoto mimado e teimoso, acostumado a ter tudo o que queria. E Sandra acabou sendo vista por ele como uma figura chata e controladora.

— Caio, o que aconteceu? — Pablo perguntou, sua expressão ficando sombria.

Os olhos escuros de Caio giraram nervosamente, e ele apertou os lábios com força. Ele não podia contar a verdade. Na ida para a escola, foi a tia Mônica quem lhe comprou um sorvete de pistache.

"O papai vai brigar com a tia Mônica se descobrir. Ela foi tão boa comigo, não quero que ela seja repreendida por causa disso." Pensou Caio.

— Foi… foi o Rui! — Caio respondeu rapidamente, o rosto corando. — Eu pedi para ele comprar sorvete. Eu só queria tomar sorvete, mas não sabia que tinha nozes!

Mônica continuou acariciando a mão do menino, calada, mas visivelmente tensa.

Pablo franziu as sobrancelhas, um vinco profundo surgindo entre elas:

— Rui?

Rui era o motorista que trabalhava para a família Barros há vinte anos. Ele era conhecido por ser extremamente discreto e responsável. Como ele poderia ter cometido um erro tão grave?

Sandra olhou para Caio, incrédula, enquanto sentia uma dor crescente no coração.

De repente, o filho que ela criara e amava parecia um estranho. Desde pequeno, Sandra sempre ensinara Caio a ser uma pessoa honesta e íntegra. Ela dizia que, independentemente da situação, ele nunca deveria mentir.

Mas agora, pela primeira vez, Caio estava mentindo. E o pior: era para proteger Mônica.

— Rui! — Sandra chamou, com os olhos marejados.

— Sim, senhora! — Rui, que já aguardava do lado de fora, entrou imediatamente no quarto e fez uma reverência respeitosa a Pablo. — Mestre.

Caio congelou no mesmo instante, sentindo um calafrio percorrer sua espinha.

Pablo olhou para Sandra com surpresa:

— Por que você chamou o Rui?

Sandra ignorou a expressão irritada do homem e respondeu com um tom calmo:

— Rui, o Caio disse que, hoje de manhã, no caminho para a escola, foi você quem comprou aquele sorvete de pistache para ele. Isso é verdade?

Rui, assustado, balançou as mãos rapidamente:

— Ah, Sra. Sandra, sem sua permissão eu jamais daria algo ao Mestre Caio! O sorvete, na verdade, foi…

— Foi… foi minha culpa! — A voz de Mônica tremeu, e ela não conseguiu mais sustentar a mentira.

Pablo arregalou os olhos, incrédulo, enquanto encarava o rosto delicado e banhado em lágrimas da mulher.

Caio agarrou a mão de Mônica com força, ansioso:

— Tia Mônica, isso não tem nada a ver com você!

— Pablo, foi tudo culpa minha… — Mônica fungou, o nariz pequeno ficando vermelho enquanto as lágrimas caíam sem parar. — Eu vi o Caio olhando para o sorvete com tanta vontade que não consegui resistir. Meu coração doeu por ele, então decidi comprar. Eu não sabia que ele tinha alergia a nozes… Pablo, Caio… foi tudo culpa minha. Me perdoem.

Pablo ficou em silêncio por um momento. Ele suspirou suavemente e, com um tom ameno, disse:

— Deixe isso para lá. Você não sabia da condição dele e não fez por mal. Só tome mais cuidado da próxima vez.

Os olhos de Mônica ainda estavam cheios de lágrimas, mas ela ergueu o rosto pálido e sorriu com doçura:

— Pablo…

Caio rapidamente se animou:

— Que bom! Eu sabia que o papai não ia ficar bravo. O papai gosta muito da tia Mônica!

Pablo manteve a expressão neutra e não respondeu.

Mesmo que o garoto tivesse dito a verdade, Sandra já havia aceitado esse fato cruel há muito tempo. Ainda assim, naquele momento, ela sentiu um frio nauseante subir pelo peito, como se o sangue em suas veias tivesse congelado.

Sandra se lembrou de uma ocasião no passado. Ela havia entrado no escritório para levar um café a Pablo. Preocupada em não interrompê-lo enquanto ele revisava documentos importantes, ela tirou os sapatos e caminhou descalça até a mesa para deixar o café.

No entanto, Pablo estava irritado por causa de problemas no trabalho. Sem aviso, ele deu um tapa na mesa, derrubando o café por toda parte:

— Quem te pediu para fazer essas coisas inúteis? Saia daqui!

Mesmo sendo culpa dele, Pablo descarregou toda sua frustração em Sandra. Naquela noite, ela chorou silenciosamente enquanto lavava a xícara de café.

Agora, ele estava ali, sendo paciente e gentil com Mônica, mesmo depois de ela ter colocado a vida de Caio em risco.

Se havia amor ou não, a diferença estava clara como o dia.

Sandra virou-se abruptamente e saiu apressada. Ficar naquele lugar por mais um segundo seria uma afronta à sua dignidade.

— Pablo, minha irmã parece chateada. Vou atrás dela para ver se está tudo bem. — Disse Mônica, enxugando as lágrimas enquanto se levantava para segui-la.

...

Sandra não havia andado muito quando sentiu uma pontada no joelho e uma fraqueza no corpo, forçando-a a parar.

— Irmã. — A voz de Mônica, carregada de sarcasmo, soou atrás dela. — Por que a pressa? Parece até que você e o Pablo estão brigados.

Era óbvio que Mônica estava tentando provocá-la.

— Mônica, você está orgulhosa de si mesma, não é? — Sandra virou-se, seus olhos frios como gelo fixando-se na outra mulher. — Manipular uma criança de cinco anos para mentir por você, colocar toda sua atenção no marido e no filho de outra pessoa… Quem te conhece acha que você é uma brilhante graduada em Ciência da Computação. Quem não te conhece, pensaria que você saiu direto de um bordel.

Sandra não disse a palavra "prostituta".

Ela era uma mulher educada e não queria descer ao nível de Mônica, discutindo como uma descontrolada em público.

Sandra sempre foi uma pessoa honrada e digna. Nunca conseguiria ser como Mônica e sua mãe, que roubavam o marido de outra mulher sem nenhum pudor, como se fosse algo completamente natural.

Mônica apertou os punhos, mas logo forçou um sorriso enquanto seus lábios vermelhos se curvavam.

— Irmã, por que você está sendo tão agressiva? Se o Caio mentiu, talvez isso mostre que você, como mãe, não tem se comunicado bem com ele. Não é culpa minha. Existe algo chamado "exemplo". As crianças são como folhas em branco. O que você desenha, elas refletem. Talvez você devesse se comportar melhor.

— Seu cérebro deve estar estragado. — Sandra riu, sem se abalar. — Você nunca se casou, mas quer me ensinar como ser mãe? Você nunca teve filhos, mas age como se fosse uma mãe experiente. Não tem medo de que o Pablo fique enojado com você?

O sorriso de Mônica desapareceu, e ela respirou fundo, tentando se recompor.

Sandra, sentindo-se exausta e com a dor no joelho aumentando, decidiu encerrar a conversa e se virou para ir embora.

Mas Mônica, ainda com raiva, não aceitou ser humilhada assim. Ela agarrou o braço de Sandra com força.

Sandra soltou um gemido baixo, e o suor escorreu de sua testa. Mônica havia acertado exatamente o local onde Sandra tinha se machucado ao salvar o chip, uma ferida que ainda estava coberta com curativos.

— Solte-me! — Sandra falou entre dentes, enquanto tentava se livrar do aperto de Mônica.

— Ah! — Mônica gritou quando Sandra conseguiu se soltar. Seu corpo frágil inclinou-se para trás, como se fosse cair.

Mas ela não chegou ao chão.

Pablo apareceu de repente, como que do nada, e a segurou com seus braços fortes, envolvendo-a em um abraço firme.
Continue to read this book for free
Scan code to download App

Latest chapter

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 30

    Sandra ergueu os olhos de repente, fixando o olhar no rosto imponente de Nina.— Mãe, o que houve? — Virgínia perguntou, ajustando imediatamente sua postura, visivelmente tentando amenizar a tensão.Nina voltou o olhar para Sandra, que estava sentada ao seu lado, e sua voz saiu surpreendentemente gentil e calorosa:— Sandra, daqui para frente, não importa se for um jantar de família ou uma refeição comum, você não precisa mais se preocupar em ir à cozinha ajudar e muito menos em trazer os pratos para a mesa.Os olhos de Sandra se arregalaram levemente, mostrando sua surpresa:— Vovó, eu...Nina inclinou-se levemente na direção dela e deu um leve tapinha em sua mão, como se quisesse tranquilizá-la:— Menina, relaxe. Sente-se aqui e aproveite o jantar. Hoje eu pedi para a cozinha preparar várias coisas que você gosta. Coma bastante, está bem?Uma onda de calor percorreu o coração de Sandra. Seus olhos brilharam ligeiramente, e ela sentiu um aperto de emoção. Naquele lar frio, a única pes

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 29

    — Vovó, tia Virgínia. Me desculpem, foi tudo culpa minha... — Mônica falou com a voz trêmula, as palavras cheias de autoacusação.Ela estava com o paletó largo de Pablo sobre os ombros, os cabelos ligeiramente desalinhados e os olhos vermelhos, como se tivesse passado por uma grande humilhação. Aquele ar frágil, de vítima, parecia feito sob medida para despertar o instinto protetor de qualquer homem.Pablo olhou para ela com seriedade, sua voz grave cortando o silêncio:— Você não tem que se desculpar. Não foi culpa sua.Sandra abaixou os olhos, sentindo um aperto inevitável no peito. Ela podia aceitar que Pablo largasse o trabalho para ajudar Mônica. Ela podia até suportar vê-lo emprestar seu paletó para protegê-la. Mas trazê-la para a Mansão da Família, apresentá-la à avó e à mãe, tratá-la com tanto favoritismo, destacando-a de maneira tão pública… Isso era demais. Ficava claro que ele estava completamente apaixonado por Mônica.— Tia Mônica, você está bem? Não ficou machucada, né? —

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 28

    Ao ouvir isso, Nina franziu as sobrancelhas.Sandra abaixou o olhar, seus longos cílios projetando uma sombra sobre o rosto. Seus dedos, que seguravam a xícara de café, apertaram-se levemente.— Vovó, tia Mônica está bem? Ela se machucou? — Caio perguntou com urgência, sua preocupação genuína transbordando. O tom de voz e a expressão eram idênticos aos de Pablo, sempre cheios de zelo por Mônica.Agatha, ansiosa por provocar Sandra, acrescentou com um ar de falsa preocupação:— Pois é, mamãe, Mônica sempre foi tão gentil, tão sensível, tão correta em tudo. Como é possível que ela tenha sido cercada por jornalistas? Será que alguém armou contra ela? A saúde dela já não é das melhores, e se ela ficou assustada, meu irmão deve estar arrasado.Sandra, no entanto, permaneceu impassível. Seu rosto frio e sereno não demonstrava nenhuma reação às palavras de Agatha.Virgínia suspirou profundamente e respondeu com um tom cansado:— Vamos esperar Pablo voltar para esclarecer os detalhes.— Hmpf!

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 27

    Agatha abaixou a voz, falando com frieza e determinação:— Arranje um jeito. Pode ser um acidente de carro, uma interceptação, qualquer coisa. Só me atrase a Sandra. Quero que ela não consiga chegar ao aeroporto a tempo.Hoje era um dia muito importante. Se Sandra se atrasasse, minha avó e minha mãe com certeza ficariam insatisfeitas com ela. E assim, essa mulher insignificante teria ainda menos valor na família Barros.— Sim, senhora, vou providenciar isso agora! — Respondeu a secretária com prontidão.Na rodovia, Sandra dirigia tranquilamente quando notou algo errado. Seus olhos se moveram rapidamente para o retrovisor, onde viu um carro preto acelerando de repente, emparelhando com o SUV que ela dirigia.Sandra apertou os lábios e estava prestes a pisar fundo no acelerador, mas naquele momento, o carro preto fez algo inesperado: jogou-se deliberadamente contra o lado dela!Mas Sandra não era uma amadora.Seus olhos brilharam com uma mistura de frieza e determinação. Ela pressionou o

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 26

    Sandra virou-se ao escutar a voz, curiosa.Uma van de luxo da Mercedes-Benz estava estacionada ali perto. A porta lateral deslizou lentamente, revelando duas pessoas sentadas lado a lado no interior. Uma mulher elegante, vestindo um vestido vinho de alta costura, com uma chamativa gargantilha de esmeraldas no pescoço, desceu primeiro. Seu rosto tinha traços marcantes, com um queixo fino e sobrancelhas arqueadas, exalando uma beleza agressiva. Era impossível não notar a semelhança com a mãe de Pablo. Aquela era Agatha Barros, a irmã mais nova dele.Caio, na verdade, havia notado Sandra assim que saíra da escola. Ela se destacava como sempre, com a pele tão clara que parecia feita de porcelana, brilhando sob o sol como um copo de leite fresco. No entanto, ele ainda estava magoado com ela por algo que Sandra nem mesmo entendia. Então, ignorando sua presença, ele virou-se direto para a van e acenou para Agatha:— Tia!Agatha desceu do carro com passos firmes e arrogantes, aproximando-se de

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 25

    Camila perguntou novamente:— Se eles querem namorar, podem ir a outro lugar. O que ela veio fazer aqui no escritório?O colega olhou ao redor, abaixando a voz para responder:— Ela veio por causa de um caso.— Que caso? — Camila questionou, visivelmente curiosa.— Alguns dias atrás, um executivo do Grupo Barros foi acusado de abuso de poder e de conivência com exploração sexual. Parece que a pessoa que fez a denúncia foi justamente essa garota. O Dr. Gabriel decidiu assumir o caso pessoalmente.O colega fez um som de desdém antes de continuar:— É óbvio que Dr. Gabriel só aceitou por causa da Sandra, sua namorada. Você sabe, as taxas do Dr. Gabriel são absurdamente altas. Uma pessoa comum nunca conseguiria pagar por isso. Ele tá claramente fazendo isso por amor. Reduzir seus próprios padrões por causa da pessoa amada? Isso aí só pode ser amor verdadeiro!Depois que o colega se afastou, Camila foi imediatamente para a escada de emergência. Ela pegou o celular com pressa e ligou para al

More Chapters
Explore and read good novels for free
Free access to a vast number of good novels on GoodNovel app. Download the books you like and read anywhere & anytime.
Read books for free on the app
SCAN CODE TO READ ON APP
DMCA.com Protection Status