Share

Capítulo 5

Author: Surpresa da Primavera
— Sandra, o que você está fazendo? — Pablo segurou a cintura fina de Mônica, enquanto seus olhos furiosos encaravam Sandra, cujo rosto pálido refletia a dor.

Sandra manteve o olhar frio sobre o casal hipócrita. Ela apertou o braço ferido com a mão direita, enquanto uma gota de suor escorria por sua delicada face.

— Eu não toquei nela. Foi ela quem me puxou. — A voz de Sandra era desprovida de qualquer emoção.

— Ela te puxou, e você a empurrou? — Pablo reprimiu a raiva, tentando manter o tom controlado. — Mônica é sua irmã. Vocês são da mesma família. Por que você sempre a ataca?

— Irmã? — Sandra riu suavemente, mas seus olhos brilhavam como lâminas afiadas. — Nós não temos a mesma mãe, nem o mesmo sobrenome. Que tipo de irmã ela seria para mim? Pode me deixar em paz com isso, por favor?

Sandra, de fato, já foi uma Neves. Mas, aos dezoito anos, após seu pai decidir vender a antiga casa da mãe em Cidade Kikuxi para cobrir uma dívida do grupo empresarial, a relação dos dois desmoronou. Eles tiveram uma briga feia, e o pai, diante de Mônica e da mãe dela, deu um tapa no rosto de Sandra. Desde então, Sandra decidiu abandonar o sobrenome Neves e passou a usar o sobrenome da mãe, Valente.

Pablo franziu a testa, os olhos fixos na esposa. Ele não entendia o que tinha acontecido com ela naquele dia. Era como se Sandra tivesse se transformado em uma tempestade, atacando todos ao redor.

— Pablo, foi minha culpa. Eu me desequilibrei. Tenho certeza de que minha irmã não fez de propósito… — Mônica sussurrou, aninhando-se no abraço caloroso de Pablo. Seus olhos estavam marejados, e sua voz carregava um tom de mágoa. — Eu só vim pedir desculpas à minha irmã. Afinal, foi por minha causa que Caio passou mal. Eu realmente me sinto muito culpada. Ela tem todo o direito de estar brava comigo.

— Sandra, peça desculpas à Mônica. — A voz de Pablo saiu fria como gelo, sua expressão carregada de autoridade.

Sandra congelou por um instante. Mais uma vez, ele estava pedindo que ela se desculpasse. Durante os cinco anos de casamento, as palavras que mais saíram de sua boca foram "me desculpe".

— Me desculpe, eu não fiz direito.

— Me desculpe, não pensei bem. Vou pedir desculpas à sua mãe.

Me desculpe, me desculpe, me desculpe… Mas ela realmente tinha culpa? Nunca.

Sandra olhou fixamente para Pablo, os olhos se enchendo de lágrimas ardentes. Um sorriso amargo curvou seus lábios:

— Pedir desculpas? Claro. Mas ela terá que ouvir minhas desculpas de joelhos.

O corpo de Mônica tremeu levemente nos braços de Pablo.

— Sandra, não ultrapasse os limites! — Pablo a repreendeu.

— Limites? — Sandra sorriu, um brilho desafiador em seus olhos. Parecia uma flor desabrochando no inverno, fria e orgulhosa. — Isso é só o começo, Sr. Pablo. Você ainda verá algo muito pior.

Sem dizer mais nada, Sandra se virou e saiu sem olhar para trás.

Pablo ficou parado, observando a silhueta delicada, mas cheia de determinação, desaparecer pelo corredor. O sorriso que ela deixou para trás era algo que ele nunca tinha visto antes. Seus olhos escureceram.

Mônica percebeu que Pablo ainda olhava na direção em que Sandra tinha saído. Ela mordeu o lábio inferior, baixando os olhos, antes de falar gentilmente:

— Pablo, por que você não vai atrás dela? Eu estou bem, de verdade.

Pablo baixou as longas pestanas, abraçando Mônica pela cintura para ajudá-la a se levantar:

— Não se preocupe com ela. Vou levá-la para casa.

...

Naquela tarde, Caio já estava estável e foi levado de volta ao Condomínio Lua Bela sob os cuidados de Rui e de um segurança.

Mesmo com uma reunião importante marcada para a tarde, Pablo fez questão de acompanhar Mônica até sua casa, já que ela ainda não se sentia bem. Ele só foi para o trabalho depois de deixá-la em segurança.

Pela primeira vez, Pablo, que sempre foi extremamente pontual, chegou atrasado a uma reunião. Dez diretores da alta gestão ficaram esperando por ele por quase uma hora.

Na hora do jantar, Pablo voltou para casa.

Assim que entrou, tirou o paletó do braço e, sem pensar, o lançou para a frente, esperando que ele fosse pego. Mas, em vez de ser recebido por mãos delicadas, o paletó caiu no chão com um som seco.

Pablo olhou para o paletó jogado no chão, e uma sombra escura cobriu sua expressão.

Nos últimos cinco anos, sempre que ele chegava em casa, Sandra vinha correndo, usando um avental, com um sorriso dócil nos lábios. Mesmo com a pressa, ela sempre fazia questão de pegar o paletó e ajudá-lo a trocar os sapatos, cuidando dele com uma dedicação que nem os empregados conseguiam igualar.

Porque os empregados eram contratados. Mas Sandra era sua esposa. Ela o amava tanto que fazia tudo com perfeição, sem nunca reclamar.

Agora, a ausência dela deixou uma irritação sufocante em seu peito.

— Edgar! — Ele chamou, a voz carregada de impaciência.

— Mestre, o senhor chegou! — Edgar apareceu imediatamente, apressado. — O jantar está pronto. O Mestre Caio já está na sala de jantar esperando o senhor.

Pablo olhou ao redor da sala de estar, que parecia fria e deserta:

— Sandra já voltou?

— Ainda não… O jantar foi preparado pelo chef da cozinha. Espero que esteja do seu agrado.

Pablo contraiu os lábios em uma linha fina enquanto soltava o nó da gravata com os dedos e caminhava a passos largos em direção à sala de jantar.

Na longa mesa, apenas ele e Caio estavam sentados, comendo em silêncio. Apesar das iguarias servidas, o ambiente estava frio e sem vida, como se os pratos fossem apenas enfeites. Cada garfada parecia desprovida de sabor.

— Papai, terminei. — Caio disse, colocando os talheres na mesa com um bico irritado.

Pablo lançou um olhar para o filho:

— Só isso? Você mal comeu. O que está acontecendo?

— Não é isso, papai. É que a comida não é tão gostosa quanto a que a mamãe faz. — Caio respondeu com um tom de desânimo, antes de continuar. — Eu queria o ensopado de carne com tomate que ela faz, o pão torrado, as costelas, as asinhas de frango fritas...

— Chega. — Pablo interrompeu, a maçã do rosto tensionando enquanto engolia em seco. — Isso são apenas pratos simples, que qualquer um pode fazer. Você é o futuro herdeiro do Grupo Barros. Como pode se deixar levar por algo tão trivial?

Caio abaixou a cabeça e, sem dizer mais nada, forçou-se a comer mais algumas garfadas.

Pablo pegou o guardanapo e limpou os lábios com elegância, antes de ordenar:

— Caio, ligue para sua mãe e pergunte onde ela está e quando vai voltar para casa.

— Não vou. — Caio respondeu de imediato, cruzando os braços em birra. — Hoje a mamãe foi muito má. Ela fez a tia Mônica chorar! Ela ainda nem pediu desculpas para a tia Mônica, e você quer que eu ligue para ela? Parece até que estou traindo a tia Mônica...

Era impressionante ouvir uma criança tão pequena usar uma palavra tão pesada como "trair".

O rosto de Pablo escureceu instantaneamente, e ele estava prestes a repreender o filho quando Edgar, o mordomo, deu um pequeno grito:

— Ah, Mestre Pablo! Acabei de lembrar, hoje é o aniversário da Sra. Sandra!

Pai e filho congelaram, trocando olhares.

— Será que ela ficou chateada porque o senhor esqueceu o aniversário dela? Talvez seja por isso que ela está brava e não quer voltar para casa.

Os olhos de Pablo ficaram semicerrados, como se finalmente tivesse entendido tudo.

...

Duas horas depois, Sandra entrou na mansão arrastando uma mala grande. Sem dizer uma palavra, ela foi diretamente para o quarto e começou a abrir o guarda-roupa, jogando roupas dentro da bagagem com movimentos rápidos e decididos.

— O que você está fazendo? — A voz de Pablo ecoou pelo quarto enquanto ele entrava, seu rosto sério e gelado como o inverno.

Sandra, de costas para ele, continuou a empacotar seus pertences, sem hesitar:

— Estou arrumando minhas coisas. Vou sair para morar em outro lugar.

— Sair? E o Caio? — Pablo perguntou, com um leve tom de ironia nos lábios, como se achasse graça na declaração dela. — Você ama esse menino mais do que tudo. Ele é o centro da sua vida. Antes, você nem conseguia passar um dia longe dele sem se desesperar. E agora vai embora? Você realmente tem coragem?

Sandra parou por um momento, com a cintura esguia ereta, pensando profundamente.

Quando Pablo começou a acreditar que ela recuaria, como sempre fazia, Sandra finalmente respondeu, sua voz firme e resoluta:

— Tenho.

A expressão de Pablo congelou por um instante.

Sandra virou-se para ele, encarando-o com olhos frios:

— Ele ainda tem a tia Mônica. Além disso, ele não precisa mais de mim.

Pablo deu dois passos largos em direção a ela, parando ao seu lado como uma montanha de gelo. Sua voz saiu cortante:

— Sandra, você ouve o que está dizendo? Que tipo de mãe você é? Caio é seu filho! Como pode simplesmente deixá-lo?

Sandra não recuou. Sua voz era calma, mas cheia de amargura:

— Se aos seus olhos eu sou uma mãe tão incompetente, que não serve para nada, então vamos resolver isso de uma vez. Cada um segue seu caminho e vive sua vida. Você pode arranjar outra mãe para o Caio, alguém que ele goste mais...

Antes que ela terminasse de falar, Pablo agarrou seu pulso com força, interrompendo-a.

— Solte-me. — Sandra disse, com os dentes cerrados, tentando se libertar.

Mas a diferença de força era enorme, e Pablo não a soltou. Sandra já estava fisicamente fraca, e a luta contra ele fez o suor escorrer de sua testa.

Pablo nunca foi gentil com ela. Ele sempre foi rude, até mesmo na cama. Nos primeiros meses de casamento, ele constantemente a machucava, deixando marcas que ela precisava esconder com roupas de mangas compridas, mesmo no verão.

Ela se lembrava de como as empregadas sussurravam pelas costas dela, zombando de sua falta de dignidade.

Sandra se perguntava se Pablo era assim com Mônica também. Mas, ao pensar na pele macia e impecável de Mônica, sempre à mostra em vestidos sem mangas e saias curtas, ela sabia a resposta. Pablo nunca machucaria Mônica. Afinal, ela era a mulher que ele amava de verdade, sua joia preciosa.

De repente, Sandra sentiu algo ser colocado em sua mão.

Pablo havia entregado a ela uma pequena caixa de veludo negro. Sua expressão permanecia fria e arrogante, mas seus olhos carregavam uma intensidade impenetrável:

— Hoje é o seu aniversário, certo? Feliz aniversário.
Continue to read this book for free
Scan code to download App

Latest chapter

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 30

    Sandra ergueu os olhos de repente, fixando o olhar no rosto imponente de Nina.— Mãe, o que houve? — Virgínia perguntou, ajustando imediatamente sua postura, visivelmente tentando amenizar a tensão.Nina voltou o olhar para Sandra, que estava sentada ao seu lado, e sua voz saiu surpreendentemente gentil e calorosa:— Sandra, daqui para frente, não importa se for um jantar de família ou uma refeição comum, você não precisa mais se preocupar em ir à cozinha ajudar e muito menos em trazer os pratos para a mesa.Os olhos de Sandra se arregalaram levemente, mostrando sua surpresa:— Vovó, eu...Nina inclinou-se levemente na direção dela e deu um leve tapinha em sua mão, como se quisesse tranquilizá-la:— Menina, relaxe. Sente-se aqui e aproveite o jantar. Hoje eu pedi para a cozinha preparar várias coisas que você gosta. Coma bastante, está bem?Uma onda de calor percorreu o coração de Sandra. Seus olhos brilharam ligeiramente, e ela sentiu um aperto de emoção. Naquele lar frio, a única pes

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 29

    — Vovó, tia Virgínia. Me desculpem, foi tudo culpa minha... — Mônica falou com a voz trêmula, as palavras cheias de autoacusação.Ela estava com o paletó largo de Pablo sobre os ombros, os cabelos ligeiramente desalinhados e os olhos vermelhos, como se tivesse passado por uma grande humilhação. Aquele ar frágil, de vítima, parecia feito sob medida para despertar o instinto protetor de qualquer homem.Pablo olhou para ela com seriedade, sua voz grave cortando o silêncio:— Você não tem que se desculpar. Não foi culpa sua.Sandra abaixou os olhos, sentindo um aperto inevitável no peito. Ela podia aceitar que Pablo largasse o trabalho para ajudar Mônica. Ela podia até suportar vê-lo emprestar seu paletó para protegê-la. Mas trazê-la para a Mansão da Família, apresentá-la à avó e à mãe, tratá-la com tanto favoritismo, destacando-a de maneira tão pública… Isso era demais. Ficava claro que ele estava completamente apaixonado por Mônica.— Tia Mônica, você está bem? Não ficou machucada, né? —

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 28

    Ao ouvir isso, Nina franziu as sobrancelhas.Sandra abaixou o olhar, seus longos cílios projetando uma sombra sobre o rosto. Seus dedos, que seguravam a xícara de café, apertaram-se levemente.— Vovó, tia Mônica está bem? Ela se machucou? — Caio perguntou com urgência, sua preocupação genuína transbordando. O tom de voz e a expressão eram idênticos aos de Pablo, sempre cheios de zelo por Mônica.Agatha, ansiosa por provocar Sandra, acrescentou com um ar de falsa preocupação:— Pois é, mamãe, Mônica sempre foi tão gentil, tão sensível, tão correta em tudo. Como é possível que ela tenha sido cercada por jornalistas? Será que alguém armou contra ela? A saúde dela já não é das melhores, e se ela ficou assustada, meu irmão deve estar arrasado.Sandra, no entanto, permaneceu impassível. Seu rosto frio e sereno não demonstrava nenhuma reação às palavras de Agatha.Virgínia suspirou profundamente e respondeu com um tom cansado:— Vamos esperar Pablo voltar para esclarecer os detalhes.— Hmpf!

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 27

    Agatha abaixou a voz, falando com frieza e determinação:— Arranje um jeito. Pode ser um acidente de carro, uma interceptação, qualquer coisa. Só me atrase a Sandra. Quero que ela não consiga chegar ao aeroporto a tempo.Hoje era um dia muito importante. Se Sandra se atrasasse, minha avó e minha mãe com certeza ficariam insatisfeitas com ela. E assim, essa mulher insignificante teria ainda menos valor na família Barros.— Sim, senhora, vou providenciar isso agora! — Respondeu a secretária com prontidão.Na rodovia, Sandra dirigia tranquilamente quando notou algo errado. Seus olhos se moveram rapidamente para o retrovisor, onde viu um carro preto acelerando de repente, emparelhando com o SUV que ela dirigia.Sandra apertou os lábios e estava prestes a pisar fundo no acelerador, mas naquele momento, o carro preto fez algo inesperado: jogou-se deliberadamente contra o lado dela!Mas Sandra não era uma amadora.Seus olhos brilharam com uma mistura de frieza e determinação. Ela pressionou o

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 26

    Sandra virou-se ao escutar a voz, curiosa.Uma van de luxo da Mercedes-Benz estava estacionada ali perto. A porta lateral deslizou lentamente, revelando duas pessoas sentadas lado a lado no interior. Uma mulher elegante, vestindo um vestido vinho de alta costura, com uma chamativa gargantilha de esmeraldas no pescoço, desceu primeiro. Seu rosto tinha traços marcantes, com um queixo fino e sobrancelhas arqueadas, exalando uma beleza agressiva. Era impossível não notar a semelhança com a mãe de Pablo. Aquela era Agatha Barros, a irmã mais nova dele.Caio, na verdade, havia notado Sandra assim que saíra da escola. Ela se destacava como sempre, com a pele tão clara que parecia feita de porcelana, brilhando sob o sol como um copo de leite fresco. No entanto, ele ainda estava magoado com ela por algo que Sandra nem mesmo entendia. Então, ignorando sua presença, ele virou-se direto para a van e acenou para Agatha:— Tia!Agatha desceu do carro com passos firmes e arrogantes, aproximando-se de

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 25

    Camila perguntou novamente:— Se eles querem namorar, podem ir a outro lugar. O que ela veio fazer aqui no escritório?O colega olhou ao redor, abaixando a voz para responder:— Ela veio por causa de um caso.— Que caso? — Camila questionou, visivelmente curiosa.— Alguns dias atrás, um executivo do Grupo Barros foi acusado de abuso de poder e de conivência com exploração sexual. Parece que a pessoa que fez a denúncia foi justamente essa garota. O Dr. Gabriel decidiu assumir o caso pessoalmente.O colega fez um som de desdém antes de continuar:— É óbvio que Dr. Gabriel só aceitou por causa da Sandra, sua namorada. Você sabe, as taxas do Dr. Gabriel são absurdamente altas. Uma pessoa comum nunca conseguiria pagar por isso. Ele tá claramente fazendo isso por amor. Reduzir seus próprios padrões por causa da pessoa amada? Isso aí só pode ser amor verdadeiro!Depois que o colega se afastou, Camila foi imediatamente para a escada de emergência. Ela pegou o celular com pressa e ligou para al

More Chapters
Explore and read good novels for free
Free access to a vast number of good novels on GoodNovel app. Download the books you like and read anywhere & anytime.
Read books for free on the app
SCAN CODE TO READ ON APP
DMCA.com Protection Status