Share

Capítulo 3

Author: Surpresa da Primavera
Naquele dia, Mônica usava um vestido branco até os joelhos, de corte simples, que realçava sua cintura fina. Em pé, com elegância, ela parecia uma rosa desabrochando na névoa da manhã, com o frescor de gotas de orvalho ainda reluzindo nas pétalas.

— Tia Mônica! — Caio gritou animado, correndo em direção à mulher e se jogando em seus braços, abraçando sua cintura com força.

Os empregados que observavam a cena trocaram olhares intrigados. Era evidente que aquela mulher tinha muito poder.

O Sr. Pablo não só permitia que Mônica entrasse e saísse do Condomínio Lua Bela quando quisesse, como também o pequeno e temperamental Caio era absurdamente próximo dela, parecendo mais um filho legítimo do que um sobrinho.

Todos sabiam que Caio, na maioria das vezes, não dava nem um pouco de atenção à própria mãe.

"É como um tigre que caça uma gazela." Pensaram os empregados. "As leis da natureza sempre prevalecem."

Mônica acariciou os cabelos de Caio com delicadeza, irradiando um brilho maternal. Em seu pulso esquerdo, ela usava a pulseira de cristais que Caio havia lhe presenteado. Com um sorriso gentil, ela ergueu os olhos para Pablo e disse:

— Pablo, vim ver minha irmã. Ela está em casa?

A expressão de Pablo endureceu, e ele franziu levemente as sobrancelhas:

— Ontem à noite, ela não ficou na sua casa?

— Não, não ficou. Por quê? Ela passou a noite fora? — Perguntou Mônica, com uma expressão de surpresa e preocupação no rosto. — Pablo, você e ela... brigaram?

Uma sombra de irritação passou pelos traços de Pablo enquanto ele respondia com frieza:

— Ela não sabe valorizar o que tem.

Mônica deu um pequeno sorriso, com um tom compreensivo na voz:

— Eu sei que minha irmã é um pouco teimosa. Mas brigas entre casais são normais. Pablo, por que você não admite o erro e faz as pazes com ela? Tenho certeza de que ela voltaria para casa imediatamente.

Pablo curvou levemente os lábios, sua voz gelada e cheia de desprezo:

— Eu pedir desculpas? Ela não merece.

— Isso mesmo! — Disse Caio, com as bochechas infladas de raiva. — Foi a mamãe que errou! Ela saiu sem avisar e nem se importa com a gente! Se alguém tem que pedir desculpas, é ela!

Pablo olhou para o filho com indiferença:

— Caio, está na hora de ir para a escola.

— Ah... tá bom. — Caio respondeu, relutante.

Mesmo assim, ele não soltou Mônica e continuou abraçando-a:

— Tia, você pode me levar para a escola hoje? Por favor! Eu sinto tanto a sua falta e quero passar mais tempo com você!

Mônica riu baixinho e apertou delicadamente as bochechas dele:

— Caio, nós passamos todos esses dias juntos. Nós vimos ontem!

— Mas eu queria estar com você todos os dias. Seria tão bom se você fosse minha mamãe!

Caio soltou as palavras com inocência infantil, mas o impacto deixou todos ao redor boquiabertos.

Felizmente, Sandra não estava presente para ouvir aquilo. Caso contrário, seu coração teria sido partido em mil pedaços.

— Caio, não diga isso... — Mônica repreendeu suavemente, mas seus olhos se levantaram timidamente, lançando um olhar cheio de insinuações para Pablo.

Pablo, no entanto, permaneceu impassível. O comentário de Caio não parecia tê-lo afetado:

— Mônica, leve Caio para a escola, por favor.

O rosto de Mônica se iluminou, e ela concordou com um aceno obediente:

— Claro, será um prazer.

...

Enquanto isso, no Condomínio Diamante.

Sandra só acordou às nove da manhã. Foi a primeira vez, desde que se casou, que teve uma noite de sono tranquila e não precisou ser despertada por um alarme.

Nos últimos cinco anos, todas as manhãs, ela acordava às seis para preparar o café de Pablo, escolher a roupa dele e arrumar sua gravata. Depois disso, ajudava Caio a escovar os dentes, preparava o café da manhã do menino e o levava pessoalmente para a escola. Só então corria para o trabalho.

Por causa disso, Sandra frequentemente se atrasava. Não sabia mais quantas vezes havia sido repreendida em público pela diretora do departamento.

No começo, ela ficava constrangida e envergonhada. Mas, com o tempo, aprendeu a ignorar as palavras cruéis, focando apenas em cumprir suas responsabilidades.

Ela sabia que, se Pablo apenas fizesse um pedido, ninguém no Grupo Barros ousaria maltratá-la.

Mas Pablo odiava privilégios. Ele dizia que todos deveriam ser tratados igualmente e que o mérito era o único critério que importava.

Por isso, ninguém na empresa, exceto Hugo, sabia que Sandra era, na verdade, a Sra. Barros.

Sandra costumava acreditar que Pablo era um homem justo e correto.

Mas, com o tempo, ela percebeu a verdade. Ele levava Mônica a leilões, coquetéis de luxo e até a eventos que ela, Sandra, sempre quis participar, como a cúpula de inteligência artificial e o musical da semana passada.

Foi então que Sandra acordou para a realidade.

Pablo não era um homem justo. Ele era um hipócrita, um resíduo de lixo da sociedade.

Para ele, a esposa era apenas uma empregada que prestava serviços íntimos em troca de um contrato de casamento. Mônica, por outro lado, era a joia preciosa pela qual ele estava disposto a quebrar todas as suas regras.

Sandra havia acabado de se sentar à mesa para tomar o café da manhã, mas, sem motivo aparente, sentia-se inquieta.

De repente, o toque do celular quebrou o silêncio. Era a professora de Caio.

Sandra hesitou por um momento antes de atender:

— Olá, Professora Ana.

— Sra. Sandra, o Caio teve uma crise de asma! A escola já chamou uma ambulância para levá-lo ao hospital mais próximo. Por favor, venha rápido para acompanhar seu filho!

O instinto materno falou mais alto, e Sandra, sem sequer terminar sua refeição, levantou-se às pressas e saiu correndo pela porta.

...

— Caio!

Quando Sandra entrou no quarto do hospital, ofegante, o corpo encharcado de suor e o coração disparado de preocupação, a cena que encontrou fez seu peito se apertar como se tivesse levado uma facada.

Seu filho estava sentado na cama, pálido e visivelmente fraco, nos braços de Mônica, que chorava como se o mundo estivesse desabando.

Pablo, com sua imponente silhueta, estava ao lado deles, os olhos profundos transmitindo preocupação. Ele parecia o protetor perfeito daquela pequena "família".

— Tia Mônica, não precisa chorar… Eu sei que você se preocupa comigo. — Disse Caio, ainda com a respiração um pouco ofegante, tentando consolar Mônica. — Olha, eu estou bem agora, não estou?

Mônica soluçava, completamente abalada, as lágrimas correndo sem parar:

— Caio… você quase me matou de susto! Se algo tivesse acontecido com você, eu não saberia como continuar vivendo!

Os olhos de Caio ficaram vermelhos, e ele levantou a mãozinha para enxugar as lágrimas de Mônica. Ao mesmo tempo, ele lançou um olhar ressentido para Sandra, que acabara de entrar.

Sandra sentiu o corpo gelar. Era como se tivesse caído em um lago congelado. Suas pernas finas tremiam dentro da calça. Ela ainda estava se recuperando do aborto, e a corrida apressada até o hospital não ajudara. No caminho, ela tropeçara na escada e agora o joelho sangrava novamente.

Por mais que Caio fosse frio com ela, ele ainda era seu filho, e Sandra não conseguia abandonar completamente o amor que sentia por ele.

Mas o olhar que Caio lhe lançou naquele momento não tinha nenhum resquício de carinho ou afeição. Pelo contrário, parecia que a considerava uma inimiga.

— Sandra, é assim que você cuida do filho? — A voz de Pablo soou firme e cortante enquanto ele dava passos largos em sua direção.

Sandra encontrou os olhos dele, que brilhavam com uma raiva contida, e respondeu com calma:

— O que eu fiz de errado?

— O que você fez de errado? Você ainda tem coragem de perguntar? — Pablo a encarava de cima, como um juiz condenando um réu. Sua voz era fria como gelo. — Sua família é um desastre, sua carreira é um fiasco, e eu nunca exigi nada de você. Mas por que você não consegue cumprir a tarefa mais simples de cuidar do seu próprio filho? Você é irresponsável, desaparece a noite toda e ainda se atreve a dizer que ama o Caio? Você me decepciona profundamente!

Mônica, que estava no canto segurando Caio, observava a discussão com um brilho frio e calculista no olhar.

Sandra manteve a postura firme, embora sua voz estivesse carregada de cansaço.

— Durante cinco anos, eu dediquei minha vida inteira à nossa família. Não tenho vida social, sigo uma rotina que vai da casa ao trabalho, e nunca cheguei tarde em casa, exceto por horas extras. — Ela ergueu os olhos, encarando Pablo com uma frieza que ele não estava acostumado. — Ontem à noite, eu não voltei para casa. E daí? Por acaso eu cometi um crime? Ou é pecado querer um pouco de liberdade? Eu sou uma prisioneira que precisa te dar satisfações todos os dias?

Caio olhou para a mãe fraca e submissa, surpreso. Ele nunca falava tão diretamente.

Até Mônica ficou momentaneamente atônita ao ver a atitude da Sandra.

O silêncio tomou conta do quarto.

Pablo, com o maxilar travado e os olhos escurecidos, parecia prestes a explodir. Mas, em vez disso, ele deixou escapar um sorriso frio e irônico.

"Então essa mulher sem graça e submissa agora tem coragem de me enfrentar? Será que ela acha que a posição de Sra. Barros está garantida? Ela está cada vez mais ousada." Pensou ele.

Sandra, entretanto, desviou o assunto, cansada de discutir:

— Por que Caio teve uma crise de asma? Ele comeu algo que não deveria?

Pablo cruzou os braços, olhando-a com desdém, como se estivesse falando com um funcionário incompetente:

— Como eu vou saber? Esse é o tipo de coisa que você deveria descobrir. Afinal, você não é a mãe dele?

Sandra riu, mas o riso era carregado de incredulidade. Ela simplesmente não conseguia acreditar que alguém em plena consciência poderia dizer algo assim:

— Eu não preciso de você para ter filhos? Eu conseguiria ter um filho sozinha? Enquanto eu não estava aqui, como pai, você simplesmente não fez nada? O Caio não é seu filho também?

Pablo ficou de olhos arregalados, claramente pego de surpresa.

— Onde está escrito que é obrigação exclusiva da mãe cuidar da criança? Só porque eu assumo essa responsabilidade, você acha que tudo o que faço é um dever automático? Que eu devo isso a vocês? — Continuou Sandra.

O rosto de Pablo escureceu, sua expressão tornou-se fria como gelo, e sua voz, carregada de fúria, cortou o ar:

— Sandra!

Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, a porta do quarto foi abruptamente aberta.
Continue to read this book for free
Scan code to download App

Latest chapter

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 30

    Sandra ergueu os olhos de repente, fixando o olhar no rosto imponente de Nina.— Mãe, o que houve? — Virgínia perguntou, ajustando imediatamente sua postura, visivelmente tentando amenizar a tensão.Nina voltou o olhar para Sandra, que estava sentada ao seu lado, e sua voz saiu surpreendentemente gentil e calorosa:— Sandra, daqui para frente, não importa se for um jantar de família ou uma refeição comum, você não precisa mais se preocupar em ir à cozinha ajudar e muito menos em trazer os pratos para a mesa.Os olhos de Sandra se arregalaram levemente, mostrando sua surpresa:— Vovó, eu...Nina inclinou-se levemente na direção dela e deu um leve tapinha em sua mão, como se quisesse tranquilizá-la:— Menina, relaxe. Sente-se aqui e aproveite o jantar. Hoje eu pedi para a cozinha preparar várias coisas que você gosta. Coma bastante, está bem?Uma onda de calor percorreu o coração de Sandra. Seus olhos brilharam ligeiramente, e ela sentiu um aperto de emoção. Naquele lar frio, a única pes

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 29

    — Vovó, tia Virgínia. Me desculpem, foi tudo culpa minha... — Mônica falou com a voz trêmula, as palavras cheias de autoacusação.Ela estava com o paletó largo de Pablo sobre os ombros, os cabelos ligeiramente desalinhados e os olhos vermelhos, como se tivesse passado por uma grande humilhação. Aquele ar frágil, de vítima, parecia feito sob medida para despertar o instinto protetor de qualquer homem.Pablo olhou para ela com seriedade, sua voz grave cortando o silêncio:— Você não tem que se desculpar. Não foi culpa sua.Sandra abaixou os olhos, sentindo um aperto inevitável no peito. Ela podia aceitar que Pablo largasse o trabalho para ajudar Mônica. Ela podia até suportar vê-lo emprestar seu paletó para protegê-la. Mas trazê-la para a Mansão da Família, apresentá-la à avó e à mãe, tratá-la com tanto favoritismo, destacando-a de maneira tão pública… Isso era demais. Ficava claro que ele estava completamente apaixonado por Mônica.— Tia Mônica, você está bem? Não ficou machucada, né? —

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 28

    Ao ouvir isso, Nina franziu as sobrancelhas.Sandra abaixou o olhar, seus longos cílios projetando uma sombra sobre o rosto. Seus dedos, que seguravam a xícara de café, apertaram-se levemente.— Vovó, tia Mônica está bem? Ela se machucou? — Caio perguntou com urgência, sua preocupação genuína transbordando. O tom de voz e a expressão eram idênticos aos de Pablo, sempre cheios de zelo por Mônica.Agatha, ansiosa por provocar Sandra, acrescentou com um ar de falsa preocupação:— Pois é, mamãe, Mônica sempre foi tão gentil, tão sensível, tão correta em tudo. Como é possível que ela tenha sido cercada por jornalistas? Será que alguém armou contra ela? A saúde dela já não é das melhores, e se ela ficou assustada, meu irmão deve estar arrasado.Sandra, no entanto, permaneceu impassível. Seu rosto frio e sereno não demonstrava nenhuma reação às palavras de Agatha.Virgínia suspirou profundamente e respondeu com um tom cansado:— Vamos esperar Pablo voltar para esclarecer os detalhes.— Hmpf!

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 27

    Agatha abaixou a voz, falando com frieza e determinação:— Arranje um jeito. Pode ser um acidente de carro, uma interceptação, qualquer coisa. Só me atrase a Sandra. Quero que ela não consiga chegar ao aeroporto a tempo.Hoje era um dia muito importante. Se Sandra se atrasasse, minha avó e minha mãe com certeza ficariam insatisfeitas com ela. E assim, essa mulher insignificante teria ainda menos valor na família Barros.— Sim, senhora, vou providenciar isso agora! — Respondeu a secretária com prontidão.Na rodovia, Sandra dirigia tranquilamente quando notou algo errado. Seus olhos se moveram rapidamente para o retrovisor, onde viu um carro preto acelerando de repente, emparelhando com o SUV que ela dirigia.Sandra apertou os lábios e estava prestes a pisar fundo no acelerador, mas naquele momento, o carro preto fez algo inesperado: jogou-se deliberadamente contra o lado dela!Mas Sandra não era uma amadora.Seus olhos brilharam com uma mistura de frieza e determinação. Ela pressionou o

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 26

    Sandra virou-se ao escutar a voz, curiosa.Uma van de luxo da Mercedes-Benz estava estacionada ali perto. A porta lateral deslizou lentamente, revelando duas pessoas sentadas lado a lado no interior. Uma mulher elegante, vestindo um vestido vinho de alta costura, com uma chamativa gargantilha de esmeraldas no pescoço, desceu primeiro. Seu rosto tinha traços marcantes, com um queixo fino e sobrancelhas arqueadas, exalando uma beleza agressiva. Era impossível não notar a semelhança com a mãe de Pablo. Aquela era Agatha Barros, a irmã mais nova dele.Caio, na verdade, havia notado Sandra assim que saíra da escola. Ela se destacava como sempre, com a pele tão clara que parecia feita de porcelana, brilhando sob o sol como um copo de leite fresco. No entanto, ele ainda estava magoado com ela por algo que Sandra nem mesmo entendia. Então, ignorando sua presença, ele virou-se direto para a van e acenou para Agatha:— Tia!Agatha desceu do carro com passos firmes e arrogantes, aproximando-se de

  • Adeus, Pai Estúpido e Filho Idiota   Capítulo 25

    Camila perguntou novamente:— Se eles querem namorar, podem ir a outro lugar. O que ela veio fazer aqui no escritório?O colega olhou ao redor, abaixando a voz para responder:— Ela veio por causa de um caso.— Que caso? — Camila questionou, visivelmente curiosa.— Alguns dias atrás, um executivo do Grupo Barros foi acusado de abuso de poder e de conivência com exploração sexual. Parece que a pessoa que fez a denúncia foi justamente essa garota. O Dr. Gabriel decidiu assumir o caso pessoalmente.O colega fez um som de desdém antes de continuar:— É óbvio que Dr. Gabriel só aceitou por causa da Sandra, sua namorada. Você sabe, as taxas do Dr. Gabriel são absurdamente altas. Uma pessoa comum nunca conseguiria pagar por isso. Ele tá claramente fazendo isso por amor. Reduzir seus próprios padrões por causa da pessoa amada? Isso aí só pode ser amor verdadeiro!Depois que o colega se afastou, Camila foi imediatamente para a escada de emergência. Ela pegou o celular com pressa e ligou para al

More Chapters
Explore and read good novels for free
Free access to a vast number of good novels on GoodNovel app. Download the books you like and read anywhere & anytime.
Read books for free on the app
SCAN CODE TO READ ON APP
DMCA.com Protection Status