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Capítulo 7

Author: Surpresa da Primavera
Caio franziu ainda mais as sobrancelhas ao perceber que sua mãe o ignorava completamente.

"Mãe voltou para casa? Quando? E eu nem sabia disso?"

Antes, sempre que Sandra voltava para casa, a primeira coisa que ela fazia era procurá-lo pela mansão. Assim que o encontrava, ela o envolvia em um abraço cheio de carinho e beijava sua testa com ternura.

Mas as coisas mudaram quando Caio começou a gostar mais de Mônica. Ele percebeu que, toda vez que ele e sua mãe ficavam próximos, Mônica parecia ficar triste, como se estivesse magoada.

Com o tempo, Caio foi se afastando de Sandra e começou a rejeitar os gestos afetuosos dela. Mesmo assim, Sandra nunca deixou de demonstrar alegria ao vê-lo. Ela jamais o tratava com a indiferença que demonstrava agora.

— Caio? Você ainda está aí? — A voz doce de Mônica o trouxe de volta aos pensamentos.

— Tia Mônica, a gente se fala amanhã, tá? — Disse Caio, encerrando a ligação antes de se virar para Sandra e chamá-la. — Mamãe!

Sandra parou de andar e olhou para trás com indiferença.

Caio saltou do sofá, colocou as mãos para trás e, com passos que pareciam ensaiados para parecer mais maduros do que ele realmente era, aproximou-se da mãe:

— Por que você voltou e não me avisou?

Sandra ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder. Sua voz não carregava emoção alguma:

— Eu não quis atrapalhar sua conversa com sua tia Mônica. Não é isso que você quer?

Caio apertou os lábios, sem saber o que dizer.

Ela estava certa. Poder ver Mônica todos os dias, sem se preocupar com os sentimentos da mãe, e conversar livremente com ela era exatamente o que ele queria agora.

Mas, por algum motivo, o comportamento incomumente resignado de Sandra o incomodava profundamente. Ele se sentia desconfortável, irritado.

— Mamãe, você está brava comigo porque eu gosto da tia Mônica? Está tentando se vingar de mim e do papai?

Sandra sentiu o coração, que já estava machucado, se partir completamente. Ela sorriu, mas era um sorriso cansado, sem vida:

— Eu não vou mais interferir na sua relação com ela. Na verdade, eu espero que vocês se deem muito bem daqui para frente.

"Afinal, ela será sua madrasta." Mas essa última frase Sandra guardou apenas para si.

— Boa noite, Caio. Adeus.

Sandra, com um tom solene, despediu-se do filho que havia protegido durante cinco anos. Enquanto ela dava o primeiro passo para sair, Caio, com o rostinho sério, chamou por ela em voz firme:

— Mamãe!

Sandra, que havia prometido a si mesma que partiria sem olhar para trás, parou mais uma vez por causa daquele chamado.

Ela pensou que, mesmo sem ter preparado um presente para ela, seu filho ao menos lhe diria "feliz aniversário". Isso já seria o suficiente para consolá-la, para fazê-la sentir que todo o amor que deu a ele durante cinco anos não foi em vão.

Mas, no segundo seguinte, as palavras de Caio caíram sobre ela como um balde de água gelada, congelando-a até os ossos.

— Hoje, no hospital você fez a tia Mônica chorar. Eu acho que você deveria ligar para ela e pedir desculpas.

Sandra ficou imóvel, sem reagir, mas Caio, ao perceber o silêncio dela, insistiu, com um tom ainda mais severo:

— Mamãe, você sempre me ensinou que a gente deve assumir os erros e pedir desculpas. Por que você não faz isso agora?

Sandra finalmente respondeu, seus olhos frios como o inverno:

— Eu disse isso, sim. Mas só quando erramos de verdade. Eu não fiz nada de errado. Por que deveria me desculpar?

Caio arregalou os olhos diante da resposta direta.

Sandra continuou, seu olhar fixo e sério:

— Na verdade, quem deve pedir desculpas aqui é você. Por que você mentiu hoje? Por que acusou Rui injustamente?

Caio, ainda olhando para o rosto firme e bonito da mãe, ficou pálido. Seu coração começou a bater mais rápido, e ele sentiu uma pontada de medo.

Sandra sempre teve uma personalidade calma, mas quando ela ficava séria, sua autoridade era tão imponente quanto a de Pablo. Caio, por mais teimoso que fosse, ainda era uma criança e estava assustado.

"Tia Mônica é muito melhor!" Ele pensou, tentando se convencer. "Ela sempre me apoia, não importa o que eu faça. Ela nunca me questiona, nem tenta me controlar!"

Mesmo assim, ele tentou argumentar, com um tom de voz que soava mais como uma birra:

— Você deixou a tia Mônica desconfortável! Por isso eu menti! Foi culpa sua! Sempre que você me vê com ela, você fica brava. Eu fico no meio disso tudo e me sinto muito mal!

Sandra o olhou profundamente, seus olhos refletindo uma frieza que parecia penetrar até a alma de Caio:

— Você mentiu porque queria proteger sua tia. Mas, se realmente quisesse protegê-la, poderia ter feito isso de outra maneira. Você escolheu a pior forma possível, a mais vergonhosa.

Ela deu um passo à frente, abaixando-se para ficar na altura dos olhos do filho e falou, com um tom firme e inabalável:

— Se você realmente quer proteger alguém, primeiro precisa ser uma pessoa íntegra. Apenas alguém digno tem o direito de proteger os outros.

Sandra não repreendeu Caio muito mais do que o necessário, e naquele momento sua raiva já não era tão intensa quanto durante o dia.

Afinal, ela imaginava que, no futuro, provavelmente não teria mais oportunidades de educá-lo como uma mãe faria. Caio era o futuro herdeiro da família Barros, e Pablo jamais permitiria que alguém como ela, uma "inútil" aos olhos dele, tivesse qualquer influência sobre o prodígio da família.

Sandra não disse mais nada. Ela se virou e saiu pela porta da frente.

Caio ficou parado, observando a silhueta solitária da mãe enquanto ela arrastava a grande mala. Ele abriu levemente os lábios, querendo perguntar para onde ela estava indo.

Mas então ele se lembrou do que o pai sempre dizia: que ele nunca deveria demonstrar suas emoções tão facilmente. Devia ser maduro, um pequeno adulto, e nunca agir como uma criança fraca que chora ao se separar da mãe.

Ele deu meia-volta, caminhando na mesma direção que Sandra havia tomado.

"De qualquer forma, não importa para onde ela vá. Mamãe vai acabar voltando para mim e para o papai. Ela não tem outro lugar para ir." Pensou ele.

...

Nos três dias seguintes, Sandra permaneceu em casa, descansando e recuperando suas forças. Pablo e Caio não ligaram nem uma única vez.

Na verdade, era exatamente o que Sandra queria. Pela primeira vez, ela sentia que sua vida era tranquila, sem ser consumida pelas tarefas domésticas ou pelas exigências constantes da família. Ela finalmente estava livre daquele ciclo de sacrifício sem retorno.

Agora, ela podia se concentrar em algo que realmente amava: ciência e pesquisa.

— Senhorita, você já entregou o acordo de divórcio para o Pablo? — A voz clara e firme de um homem ecoou pelo celular que estava sobre a mesa.

— Sim. Só não sei quando ele vai assinar. — Sandra respondeu enquanto manipulava cuidadosamente um modelo de carro em miniatura que estava sobre a mesa. Apesar de ser apenas um protótipo, o design já exalava elegância e imponência. — E já falei várias vezes, pare de me chamar de "senhorita". Isso é constrangedor. Toda vez que você fala isso, parece que vai começar a fazer uma serenata pra mim.

O homem riu, com a voz cheia de um caloroso carinho, cada palavra carregada de uma ternura quase palpável:

— Se você quiser, eu canto.

Sandra continuou a encaixar as peças do modelo com movimentos rápidos e precisos, suas mãos ágeis como se tivessem vida própria:

— Melhor não. Você é todo desengonçado. Te ver cantando seria pior do que assistir aqueles bonecos infláveis na porta do shopping.

O homem soltou uma risada resignada, mas divertida:

— Sandra, você voltou a ser quem era antes. Sarcástica, afiada, cheia de vida. Isso é ótimo.

Os dedos de Sandra pararam por um momento, hesitando brevemente. Seus lábios, de um tom rosado suave, se curvaram em um sorriso levemente amargo.

Para se casar com Pablo, Sandra havia desistido da oportunidade de fazer um doutorado em uma das universidades mais prestigiadas do mundo. Ela havia abandonado seus sonhos na pesquisa científica, seus amigos e sua vida no exterior. Voltou ao Brasil, assumindo uma identidade discreta para trabalhar no Grupo Barros como uma funcionária qualquer, realizando tarefas que ela considerava uma completa perda de tempo.

Com seu talento e conhecimento, Sandra sabia que poderia facilmente integrar a equipe de pesquisa e desenvolvimento do Grupo Barros. Ela tinha ideias sobre como usar inteligência artificial para revolucionar os carros elétricos da empresa, levando-os a um patamar de inovação nunca antes alcançado.

Mas Pablo nunca lhe deu essa chance.

No início, ele a colocou no departamento administrativo, longe de qualquer coisa relacionada à sua área de expertise. Sandra teve que implorar repetidamente até que ele finalmente permitisse que ela fosse transferida para o dep. de P&D.

Durante dois anos, ela aguentou pacientemente o ambiente tóxico e o assédio moral no trabalho, tudo na esperança de um dia ser reconhecida e incluída no núcleo central dos projetos de pesquisa.

Naquela época, ela ainda acreditava que, se fosse obediente e equilibrasse bem sua vida entre o trabalho e a família, Pablo acabaria enxergando seu valor.

Mas a realidade foi cruel. Ela percebeu que estava apenas "dançando para um cego".

Ou talvez, na verdade, Pablo só tivesse olhos para Mônica.

— Sandra, vocês estão prestes a se divorciar. Pablo já sabe quem você realmente é? — A pergunta do homem interrompeu os pensamentos dela.
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