Capítulo 2

A pergunta que Paula tinha feito ainda ecoava sem parar em meus ouvidos.

De quanto tempo ela precisava para me substituir? Mas era óbvio que ela já tinha me substituído!

Meu coração doía tanto que eu não conseguia emitir um som, não conseguia dizer uma única palavra em minha defesa.

Nesse momento, Paula se esforçou para levantar do chão e, pondo-se de joelhos, começou a se curvar para mim repetidamente:

— Desculpe, Inácia! Eu não imaginava que você ficaria tão brava por eles terem comemorado meu aniversário. A culpa é toda minha! Você acabou de me dizer para rastejar para fora desta casa como um cachorro, eu prometo que faço, só peço que não me atormente mais, e não machuque o coração dos três irmãos!

Dizendo isso, ela começou a se arrastar para fora do quarto.

O rosto dos três irmãos estavam mais pálidos do que o habitual , enquanto me fuzilavam com o olhar.

Meus lábios tremiam quando a minha boca se abriu numa tentativa vã de súplica; mas eu permaneci calada diante daqueles olhares condenatórios. Fiquei completamente desolada, pois sabia que eles não acreditariam em mim..

Já era quase meia-noite, mas a enorme mansão estava cheia de gente.

A melhor equipe médica da cidade estava toda reunida ao redor de Paula, examinando-a. Lucas, Eurico e André a cercavam, tensos.

Eu estava parada a uma certa distância, a dor lancinante em minha cabeça quase me partiu ao meio. Era como se um punhal estivesse sendo remexido sem parar dentro do meu cérebro, e a dor era tanta que eu mal conseguia me manter em pé.

Eu cerrei os dentes e caminhei até um renomado neurologista:

— Doutor, eu... minha cabeça dói.

— Inácia, você não pode ser um pouco mais compreensiva? Esses médicos vieram para examinar a Paula. Pare de dar mais trabalho a eles!

— Esses especialistas só estão aqui para socorrer a mulher que você agrediu. — A voz de Lucas estava carregada de culpa. Vendo que eu não me movia, ele se aproximou, agarrou meu braço, me empurrou para dentro do meu quarto e trancou a porta firmemente.

Eu mal conseguia andar de tanta dor. Praticamente me arrastei até a mesinha de cabeceira e procurei pelos analgésicos. Despejei um punhado na mão, joguei na boca, mastiguei e engoli.

O amargor se espalhou pela minha boca e também pelo meu coração.

Depois que meus pais morreram em um acidente de carro, meus avós e eu nos mudamos para esta cidade e nos tornamos vizinhos dos três irmãos Ribeiro.

Eles eram alguns anos mais velhos e sempre me levavam com eles, cuidando de mim com uma atenção especial.

Quando meus avós faleceram, eles se voluntariaram para assumir a responsabilidade de cuidar de mim.

Eu tinha apenas dezenove anos quando eles uniram as duas mansões e redecoraram tudo do jeito que eu gostava.

Nós quatro éramos as pessoas mais próximas do mundo. Mas tudo isso foi quebrado no dia em que Paula apareceu e desmaiou na nossa porta em um dia completamente normal. Vendo como ela estava magra e parecia digna de pena, eu a ajudei a entrar.

Nesse mesmo dia, os três irmãos passaram a me ignorar depois que a viram. Com o transcorrer dos dias, eles continuavam dedicando todo seu afeto e atenção a ela.

Era como se ela tivesse surgido do nada com o único propósito de receber o amor dos três irmãos.

O analgésico começou a fazer efeito. Eu me apoiei para levantar, querendo deitar na cama, mas a porta foi aberta com um chute violento.

Eurico e André entraram furiosos e jogaram uma pilha de papéis em cima de mim.

Antes que eu pudesse me recuperar, ouvi as acusações dos dois:

— Eu não sei por que você é tão invejosa, a ponto de bater e xingar a Paula pelas nossas costas!

— A Paula está com depressão por sua causa! Inácia, como eu nunca percebi que você era tão perversa?