Amigos de Infância, Remorso Eterno

A primeira coisa que fiz ao voltar do hospital para casa foi ligar para minha tia que morava no exterior.

— Tia, eu decidi morar com você. Por favor, me ajude a encontrar um hospital neurológico de renome, preciso fazer uma cirurgia.

Ao me ouvir falar em cirurgia, minha tia ficou tão aflita que sua voz embargou e ela logo me perguntou o que estava acontecendo.

Eu forcei uma risada, escondendo minha fraqueza:

— Não é nada demais, só um tumorzinho que cresceu na minha cabeça.

— Só um tumorzinho? Inácia, isso não é pouca coisa! Os três irmãos Ribeiro sabem disso?

A simples menção deles trouxe uma dor indescritível ao meu peito, e algumas lágrimas escaparam dos meus olhos.

— Deixa para lá, tia. Não precisa contar para eles.

Minha tia ficou em silêncio por um momento e, por fim, suspirou:

— Tudo bem. Comprei sua passagem para daqui a quinze dias. Venha logo para perto de mim, deixe eu cuidar de você.

Minhas lágrimas caíam sem parar. Além da minha tia, não havia mais ninguém que se importasse tanto assim comigo.

Assim que desliguei, uma voz feminina e divertida veio da porta:

— Pra que tanta pressa? Inácia, o que você está aprontando de novo?

Paula entrou lentamente, trazendo três pequenos amuletos vermelhos nas mãos.

Eu pisquei rapidamente para conter as lágrimas, e falei com frieza:

— O que você tem a ver com isso? Por que está na minha casa?

Ela fez um biquinho, com o rosto cheio de mágoa, e disse:

— Inácia, o Lucas Ribeiro não te avisou? Eu não estou me sentindo bem, por isso vou ficar aqui alguns dias.

Em seguida, ela se aproximou de repente, e a expressão magoada deu lugar a um olhar provocador:

— Adivinha, quanto tempo mais eu preciso para tomar o seu lugar?

Com meu espaço pessoal invadido, eu instintivamente me senti desconfortável e a empurrei.

No entanto, Paula agiu como se tivesse recebido um impacto enorme e voou uns dois metros para trás, batendo a cabeça com força no guarda-roupa. O sangue escorreu imediatamente e ela gritou de dor:

— Inácia, eu só vim te ver porque estava preocupada! Sei que você não goste de mim, mas não precisava me agredir! — Sua voz chorosa e estridente chamou imediatamente a atenção dos três irmãos no andar de baixo.

O mais velho, Lucas Ribeiro, foi o primeiro a entrar correndo no quarto para verificar a situação de Paula.

— Paula, você está bem? Onde dói? Vou chamar um médico agora mesmo para te examinar!

O segundo, Eurico Ribeiro, veio logo atrás:

— Chame um psicólogo também, não podemos deixar que ela fique com algum trauma.

O terceiro, André Ribeiro, me fuzilou com os olhos, repreendendo-me severamente:

— Inácia, eu nunca pensei que você fosse esse tipo de pessoa! A Paula só queria compartilhar com você as coisas divertidas do aniversário dela ontem, e você bate nela! Como você pode ser tão cruel?

Eu observei a preferência descarada dos três por Paula e senti como se tivesse caído em um poço de gelo.