Capítulo 1

— Lívia voltou. Vamos nos divorciar.

Entreguei os papéis assinados ao meu marido, Guilherme, com o rosto inexpressivo.

Por um breve instante, ele pareceu surpreso, mas logo recuperou a calma e assinou seu nome com a mesma facilidade de quem já fez aquilo muitas vezes.

Foi a primeira vez que eu mesma tomei a iniciativa de lhe entregar os papéis do divórcio.

Mesmo assim, como nas seis vezes anteriores, ele prometeu com a mesma naturalidade:

— Daqui a um mês, quando ela for embora, nós nos casaremos de novo.

Antes, essa frase nunca me trazia segurança.

Eu provavelmente o forçaria a jurar, a assinar um compromisso, qualquer coisa que me fizesse acreditar.

Mas, desta vez, não senti nada.

Nem raiva, nem dor, nem vontade de responder.

— Rafaela Lima, você está me ouvindo?

Guilherme Moreira franziu o cenho, claramente irritado com meu silêncio.

Eu apenas assenti.

— Uhum.

Minhas mãos continuaram se movendo, dobrando uma peça de roupa após a outra e colocando-as na mala.

Quando Guilherme diz que vai se casar comigo de novo, ele cumpre.

Ele é conhecido por sua palavra no meio empresarial — disso, ninguém duvida.

Mas, na verdade, Nós não parecemos um casal.

Éramos mais como partes de um contrato — cliente e prestadora de serviço — que precisavam rescindir e renovar acordos periodicamente,assinando certidões de casamento e papéis de divórcio dentro do prazo combinado.

Dois contratos por ano.

Até hoje, eu já havia assinado doze.

Ainda me lembro do que ele disse no nosso primeiro casamento:

— Enquanto estivermos casados, nunca vou te trair.

E ele realmente cumpriu.

Afinal, depois do divórcio, ele era livre para ficar com quem quisesse.

O preço disso foi eu me tornar, para todos ao redor, a mulher que ele podia chamar quando quisesse — e descartar quando bem entendesse.

Mas hoje, minha calma o deixou visivelmente desconcertado.

Afinal, nas vezes anteriores, eu chorava, gritava, chegando até a me machucar para tentar segurá-lo.

Agora, ele me observava empacotar as malas com mais rapidez e firmeza do que nunca, e acabou resmungando, meio contrariado:

— Acho que é melhor eu sair de casa desta vez e...

Com um "clique", fechei a mala grande, interrompendo sua frase.

— Já combinei com minha melhor amiga. Vou ficar na casa dela por uns dias.

O rosto de Guilherme escureceu ainda mais, como se tivesse lembrado de algo desagradável.

— Não me diga que você vai fazer aquele joguinho de novo? Fingir que foi embora, mas se infiltrar na empresa disfarçada de assistente pra me vigiar? — O seu olhar inquisidor estava focado em mim. — Rafaela, será que você não tem nada seu? Você é incapaz de viver sem um homem?

Entendi de imediato o que ele queria dizer.

Ele só não queria que eu fosse ao escritório e atrapalhasse seus momentos românticos com Lívia.

Afinal, Lívia raramente voltava ao país — e Guilherme certamente queria que ela ficasse ao seu lado o tempo todo, como sua "assistente pessoal" inseparável.