Capítulo 3

Papai, mamãe e Gil correram imediatamente para o lado dela. Ao verem a marca vermelha na palma da mão de Ester, que parecia uma queimadura, entraram em pânico.

— Na festa de aniversário só havia pessoas que conhecemos, como alguém poderia dar um presente tão perigoso?

Um escorpião saiu da caixa de presente e, no instante seguinte, foi esmagado por Gil!

Todos os olhares se voltaram para uma caixa de presente que já estava aberta.

— Esta caixa... é da Glória? — Mamãe perguntou, franzindo a testa.

Ester imediatamente fez uma expressão de quem estava prestes a chorar: — Mamãe, por favor, não culpe a irmã. O presente estava na minha mesinha de cabeceira esta manhã. Fiquei tão feliz que ela quis me dar um presente.

O semblante de papai e Gil escureceu instantaneamente, cheio de decepção e raiva.

— Eu sabia! É por isso que ela estava demorando para voltar para casa, ela fez de propósito para machucar a Ester!

— Como eu posso ter uma irmã tão perversa?

— Chega! Parem de discutir, levem a Ester ao médico primeiro! — Papai chutou para longe a caixa de presente que Ester havia roubado do meu quarto e bateu na mesa, furioso.

— Acabou a gaze, vou buscar mais no porão — Disse Gil antes de sair.

O olhar de Ester vagou, apavorado, e ela agarrou o braço de Gil com força: — Não vá, o médico com certeza tem gaze... Está doendo muito...

Se Gil desse mais um passo em direção ao porão, ele sentiria o cheiro de sangue que ainda não havia se dissipado.

Mas o destino quis o contrário.

Assim que Ester falou, toda a família saiu apressada, deixando-me sozinha, flutuando na sala de estar vazia.

Eu queria gritar, queria explicar em voz alta que não tinha feito nada.

Mas eu não conseguia emitir som algum.

E eu sabia que, mesmo que pudesse falar, eles jamais acreditariam em mim.

Que assim seja.

A governanta, ouvindo o barulho, saiu para arrumar a bagunça e apenas suspirou longamente:

— Srta. Glória, por que a senhora nunca aprende a se proteger?

Minha alma flutuou de volta para o meu quarto.

O diário sobre a mesa repousava em silêncio, e uma enxurrada de memórias surgiu diante de mim.

No meu aniversário de dezoito anos, nossa família organizou um grande jantar de gala.

Naquele dia, meu pai decidiria a distribuição dos bens da empresa familiar.

Meu irmão Gil foi o primeiro a se apresentar. Diante de todos, ele demonstrou uma perspicácia comercial extraordinária, ainda jovem, já falava com desenvoltura sobre relatórios financeiros e direções de investimento.

Papai não escondeu seu orgulho, como se já o visse no comando no futuro.

Em seguida, foi a vez de Ester. Embora tivesse apenas dez anos na época, ela tinha uma personalidade naturalmente cativante, com gestos elegantes, tocava piano lindamente e sabia dançar. Mamãe a abraçou, orgulhosamente a chamando de "a joia da família".

Para não decepcionar meus pais, subi ao palco cheia de expectativas.

Mas, quando comecei minha apresentação, o local ficou em silêncio.

Naquela época, eu era apenas uma criança comum, nada mais.

Sem talentos surpreendentes, sem uma aura brilhante, tão comum que as pessoas mal se lembravam do que eu acabara de dizer.

Desde aquele dia, tornei-me a "pessoa invisível" da família, alguém em quem não valia a pena investir recursos.

Mesmo depois, quando me esforcei ao máximo para obter as maiores honras acadêmicas, eles ainda acreditavam que eu não as havia conquistado por mérito, mas por sorte — assim como a obtenção deste prêmio de medicina, eles ainda achavam que eu o havia conseguido subornando os jurados.

Desde então, Gil e Ester desfrutaram de todo o favoritismo e de todas as oportunidades.

E eu, assim como a minha vida —

Comum. Dispensável.