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Capítulo 2

Autor: Hathaway
Minha alma se encolheu no canto da sala, observando silenciosamente a cena diante de mim.

Papai, que sempre dormia cedo, estava excepcionalmente animado hoje, ajudando Ester a abrir um por um os presentes de aniversário. Mamãe estava sentada no sofá, navegando em um site de compras, murmurando que compraria um guarda-roupa novo inteiro para Ester, para que ela brilhasse no acampamento de verão que se aproximava.

— Mãe, meu armário já vai explodir — reclamou Ester com uma voz doce como algodão-doce.

Mamãe sorriu e disse, como se fosse óbvio: — Então use o quarto da sua irmã. A Glória nunca se importou com essas coisas, ela trabalha tanto que quase não vem para casa, e além disso, ela não tem muitas roupas, não precisa de tanto espaço.

— Mas... — Ester piscou, fingindo hesitação — Isso não vai deixar a irmã chateada?

Mamãe parou por um momento, a testa franzida: — Não pense demais. Sua irmã é compreensiva, ela não vai brigar com você por causa disso.

Papai não disse nada, apenas continuou de cabeça baixa, descascando pacientemente pistaches para Ester, um após o outro.

Sentado ao lado, Gil pegou os pistaches e os colocou na palma da mão de Ester.

Naquele instante, de repente, entendi que a expressão "a alma também chora" era real.

A ternura deles nunca fora destinada a mim.

— Mas... — Ester abaixou a cabeça e disse em voz baixa — Eu mandei várias mensagens e a irmã não respondeu. Será que ela ainda está com raiva? Se ela realmente não voltar... meu coração fica apertado.

Com suas palavras, o ar na sala pareceu parar por um instante.

Papai franziu a testa com força, seu tom era duro: — Não ligue para ela. Ela gosta de se fazer de importante para que todos fiquem ao seu redor. Quando é que ela vai amadurecer um pouco?

O rosto da mamãe expressou impaciência, e ela suspirou: — Não é nada mais que um Prêmio de Ouro Global de Doutorado em Medicina. É concedido a cada dois anos, e ela trata como se fosse o fim do mundo. Por que ela não pode ser mais compreensiva com você? Um aniversário de dezesseis anos só acontece uma vez na vida, e ela escolhe justo este momento para fazer birra.

Ester abaixou a cabeça, um brilho de astúcia passou por seus olhos, mas seus lábios mantinham um sorriso inocente: — Mãe, não fale assim... se a irmã ouvir, vai ficar magoada. Aquele prêmio, ela lutou muito para conseguir...

Ela falou de propósito em voz baixa, mas alto o suficiente para que todos ouvissem claramente.

Meu coração gelou. Desde pequena, Ester sabia como desempenhar o papel de boazinha, conseguindo tudo com facilidade. Ela dizia que eu a plagiava, que eu mentia, que eu era mimada... e papai sempre acreditava nela sem hesitar.

Eu já havia me acostumado a dizer a mim mesma que um dia, alguém me colocaria em primeiro lugar, nem que fosse apenas uma vez.

O irônico é que nem mesmo Marcelo foi uma exceção. Dois anos depois de conhecê-lo, seus olhos também se voltaram para Ester.

A governanta trouxe uma bandeja de sobremesas, todas as favoritas de Ester. Naturalmente, todos voltaram a se concentrar nela, perguntando sobre sua vida no ensino médio.

E eu, só podia observar tudo friamente, do meu canto.

À uma da manhã, eu ainda não havia aparecido.

Finalmente, mamãe pareceu se lembrar de algo, pegou algumas tortinhas de morango, as que Ester menos gostava, colocou-as em um prato e entregou a Gil.

Seu tom era indiferente: — Gil, guarde isso para a Glória. Quando a raiva dela passar e ela voltar, não poderá dizer que só mimamos sua irmã. Viu? Nós também nos lembramos dela.

Olhei para aquele prato de tortinhas de morango sem sentir absolutamente nada.

Gil estava prestes a pegar o prato quando Ester soltou um gritinho e encolheu a mão.

— Mãe, está doendo!

A atmosfera acolhedora foi instantaneamente quebrada.
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