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Capítulo 6

Author: Aurora Mendes
Tereza puxou de leve o canto dos lábios de Olavo, tentando esconder a mágoa no olhar e fugindo uma postura compreensiva:

— Olavo, já que a Isadora quer conversar com você, fiquem à vontade. Não briguem na frente da criança.

Olavo não gostou muito daquilo, mesmo assim assentiu e se afastou.

Fazia tanto tempo que não ficavam sozinhos assim, que Isadora não sabia por onde começar.

Mas uma coisa era certa: Olavo não tinha a menor paciência com ela.

— O que quer dizer, afinal? Trazer uma criança para aqui e fazer escândalo... Acha que isso é coisa de mãe?

Só de pensar que ela tinha usado a própria filha para tentar se reaproximar dele, Olavo sentiu um profundo desprezo.

Isadora falou devagar:

— Você me prometeu que ficaria com a Aline por um mês. Nesse tempo, será que pode fazer sua namorada sumir da frente dela?

Ela já não se importava com as coisas que Olavo dizia sobre ela. Só queria garantir que sua filha tivesse um pouco de felicidade nesse período.

— Prometi que ficaria com a Aline. E outros... nem pensar. Você continua tão ardilosa quanto sempre foi. Se não tivesse armado, nunca seria um pai!

A cada palavra, o olhar de Olavo ficava mais frio.

Ele não gostava de Aline, mas saber que ela veio ao mundo por meio de uma armadilha só fazia crescer sua raiva.

Tantos anos se passaram, mas ele nunca acreditou nela.

O que aconteceu naquela noite foi um acidente. Nem a própria Isadora sabia por que acordou naquele quarto, muito menos por que estava ao lado dele.

E então, depois de um dia, descobriu que estava grávida. Na época, achou que aquilo era um presente de Deus. Mas agora...

Pensando na filha, Isadora ficou triste.

Ela era uma menina tão doce, talvez não tivesse gostado deste mundo... e só tivesse vindo dar uma espiada antes de partir.

Isadora mal conseguiu dizer essas palavras:

— Você se importa tanto com essa história que pode rejeitar a própria filha?

Ela aceitava o ódio dele por ela, mas não suportava o desprezo por Aline.

Afinal, Aline era tão adorável. Por que ele não enxergava isso?

O rosto de Olavo se contorceu em repulsa:

— Essa criança nunca foi minha escolha! Quando você decidiu ter ela de qualquer jeito, devia saber que esse dia chegaria.

Sempre esteve no topo, admirado por todos. E a primeira vez que alguém passou a perna nele foi essa mulher.

Como poderia não sentir raiva? Como poderia não a odiar?

— Mamãe!

Uma voz frágil e trêmula interrompeu o momento.

Aline ouvira tudo.

Tereza a trouxe até ali, e ela sabia tudo.

O pai realmente não gostava dela.

Mas a mamãe sempre dizia que era porque ele estava ocupado, que ele ainda a amava.

Agora ela sabia a verdade.

— Aline?

Isadora se virou, o coração apertado.

Ao ver a filha, o rosto de Olavo também mudou.

Ele não queria machucá-la. Mas as palavras já tinham sido ditas.

— Vocês... continuem conversando.

— Vamos embora, Aline, não vamos incomodar seu pai e sua mãe.

Tereza fez cara de assustada e, mesmo sentada na cadeira de rodas, apressou-se a puxar Aline.

Mas Aline não gostava daquela mulher, só queria ficar com a mãe.

Viu Isadora chorar e sabia que ela estava sofrendo.

— Solta! Quero a mamãe!

No segundo seguinte, Tereza gritou e levou a mão ao rosto.

— Aline!

— Tereza!

Ao mesmo tempo, Isadora correu até a filha e Olavo até Tereza, para perto de quem mais importava para eles.

Isadora se abaixou para verificar se Aline estava bem:

— Aline, tá tudo bem?

— Tereza, se machucou?

Por sua vez, Olavo viu um pequeno arranhão no rosto delicado de Tereza, de onde saiu uma gota de sangue.

Não era nada grave, mas isso foi o suficiente para irritá-lo.

Ele agarrou o braço da filha e a puxou para perto de Tereza:

— Peça desculpas!

Aline, pequena e frágil, mal conseguia se manter firme diante da força do pai.

Mordeu o lábio e segurou as lágrimas:

— Foi essa senhora que me trouxe até aqui. Eu não queria vir! Só queria a mamãe.

Tereza tocou o braço dele com delicadeza:

— Olavo, não culpe a menina. Foi culpa minha... Por favor, não diga mais nada.

Quanto mais ela agia assim, mais Olavo se irritava.

Especialmente porque Aline já se parecia muito com Isadora, e agora, com essa teimosia, era idêntica. Isso só o deixava ainda mais furioso.

Ele franziu o cenho, com desprezo:

— Você realmente puxou sua mãe... pequena, mas já tão venenosa!

— Não fale assim da minha mãe! Ela é a melhor do mundo!

Aline ficou na frente de Isadora, protegendo-a.

Seus olhinhos brilhavam de decepção. O corpinho trêmulo, de medo e nervosismo, mas firme.

Ela queria proteger a mamãe!

Antes queria a atenção do pai. Agora, não queria mais.

Se ele não gostava nem dela, nem da mamãe, então ela também não precisava dele.

Mas Olavo só bufou, sem nem olhar para a Aline.

Virou-se e empurrou a cadeira de rodas de Tereza.

Isadora se ajoelhou e abraçou a filha:

— Aline, me desculpa...

Ela era uma mãe tão incompetente que até sua filha tinha que passar por isso com ela.

— Mamãe, sei que o papai não gosta de mim. Até meu nome... ele escolheu sem pensar.

Aline começou a chorar, agarrando a mãe:

— Queria que ele estivesse comigo, mas... ele não gosta de você nem de mim.

Os olhinhos, que deveriam ser inocentes, estavam cheios de tristeza:

— Mamãe, não quero te deixar sozinha. E você, como vai ficar?

Ela não queria partir!

Mas seu corpo começou a tremer, cuspiu sangue e se encolheu em dor e desespero.

— Aline!

— Alguém, me ajude!

— Doutor! Minha filha!

— Aline, por favor, não assuste a mamãe!
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Vande Garcia
chorando horres coitada de Aline
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