Patrícia jamais imaginara que Fabiano pudesse descer a um nível de descaro tão baixo.Ainda tentava encontrar uma desculpa plausível para explicar a relação entre os dois quando, tomada de pressa e indignação, disparou:— Fabiano, para de falar besteira!— Não é besteira nenhuma! — Rebateu ele, agora completamente perdido, decidido a jogar toda a sujeira sobre Patrícia.Por mais que detestasse as crises de madame de Juliana, sempre arrumando modelos para humilhá-lo, com aquele temperamento mimado, Fabiano não podia negar que Patrícia, com sua doçura e delicadeza de infância, era incomparavelmente melhor. Contudo, ela não tinha o mesmo peso que a família Oliveira.E, pior, os Oliveira tinham o apoio direto da família Santana. Se contrariasse os Santana, a pequena empresa dos Miranda estaria condenada. Comparado com o respaldo do Grupo Santana, o que valia uma simples Patrícia?Com esse cálculo na cabeça, Fabiano endureceu o coração e continuou a lançar lama:— Tio Roberto, eu e a Patríc
Assim que terminou de falar, Fabiano já havia agarrado a mão de Patrícia.Como se tivesse tocado em algo repulsivo, Patrícia a arrancou com força e se levantou num salto. Lançou-lhe um olhar frio e um aviso seco:— Fabiano, eu já deixei tudo muito claro. Entre nós dois... Acabou. Definitivamente. De agora em diante, por favor, fique com a Juliana. E nunca mais apareça na minha frente.— Paty, você ainda tá com raiva?Fabiano forçou um sorriso desconcertado e, de repente, tirou um anel do bolso.Antes que Patrícia tivesse tempo de reagir, ele caiu de joelhos bem na frente dela.— Paty, você brigou comigo antes, dizendo que, depois de tantos anos juntos, eu nunca tinha te pedido em casamento. Agora eu entendi... Eu tava cego quando fiquei com a Juliana. Foi um erro. Eu me arrependo demais. Vamos tentar de novo? Me dá mais uma chance?— Fabiano, você ficou louco?!Patrícia, aflita, abaixou-se instintivamente para tentar levantá-lo.Nesse instante, uma voz cortou o ar como uma lâmina.— O
Beatriz havia feito reserva em um restaurante sofisticado dentro do shopping.Patrícia conhecia bem o lugar, era um restaurante famoso, sempre com a agenda lotada e preços absurdamente altos, frequentado por um público mais elitizado.Qualquer prato ali custava, facilmente, o equivalente ao salário inteiro de um mês dela.— Secretária Patrícia, aproveite. Não é sempre que você tem a chance de comer em um lugar desses. Peça o que quiser, tá? Afinal... Essas oportunidades não são tão comuns pra você. — Beatriz disse isso calmamente, enquanto tomava um gole de água quente. Mas suas palavras vinham carregadas de veneno e desprezo.Na visão dela, Patrícia era só uma garota pobre, sem nenhum tipo de influência ou pedigree, totalmente deslocada num ambiente tão requintado.Patrícia percebeu bem o tom de deboche, mas seu rosto permaneceu sereno. Já estava acostumada. Beatriz sempre fora assim, um poço de falsidade e superioridade velada.Discretamente, Patrícia conferiu as horas no celular.O
— Não precisa chamar ninguém. E, além disso, a secretária Patrícia é tão importante pra você… Eu adoraria me dar bem com ela. — Beatriz sorria com aquela expressão doce que só ela sabia fingir tão bem. — Pode deixar, eu vou tratar muito bem a Srta. Patrícia.— Sr. Roberto, na verdade, eu tenho compromissos esta tarde… A Srta. Pereira poderia muito bem…Patrícia tentou, com todo cuidado, se inserir na conversa, insinuando que precisava voltar ao trabalho.Mas Roberto sequer lhe deu espaço para terminar a frase. Sua expressão endureceu, a voz gélida:— Patrícia, seu trabalho hoje é acompanhar a Bia. Se não está satisfeita, pode pedir demissão a qualquer momento.— Sr. Roberto, não é isso… Eu só queria ficar na empresa esta tarde…Patrícia ainda tentava explicar, quando Beatriz já puxava a manga do paletó dele, com aquela voz mansa e mimada:— Beto, me leva no colo pro carro.— Claro.A resposta veio sem hesitação.Curvando o corpo, Roberto a pegou nos braços. O terno sob medida delineava
O rosto de Patrícia empalideceu na hora.Beatriz não queria só que ela a ajudasse queria que a carregasse nos braços, como se fosse fácil erguer uma mulher com quase o mesmo peso que o seu!E, pior, agora ainda a estava acusando de tê-la desprezado por causa da deficiência.— Eu… Eu não disse isso, Sr. Roberto. Eu jamais trataria a Srta. Pereira com desprezo. — Balbuciou Patrícia, tentando se explicar, a voz embargada pela injustiça.Do outro lado da linha, Patrícia não sabia exatamente o que Roberto dizia. Mas viu com os próprios olhos os olhos de Beatriz, antes propositalmente marejados, voltarem a brilhar. Apesar disso, ela manteve o tom de vítima, com a voz trêmula:— Beto, eu entendo... Você não precisa me consolar. Por você, eu faria tudo de novo. Mas eu não quero ser um peso pra ninguém. Se você também se cansou de mim, eu entendo. Posso simplesmente desaparecer da sua vida…O sangue de Patrícia gelou.Ela ouvia cada palavra de propósito. Beatriz mantinha o celular com o viva-vo
— Vamos dar uma volta completa, que tal? Vai dar um trabalhinho pra Srta. Patrícia me empurrar por aí... — Beatriz sorriu com gentileza e continuou, como se fosse a coisa mais natural do mundo. — Ah, e depois de visitar o Grupo Santana, à tarde, pensei em dar uma passadinha no shopping. Vai ser ótimo ter sua companhia também, Srta. Patrícia.“Quer ir às compras agora?!”Patrícia forçou-se a manter a compostura e respondeu com delicadeza, ainda tentando escapar:— Srta. Pereira, o Sr. Roberto me orientou apenas a acompanhá-la pelo Grupo Santana. Se quiser fazer compras, talvez seja melhor chamar alguma amiga próxima.Beatriz soltou uma risadinha baixa, quase divertida:— Agora entendo por que a Srta. Patrícia nunca subiu para um cargo mais alto... Não consegue captar as entrelinhas dos superiores. O que o Beto quis dizer foi bem claro: seu trabalho hoje é me acompanhar. Ou prefere que eu ligue pra ele agora e confirme?— Não precisa. — Respondeu Patrícia imediatamente, engolindo o incôm