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Capítulo 4

Author: Clara Noturna
Antônio rapidamente se acalmou. Ele manteve uma expressão presunçosa, e sentou-se com a esposa e os dois filhos. Ele e a esposa recém-casada se sentaram ao lado de Rafael. Os filhos, relutantes, se sentaram ao lado de Isabel.

Antônio chamou o garçom e pediu cuidadosamente os pratos para a esposa e os filhos, depois, de forma ostensiva, acrescentou dois pratos extras.

— Lembro que Isabel gosta de camarão. — Disse Antônio, sorrindo para Rafael, como se estivesse recordando momentos antigos. — Quando era pequena, ela só comia se eu descascasse.

— Lembro que você é alérgica a camarão. — Rafael olhou de relance para Isabel.

— Tem gente que acha que eu gosto. — Isabel manteve a expressão neutra.

Antônio franziu a sobrancelha, confuso. Ele se lembrava de ter descascado camarão para Isabel e ela comer. Será que ele estava enganado?

— Quem gosta de camarão é a Juliana. — A mulher ao seu lado baixou a voz para lembrá-lo.

— Ah, minha filha! — O rosto de Antônio ficou tenso, mas logo riu. — Você é alérgica, mas como você comia quando papai descascava?

Ele a culpava por saber que era alérgica, mas mesmo assim comer sem reclamar.

Isabel deu uma risada contida.

Antônio evitava ser acusado de favoritismo, por isso tratava Isabel e Juliana da mesma forma. Ele descascava camarão para Juliana, então também descascava para ela. Ele comprava roupas para Juliana, então também comprava para ela. A diferença era que Juliana gostava de camarão e Isabel era alérgica, Juliana era mais baixa e o mesmo tamanho de roupa ficava apertado em Isabel.

Isabel sempre pensou que Antônio fosse apenas desatento. Foi só após o incidente, que ela percebeu que ele nunca teve afeto verdadeiro por ela.

Ele desprezava sua posição como genro e odiava a ideia de que sua ascensão e fortuna se devia à sua primeira esposa. Ela representava a vergonha de seu passado. Se não fosse pelo testamento de sua mãe, em que dizia que no caso de algo lhe acontecer, suas ações seriam automaticamente vendidas ou doadas, Isabel talvez nem chegaria viva à maioridade.

Infelizmente, ela foi enganada pela hipocrisia da família, e só percebeu a verdadeira face da família Duarte quando já era tarde demais.

O garçom trouxe os pratos.

Isabel pediu casualmente os pratos que Antônio gostava, incluindo lagosta, e que fossem embalados.

Antônio ficou intrigado com a atitude.

— Leve isso para alimentar os cães de rua. — Disse Isabel.

A família Duarte ficou furiosa, mas não podia manifestar a raiva diante de Rafael.

— Antes, a culpa foi minha, de fato, eu não sabia lutar por mim mesma. — Isabel disse, calmamente. — Mas agora, eu vou lutar até o fim pelo que é meu.

A luz tremeluzente das velas refletia em seus olhos, mostrando determinação.

O coração de Antônio apertou, e ele forçou um sorriso:

— Isabel, você não tem experiência em gestão de empresas. Não seria melhor deixar o papai administrar as ações para você, e você receber os dividendos?

— Dividendos? — Isabel fingiu surpresa. — Como nunca vi nada deles em todos esses anos? — Ela fez uma pausa e olhou para Rafael. — Querido, os dividendos são patrimônio do casal. Você pode pegá-los para mim?

— Claro que sim. — Rafael respondeu prontamente.

— Eu deposito os dividendos na sua conta, pago-os noutro dia. — Antônio ficou inquieto, e disse sentindo um arrepio na espinha.

— Não precisa ser noutro dia. — Isabel disse. — Querido, amanhã mesmo mande alguém na Empresa Duarte. Lembre-se de calcular os valores com cuidado. Fora o principal e os juros, não quero mais nada. Não vou tirar vantagem do meu pai.

Isso não era receio de levar vantagem, era cobrar com juros e ainda com medo de que ele não pagasse.

Rafael nunca tinha visto Isabel ser tão assertiva.

— Fique tranquila, vou mandar alguém conferir tudo com precisão, e garantir que não falta um centavo. — Ele respondeu sorrindo, com um brilho de surpresa nos olhos.

Antônio sentiu o coração doer ao pensar no dinheiro, mas, para continuar como custodiante das ações, teve que aceitar. Antes que ele pudesse aconselhar Isabel a reorganizar a herança após assumir as ações, ela falou novamente:

— Querido, o papai acha que não tenho experiência para administrar as ações. Que tal, nesses três meses restantes até eu assumir, eu ir treinando no Grupo Siqueira?

Sua voz soava suave e levemente aflita, os olhos amendoados cheios de água encarando Rafael.

O coração dele reagiu como se tivesse sido tocado por penas, criando uma sensação estranha de prazer e formigamento que percorreu seu corpo.

— Certo, eu mesmo vou te treinar! — Ele sorriu com carinho.

Antônio ficou sem palavras.

Então, Isabel estava decidida a recuperar suas ações? Ele precisava pensar em um novo plano!

Com a autorização de Rafael, Isabel se tornou secretária especial do escritório do presidente do Grupo Siqueira. No entanto, ela parecia desinteressada em gestão empresarial.

Depois de apenas um dia, e com Rafael tendo recuperado os dividendos das ações de Antônio, ela inventou a desculpa de que queria se dedicar à criação de história em quadrinhos, recusando-se a ir ao grupo novamente. Rafael sorriu sacudindo a cabeça, deixando-a à vontade.

Três dias depois, próximo ao fim do expediente, Isabel levou uma marmita preparada pela empregada e foi ao Grupo Siqueira.

— Senhora, o Sr. Rafael ainda está em reunião. — A secretária Lucy recebeu-a pessoalmente. — Em trinta minutos, ele deve fazer uma pausa.

— Que coincidência. — Isabel fingiu surpresa.

Não era coincidência alguma. Ela se aproveitou da posição de secretária e verificou a agenda de Rafael, sabendo que ele teria uma reunião internacional importante. O que ela queria era justamente essa meia hora antes da pausa.

— Sem problema, vou esperar por ele no escritório. — Ela sorriu.

Lucy pareceu desconfortável.

— O que está acontecendo? — Isabel franziu a testa. — Há algo de vergonhoso no escritório dele? Antes eu podia entrar, mas agora não?

Isabel já havia visitado o Grupo Siqueira, inclusive entrado no escritório do Rafael antes. Até mesmo como secretária especial ela também tinha acesso, mas nunca sem a companhia dele.

Sua voz agora carregava indignação, quase ameaçadora.

Lucy negou apressadamente.

— Então vou ligar para ele e perguntar se posso entrar. — Isabel disse, fingindo raiva.

Lucy não teve escolha a não ser ceder.

Isabel entrou, circulou duas vezes pelo escritório com a pose afetada e sentou-se lentamente diante da mesa de Rafael.

Lucy, que sempre a observava, entrou rapidamente.

— Senhora, há informações confidenciais no computador do Sr. Rafael. É melhor não mexer. — Disse.

Isabel apontou para o jogo na tela.

— Estou entediada. Não estou conectada à internet. Pelo menos posso jogar, não é? — Ela deu uma risada fria. — Está me acusando de tentar roubar segredos comerciais do meu próprio marido?

O rosto doce e inocente de Isabel, normalmente calmo, agora exibia a postura de uma esposa de presidente, imponente e autoritária.

Lucy, sabendo do afeto que Rafael sentia por Isabel, não ousou contestar e baixou a cabeça, pedindo desculpas.

— Saia! — Isabel resmungou.

Lucy relutou, mas acabou saindo.

Aproveitando a oportunidade, Isabel desvendou o pendrive que estava escondido em sua mão e inseriu no computador de Rafael iniciando o programa.

Pelo canto do olho, ela viu Lucy ainda a observando. Ela sorriu friamente, levantou-se e fechou a porta do escritório.

Diante da cena, Lucy permaneceu em silêncio.

Isabel voltou à mesa, aguardando. O progresso dessa vez foi mais lento do que antes, provavelmente devido às medidas de proteção do computador.

Quando finalmente atingiu 80%, a porta do escritório se abriu abruptamente.

Antonela entrou, vestindo blusa vermelha com decote em V e uma saia de couro preta, arrogante.

Ao ver Isabel sentada casualmente na cadeira de Rafael, seu rosto maquiado instantaneamente expressou raiva.

— Sai daí! Quem te deu permissão para sentar na cadeira do meu irmão? — Gritou Antonela.

Isabel levantou-se calmamente, indo à frente dela, bloqueando sua visão. Mesmo de salto alto, Antonela chegava apenas à altura dos olhos de Isabel.

— Sou a esposa do seu irmão. Se posso sentar na cama dele, por que não poderia sentar na cadeira também? — Isabel sorriu para ela, provocativa.

Antonela encarou o rosto limpo e radiante de Isabel, lembrando-se de que Artur chamava Isabel em sonhos, e a inveja cresceu ainda mais. O sorriso de Isabel chamou a atenção dela, era tão brilhante a ponto de arder os olhos.

— Do que você está se gabando? O meu irmão só age assim com você, porque...

Isabel bateu a parte inferior das costas na mesa, franzindo o cenho de dor. Com o canto do olho, ela percebeu que o computador havia terminado de copiar os arquivos, e rapidamente retirou o pendrive com a outra mão.

— O que há? Está com ciúmes ao ver seu irmão me amar e cuidar de mim? — Isabel provocou de propósito, se apoiando na mesa, e encarando Antonela que estava calada.

— Ciúmes só por sua causa? — Antonela rangeu os dentes.

— É verdade. — Isabel respondeu despreocupada. — Você se importa mais com Artur do que com seu irmão. Será que Artur vai cuidar de você tão bem como ele cuidou de mim?
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