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Capítulo 5

Author: Clara Noturna
Antonela parecia uma gata que tinha sido pisada na cauda, furiosa, levantou a mão para bater em Isabel.

Isabel ergueu o rosto, sem se esquivar, e aproveitou a oportunidade para enfiar o pendrive no bolso.

O tapa de Antonela parou a menos de um centímetro do rosto de Isabel, sem conseguir atingir o golpe.

Rafael, que havia interrompido a reunião, chegou às pressas, e segurou o pulso de Antonela, impedindo-a.

— Nelinha, o que você está fazendo? — Rafael parou na frente de Isabel, e disse com a voz grave e carregada de irritação.

— Ela me provocou primeiro! — Antonela, com o rosto cheio de insatisfação, respondeu.

— Não importa o que aconteceu, você não deveria ter batido nela. — Rafael franziu a testa, olhando para Isabel e depois para Antonela. — Além de ser constrangedor, você pode machucar a sua mão. Se precisar de alguma coisa, fale comigo e eu cuido disso.

O tom de voz dele era suave, mas parecia perfurar o tímpano de Isabel.

Ela encarou a figura imponente de Rafael que a protegia, e sentiu um arrepio subir da planta dos pés, se espalhando por todo seu corpo. Não era a primeira vez que Rafael se colocava na frente dela, para "protegê-la". As atitudes que antes a comoviam não passavam de manipulação, ele a enganava descaradamente, por saber que ela seria incapaz de ouvir.

— Isabel disse que eu tenho ciúmes porque você a ama e ainda perguntou se Artur cuidaria de mim como cuidou dela. — Antonela, com os olhos vermelhos, começou a se queixar.

— Isabel disse isso mesmo? — Rafael ergueu uma sobrancelha, desconfiado.

— Você não acredita em mim? Foi exatamente isso que ela me disse! — Antonela se enfureceu.

Rafael não duvidava da Antonela, apenas achava improvável Isabel ser tão maldosa. Ela nunca se interessou pela vida de Antonela, mesmo ela estando há quatro anos casada com Artur. Além do mais, Isabel sabia o quanto ele prezava Antonela, mesmo que ela não gostasse de Isabel, ele ainda a trataria bem. Então, por que ela provocaria problemas sem motivo?

— Irmão, você disse que cuidaria de mim. — Antonela avançou, se enrolando no braço de Rafael e balançando, com olhar provocador direcionado a Isabel.

Isabel, no entanto, estava tranquila, olhando para baixo com os olhos semicerrados, aparentemente imperturbável.

Antonela sentiu uma frustração imensa, como se estivesse dando socos ao vento.

No passado, quando Rafael demonstrava seu afeto por Antonela na frente dela, sempre despertava em Isabel um misto de inveja e frustração. Isso, por sua vez, dava a Antonela uma intensa sensação de satisfação. Além disso, saber o real motivo pelo qual Rafael se casou com Isabel apenas reforçava seu sentimento de superioridade. A amargura que Artur lhe causava só se apaziguava na presença de Isabel. E, naquele momento, a reação neutra dela desapontava profundamente Antonela.

Ela inclinou a cabeça, encostando no braço de Rafael.

— Irmão, faça ela se desculpar. — Disse com a voz doce e pedinte.

Rafael suspirou impotente, retirou o braço e olhou para Isabel.

— Querida, por que você provocou a Nelinha? Se não quer me colocar em uma situação difícil, peça desculpas a ela.

Isabel nem se deu ao trabalho de levantar as pálpebras, fingindo não ter ouvido.

Rafael aproximou-se, ergueu o queixo dela e forçou-a a olhar para ele, repetindo suas palavras.

Isabel mordeu o lábio.

— Foi Nelinha que me empurrou. Ela disse que eu não te mereço, e que não tenho direito de sentar na sua cama ou na sua cadeira...

Seus olhos se encheram de lágrimas, os cílios longos tremendo, e a expressão de injustiça contida despertava pena.

Antonela não esperava que Isabel fosse reclamar e ainda acrescentasse detalhes.

— Isabel, vai se fingir de vítima? — Ela disse, furiosa.

Antonela levantou a mão novamente e deu um tapa na bochecha esquerda de Isabel, que ficou visivelmente marcada e inchada.

— Antonela! — Rafael gritou com severidade.

Isabel percebeu a ponta de preocupação no olhar dele e sorriu sarcasticamente, cobrindo o rosto enquanto se retirava.

Rafael tentou segui-la, mas Antonela agarrou seu braço.

— Irmão, a mamãe me pediu para vir te encontrar. Vamos almoçar juntos!

Em apenas alguns segundos da hesitação de Rafael, Isabel já havia aberto a porta, e acelerado o passo sem olhar para trás.

No aeroporto, Sofia, vestida com roupas casuais pretas, e os cabelos presos de maneira despreocupada, arrastava uma enorme mala com uma mão, andando rapidamente.

Ao ver Isabel na saída, a alegria do reencontro sumiu instantaneamente, substituída por preocupação.

— O que aconteceu com seu rosto? — Perguntou Sofia, estreitando os olhos, com tom de alerta.

Isabel tocou o rosto coberto pela máscara, e percebeu que o inchaço ainda não havia diminuído.

— Levei um tapa. — Ela desviou o olhar de Sofia, murmurando.

— Rafael enlouqueceu? — Sofia rangeu os dentes.

Isabel hesitou em responder.

Vendo Sofia prestes a ligar furiosamente para Rafael, Isabel decidiu contar a verdade.

— Eu fiz questão de levar esse tapa. Se não, como eu teria fugido de casa? Mas não se preocupe, vou me vingar mais cedo ou mais tarde.

— Mas isso é cavar a própria cova! — Sofia explodiu. — Rafael perdeu o juízo? Se a irmã é mais importante que a esposa, então por que ele não passa o resto da vida com ela?

— Quem sabe, talvez seja isso que ele queira. — Isabel respondeu com expressão enigmática.

Sofia ficou em choque.

No caminho de volta, Isabel, com a audição recuperada, contou detalhadamente sobre o telefonema de Rafael e Antonela à Sofia.

Dez dias depois, ao se lembrar desses acontecimentos dolorosos, ela parecia completamente indiferente, imperturbável, extremamente calma. E, quanto mais calma estava, mais Sofia se preocupava com ela. A última vez que ela viu Isabel tão calma foi cinco anos atrás, quando a amiga estava à beira do desespero, considerando o suicídio.

— Para ter coragem de fazer isso, é porque Rafael não é gente! — Sofia abraçou Isabel, rangendo os dentes de raiva. — Depois do que aconteceu há cinco anos, ele te procurou dizendo gostar de você há muito tempo, mas não podia se declarar por causa de Artur. Ele pediu que você se casasse para acabar com boatos, prometendo que, se você não conseguisse amá-lo, poderia se divorciar a qualquer momento. Mas, era tudo uma farsa! Eu ainda achava que ele era um homem de verdade, mas claramente não é. Esse casamento precisa acabar, eu te apoio. Se o que aconteceu cinco anos atrás tiver relação com ele, eu não me importo em gastar toda minha fortuna para contratar alguém para acabar com ele!

Vendo Sofia indignada e furiosa, Isabel sentiu o nariz arder e a garganta presa, como se estivesse obstruída. As emoções reprimidas nos últimos dias agora transbordaram.

Cinco anos atrás, ela acreditou que Rafael era sua salvação. Nunca imaginou que ele a empurraria ainda mais fundo em outro abismo.

Isabel finalmente não conseguiu conter-se e chorou alto.

Sofia tentou consolá-la, mas acabou chorando ainda mais, mais angustiada que Isabel.

Quando chegaram a casa, as duas estavam com os olhos inchados como nozes. Sofia nem se deu ao trabalho de lavar o rosto e já abriu o notebook e pediu a Isabel para verificar os arquivos copiados do pendrive.

Após sair do Grupo Siqueira e tratar rapidamente do ferimento no rosto, Isabel foi direto para o aeroporto, sem ter tempo de olhar os arquivos copiados do computador de Rafael.

Ela inseriu o pendrive no computador, e vários novos arquivos apareceram.

Isabel e Sofia se entreolharam e, em seguida, moveram o mouse.

O primeiro era de documentos da empresa.

O segundo, contratos.

O terceiro também nada interessante.

Até chegarem ao último.

Havia de quarenta a cinquenta fotos.

Nem precisaram abrir, apenas ver as miniaturas das fotos fez Isabel sentir como se tivesse caído num congelador, tremendo e arrepiada.
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