Share

Capítulo 3

Author: Clara Noturna
Rafael, como de costume, mandou entregar uma coleção inteira de roupas para Isabel. Todas das marcas de luxo mais famosas, com peças da última coleção, algumas até edições limitadas. Os acessórios também estavam completos.

Isabel olhou para tudo aquilo, mas perdeu rapidamente o interesse. Para ela, o verdadeiro sentido de ir às compras não estava no resultado, mas sim no processo, tal como num casamento.

Logo, ela se viu cada vez mais viciada em compras online. Quando Rafael recebeu o relatório dos empregados, apenas sorriu e deixou-a fazer. Ela comprou vários itens, e em menos de três dias, pacotes começaram a chegar sem parar. E, foi assim que Isabel descobriu um novo prazer: abrir os pacotes. Enquanto aproveitava a nova diversão, finalmente recebeu o pendrive anônimo.

O pendrive veio junto com os outros pacotes, discreto e imperceptível. Após abrir, Isabel guardou-o discretamente.

Naquele dia, aproveitando que Rafael estava no trabalho, ela entrou no escritório dele sem hesitar. A empregada responsável pela limpeza, Luciana, a seguiu discretamente, alegando estar à disposição para servi-la a qualquer momento. Aquilo fez Isabel suspeitar que talvez os empregados não só cuidavam dela, mas também espionavam para Rafael.

Ela não demonstrou irritação, apenas pediu gentilmente para Luciana preparar um café.

Assim que a empregada saiu, Isabel rapidamente ligou o computador do escritório e inseriu o pendrive, iniciando o programa. A barra de progresso avançou rapidamente.

Quando estava quase concluindo, Luciana voltou com o café. Isabel tomou iniciativa para pegar, mas acidentalmente derrubou a bebida. O dorso de sua mão branca ficou imediatamente queimado e vermelho.

— Senhora, está tudo bem? — Luciana ficou pálida de susto.

Rafael era apaixonado e mimava Isabel ao extremo, qualquer pequeno acidente o deixava preocupado por um bom tempo.

Certa vez, Isabel quis aprender a fazer arranjos de flores e se cortou com o espinho de uma rosa. Desde então, nunca mais houve flores com espinhos no jardim. Numa outra vez, um empregado esbarrou sem querer na Isabel e foi demitido e expulso da cidade no mesmo dia.

Rafael não era gentil com quem não importava para ele. No mundo dos negócios, ele tinha reputação de implacável, conhecido como "Rafael, Rei do Inferno". Todos os empregados da casa tinham medo dele.

Isabel acalmou Luciana e pediu que ela fosse buscar a pomada para queimadura. Assim que a empregada se afastou, ela rapidamente retirou o pendrive, que já havia concluído o progresso,

do computador.

Depois de aplicar a pomada, ela pediu que Luciana trouxesse alguns livros sobre investimentos, e só então retornou lentamente ao seu próprio escritório. Desta vez, Luciana não insistiu em acompanhá-la.

Isabel fechou a porta, ligou o computador e abriu o pendrive.

Dentro, havia uma nova pasta.

A palma de sua mão estava úmida, e o mouse escorregava. Ela prendeu a respiração, com os dedos trêmulos, e abriu a pasta ansiosamente.

Dentro, estavam fotos.

Todas eram de Antonela.

Desde a infância, passando pela adolescência, até a maturidade. Havia também duas fotos de Rafael com Antonela, em diferentes idades. Ele, ora com olhar de lado, ora cabisbaixo, sempre observando Antonela com atenção. Seus olhos carregavam um amor contido, impossível de disfarçar.

O dedo de Isabel tremeu, e de repente, seu coração disparou como um trovão descontrolado.

Os sentimentos de Rafael... por Antonela...

Não eram apenas fotos escondidas, eram provas de sentimentos secretos e imundos dele por ela.

Após o choque inicial, uma excitação estranha e distorcida surgiu em seu peito.

Aquelas fotos, se bem usadas, seriam uma arma letal.

Infelizmente, as fotos originais de cinco anos atrás mencionadas por Rafael não estavam ali. Mas, em momentos de crise, manter a calma é essencial. Ela ainda tinha três meses para encontrar o que precisava, e iria conseguir.

Sexta-feira à noite, o viciado em trabalho, Rafael, raramente saía do escritório cedo.

Nos últimos dias, Isabel, alegando estar trabalhando nas suas novas ilustrações, dormiu no quarto de hóspedes próximo ao escritório. Eles estavam vivendo em quartos separados, o que já havia ocorrido antes, mas nunca por mais de dois ou três dias. Desta vez, já se aproximava de uma semana. E pelo jeito, Isabel não tinha a menor intenção de voltar para o quarto principal.

Rafael queria falar com ela. Viver separados prejudicava o relacionamento do casal.

Para isso, ele fez uma reserva num restaurante ocidental para os dois, fechando o local inteiro. A música tocava suavemente, e lírios azul-violeta, amarelos e brancos dançavam à luz das velas.

Rafael entregou a Isabel uma caixa de veludo roxa com uma joia.

— Surpresa! Veja se gosta. — Disse, com os lábios curvados em um sorriso.

Isabel hesitou um instante, pegou a caixa com um sorriso leve.

— Que dia é hoje para me dar presente?

Desde o casamento, Rafael a presenteava com tanta frequência que Isabel mal conseguia acompanhar os motivos.

Antes, ela adorava essas surpresas românticas, sentia-se mimada. Agora, tudo parecia apenas sarcástico.

— Um pequeno prêmio pelo esforço recente da grande cartunista. — Rafael sorriu. — Abra logo! — Ao notar que ela hesitou a abrir, ele instigou.

Com pouco interesse, Isabel abriu mesmo assim. De repente, ela parou. Dentro da caixa, um conjunto de joias de diamantes amarelos, descansava sobre o veludo roxo, brilhando sob a luz das velas.

Ela lembrou-se de ter comentado casualmente que o tom das joias amarelas combinava com a pele da protagonista de uma novela que ela assistia. Na época, Rafael estava no telefone na sacada. Ela não esperava que ele tivesse notado.

— Mandei fazer especialmente para você. Gosta? — Perguntou ele, com voz de carinho.

Isabel engoliu em seco, erguendo o olhar para seus olhos profundos e sombrios. Seu peito apertou com dor. Como ele conseguia demonstrar tanto afeto por alguém que não amava de verdade?

— Vou colocar no seu pescoço. — Rafael, achando que ela estava emocionada, sorriu baixo e se aproximou.

Isabel tentou recusar, mas era tarde demais.

— Querida, é ótimo que você esteja criando obras. Mas não será que pode ser mais atenciosa com o seu marido? — Disse ele, perto do ouvido dela, após colocar o colar. — É difícil dormir sozinho. Não dormi bem a semana toda.

Um hálito quente soprou em sua orelha, despenteando seus cabelos na nuca, deixando um arrepio. Sua voz misturava pena e sedução, despertando sentimentos confusos.

Antes, Isabel teria sido completamente dominada. Agora, só de pensar em dormir ao lado de Rafael, ela sentia repulsa.

— Me dá mais alguns dias. — Disse suavemente, batendo os cílios. — Estou com uma onda de inspiração e não quero desperdiçar.

Rafael ficou surpreso. Ele não esperava a recusa. A decepção passou rapidamente pelo olhar dele.

— Parece que preciso me esforçar mais para conquistar o lugar mais importante no coração da Srta. Isabel. — Ele se sentou novamente, rindo com ironia.

Isabel apenas sorriu, sem responder. E Rafael não insistiu.

Ela era calma e dócil, mas quando decidia algo, ninguém a convencia do contrário.

Durante a refeição, o gerente do restaurante se aproximou apressado.

— Sr. Rafael, o Sr. Antônio Duarte com a família estão aqui. Ao saberem que o senhor reservou o local, se recusaram a sair e insistem em ver a sua esposa. — Disse, o gerente.

Rafael olhou rapidamente para Isabel.

O sorriso suave desapareceu, e ela largou o talher, sem apetite.

— Que tal mudarmos de lugar? — Ele franziu a testa.

— Eles não querem me ver? — Isabel riu com desdém. — Então deixa-os entrar.

Cinco anos atrás, quando ela se envolveu no escândalo, a família se aproveitou da situação para enganá-la e induzi-la a assinar documentos de participação acionária. Eles a trataram com extremo desprezo, e a humilharam cruelmente, quase a forçando a cometer suicídio.

Após se casar com Rafael, eles ainda tentaram bajulá-la.

Antes Isabel os evitava completamente. Agora, ela não queria mais fugir do passado, e queria se concentrar em viver o presente. Ela havia decidido investigar sobre o que aconteceu cinco anos atrás e para isso, ela não iria mais evitar a família. Além disso, era hora de recuperar os bens que lhe pertenciam.

Rafael fez um sinal ao gerente.

A família Duarte entrou, cumprimentou Rafael com sorrisos forçados, e finalmente olhou para Isabel.

— Isabel, há quanto tempo. Hoje é um dia de sorte. Vamos jantar todos juntos? — Disse Antônio, com semblante falsamente gentil.

— Claro! — Isabel ergueu os olhos, encarando-o com um sorriso contido. — E aproveitamos para falar sobre as ações que minha mãe deixou para mim. O Sr. Antônio segurou as minhas ações por cinco anos, quando pretende devolvê-las?

Em um instante, a expressão de toda a família mudou completamente, tão rápido quanto um truque de mágica.

— Provavelmente o Sr. Antônio não sabe, mas se eu não assumir o que me pertence antes do meu vigésimo sexto aniversário, elas serão automaticamente leiloadas.

Faltavam menos de três meses para o aniversário da Isabel. Esse também era o motivo fundamental para ela dar três meses para descobrir a verdade e conseguir se divorciar do Rafael. Ela queria usar a influência dele antes de se divorciar para garantir que a família Duarte devolvesse suas ações com juros.
Continue to read this book for free
Scan code to download App

Latest chapter

  • Cinco Anos em Vão, Isabel Chutou o Balde e Seguiu Sem Arrependimentos   Capítulo 100

    Isabel pediu a Diana que escoltasse Rafael, e seguiu diretamente para o escritório de Antônio.Antônio estava tranquilo, tomando um chá, sonhando que, com a assinatura do contrato, a Empresa Duarte se transformaria no Grupo Duarte, com negócios espalhados pelo mundo.Ao ver Isabel entrar, ele imediatamente se levantou e, pessoalmente, serviu-lhe uma xícara de chá.— Já está tudo certo com o Sr. Rafael? — Disse Antônio, sorrindo como uma flor.Contanto que conseguisse fechar a parceria com o Grupo Siqueira, ninguém na empresa ousaria dizer que ele só prosperou graças à sua primeira esposa!Isabel pegou a xícara de chá, mas não bebeu. Apenas a apoiou de volta, com um sorriso enigmático.— Sr. Antônio está cada vez mais esquecido, não é mesmo?O sorriso de Antônio congelou, confuso e inquieto. Será que ela estava prestes a impor mais alguma condição?— Na reunião com a alta direção, o senhor não disse para eu voltar para casa e descansar? — Isabel deu um leve riso.Com essa lembrança, An

  • Cinco Anos em Vão, Isabel Chutou o Balde e Seguiu Sem Arrependimentos   Capítulo 99

    — Vamos analisar o contrato com o departamento jurídico antes de decidir se o assinamos. — Isabel pegou o contrato e disse com cautela.Ela não era como Antônio, que, ao ver o contrato parecia, querer assiná-lo imediatamente. Sua consciência de precaução era notável.Rafael estava prestes a elogiá-la, mas logo se lembrou de onde vinha essa cautela e, sua expressão se tornou séria e sombria novamente.Após algumas palavras rápidas sobre assuntos da empresa, Rafael olhou para Diana. — Vice-Presidente Isabel, se for conveniente, tenho um assunto pessoal que gostaria de pedir sua ajuda. — Ele disse a Isabel.Ao terminar, Diana se levantou e saiu da sala.— Minhas habilidades são limitadas, receio não poder ajudar o Sr. Rafael. — Isabel olhou para ele, recusando educadamente.— Eu te entendi mal ontem, me desculpe por tudo que aconteceu no restaurante. — Rafael suspirou.Os lábios de Isabel se curvaram em um sorriso sarcástico, mas ela não disse nada. Ele pensava que um simples pedido de d

  • Cinco Anos em Vão, Isabel Chutou o Balde e Seguiu Sem Arrependimentos   Capítulo 98

    Rafael chegou com um contrato, carimbado pelo Grupo Siqueira. Bastava que a Empresa Duarte assinasse e carimbasse para que o contrato fosse oficialmente estabelecido.Antônio estava emocionado, com a mão tremendo segurando o contrato, o coração quase saindo pela boca. Ele acreditava que o divórcio de Isabel e Rafael tinha sido causado por um erro de Isabel, causando o desgosto de Rafael. Quando Isabel admitiu o divórcio para os repórteres, com uma expressão indiferente e impassível, ele quase viu nela a sua falecida esposa, Helena.No passado, Helena também havia sido fria e calma ao pedir o divórcio. Só então Antônio percebeu que quem realmente queria se divorciar era Isabel.Ele aproveitou a situação para exigir que Isabel deixasse a empresa, movido tanto pelo egoísmo de não querer que ela assumisse o comando quanto para dar satisfação a Rafael. Ele temia que, devido à teimosia de Isabel, Rafael pudesse culpar a Empresa Duarte por qualquer problema. Afinal, Isabel mal havia começado

  • Cinco Anos em Vão, Isabel Chutou o Balde e Seguiu Sem Arrependimentos   Capítulo 97

    Agora que finalmente tinha uma chance, ele não iria deixar passar.— Nós estávamos apenas colaborando com o departamento de relações-públicas. — André não hesitou em passar a culpa adiante. — Afinal, esta foi uma estratégia proposta pelo departamento de relações-públicas para lidar com a emergência da queda das ações da empresa.Ele lançou um olhar para Isabel e depois para Antônio.— O presidente Antônio tem uma filha excelente, bem-educada. Se não apoiássemos o trabalho dela, estaríamos questionando a sua decisão de nomeá-la para esse cargo, certo?Dando voltas, ele conseguiu finalmente influenciar o chefe. Antônio ficou furioso, com fumaça saindo das ventas. Ele sabia que André intencionalmente permitiu que o departamento de marketing explorasse o divórcio de Isabel e Rafael para atrair atenção, só para provocá-lo.Antônio lançou um olhar para Isabel, ainda mais irritado. Se não fosse pelo divórcio e pelas ideias malucas dela, o preço das ações não teria sofrido uma queda tão grand

  • Cinco Anos em Vão, Isabel Chutou o Balde e Seguiu Sem Arrependimentos   Capítulo 96

    No hospital, Antonela estava deitada na cama, ansiosa e desesperada, com lágrimas escorrendo sem parar.— Mãe, ela não quer vir me ver. O que eu faço?As mensagens anônimas no celular dela pareciam uma bomba-relógio prestes a explodir, capaz de despedaçá-la a qualquer momento.Regina também estava com dor de cabeça.Como poderia ser coincidência que Isabel e Rafael estivessem se divorciando justamente naquele momento?Ela tinha feito questão de encontrar Isabel, querendo levá-la ao hospital e, aproveitando a visita à Antonela, para falar sobre os acontecimentos de cinco anos atrás. Mas, nunca imaginou que Isabel não fosse lhe dar nem um pouco de consideração. Isabel ainda havia contratado seguranças, ousada a ponto de até bater no Rafael.Até mesmo o plano de Regina de forçar Isabel a ir ao hospital havia sido totalmente frustrado.— Cinco anos atrás, eu te disse para não intervir pessoalmente, mas você não me ouviu. Agora deixou uma brecha. — Pensando na teimosia de Antonela, Regina s

  • Cinco Anos em Vão, Isabel Chutou o Balde e Seguiu Sem Arrependimentos   Capítulo 95

    — Srta. Isabel, você e o Sr. Rafael, realmente estão planejando se divorciar? Quem propôs a separação?— Srta. Isabel, se realmente se divorciar do Sr. Rafael, como será a divisão de bens? Vocês assinaram algum acordo pré-nupcial?— Srta. Isabel, o Sr. Rafael é famoso por ser um marido completamente apaixonado. Por que quer se divorciar?Os repórteres cercavam Isabel, cada um com perguntas afiadas e invasivas, sem a menor delicadeza, atirando-as contra ela. A cena a fez lembrar de cinco anos atrás. Naquele tempo, ela também estava cercada por uma multidão, como um cordeiro vigiado por lobos, perdida, confusa, quase à beira do colapso.Cinco anos se passaram.Aquelas coisas que ela antes evitava, que tinha medo de enfrentar, agora era hora de reunir coragem e encará-las de frente.Isabel respirou fundo, abriu lentamente os olhos. Em suas íris claras e precisas, havia uma determinação inabalável.— Não importa quem propôs a separação.— Vocês mesmos disseram, o Sr. Rafael é completamente

More Chapters
Explore and read good novels for free
Free access to a vast number of good novels on GoodNovel app. Download the books you like and read anywhere & anytime.
Read books for free on the app
SCAN CODE TO READ ON APP
DMCA.com Protection Status