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Capítulo 2

작가: Juli
Comecei a sentir um calor estranho, engoli em seco.

Peguei de novo a garrafinha.

A água gelada desceu pela garganta, apagando o fogo, a confusão — e me trouxe de volta.

Guilherme também não afastou a perna.

Ficou assim mesmo. Deixando que eu encostasse.

Meu coração parou por uns segundos.

Depois, começou a acelerar como louco, fora de controle.

Mas, de repente, o carro virou bruscamente.

Dalila deu um gritinho no banco da frente:

— Quase morri de susto, Val!

Ela levou a mão ao peito, teatral.

Logo depois, soltou um elogio com voz doce:

— Mas, Val... tua reação foi incrível agora!

— Se não fosse o volante que você virou, aquela pedra tinha acertado a gente em cheio.

Valentim riu todo convencido:

— E aí? Val manda bem ou não manda?

Dalila se inclinou e deu um beijo nele:

— Val é o melhor, merece um beijinho!

— Para com isso — Disse ele, lembrando que eu estava ali atrás.

Fez uma cara séria e lançou um olhar de censura pra ela:

— Já tá grandinha, né? Fica nessa palhaçada... a Clarice tá vendo.

Dalila arregalou os olhos, com a cara mais inocente do mundo:

— Clarice... eu e o Val crescemos juntos. Eu vejo ele como um irmão, você não se incomoda, né?

Peguei uma manta e cobri as pernas.

Levantei o rosto e sorri, fria:

— Na sua casa vocês também se beijam assim entre irmãos?

Dalila fez biquinho na hora, com cara de choro:

— Val, viu só? Eu falei que a Clarice não gosta de mim...

— Quer saber? Melhor eu nem ir... vai que ela se irrita ainda mais.

Valentim logo franziu a testa:

— Já deu, né, Clarice? Você é dois anos mais velha que a Dali. Será que dá pra agir com mais maturidade?

— Ela é assim, meio criança, meio sem noção... por que você precisa ser tão dura?

Naquele momento, nem força pra discutir eu tinha mais.

Quer que eu seja compreensiva?

Claro. Sem problema.

Só espero que um dia, você também seja.

Sob a manta, minha perna foi grudando ainda mais na dele.

A estrada tremia sob as rodas, e num desses solavancos, meu joelho e canela roçaram outra vez a coxa dele.

Então a mão de Guilherme — comprida, quente — pousou sobre minha coxa.

Com a palma colada direto na pele fria.

O calor dele veio como um incêndio silencioso.

Tomando tudo.

E por um segundo, meus sentidos pareciam amplificados.

Mil vezes. Cem mil.

Consegui até sentir os calos finos nos dedos dele, de tanto segurar bisturi.

Sentir a ponta dos dedos deslizando de leve pela minha pele.

Quase imperceptível. Quase.

Virei o rosto e olhei pra ele — foi rápido, só um instante.

Mas deu tempo de ver.

Ele seguia sentado como sempre, postura impecável, camisa engomada até o colarinho.

Mas o pomo de adão... se moveu. Forte.

O perfil dele, à luz da estrada, parecia esculpido à mão.

Puro, limpo, preciso.

Dava um aperto no peito só de olhar.

Guilherme era o ponto fora da curva nesse grupo do Valentim.

Se não fosse por um laço de parentesco meio torto entre os dois,

um cara como ele — frio, reservado, cheio de manias de limpeza —

jamais andaria com esse tipo de gente.

Depois que comecei a namorar o Valentim, acabei conhecendo ele também.

Mas a gente mal trocava palavras. Um aceno aqui, um “oi” ali.

Guilherme sempre foi calado. Gostava de silêncio.

E parecia que a vida dele também era assim: limpa. Em branco.

Nas confraternizações, quando o pessoal se empolgava com cartas, churrasco, zoeira...

Guilherme já tinha sumido.

Quando ficava, era no canto, sozinho no sofá, olhos fechados, alheio a tudo.

Nunca se misturava.

Valentim já riu disso várias vezes:

— Meu primo é quase um monge, sério. Vinte e sete anos na paz, sem se envolver com ninguém.

— Agora tá melhorzinho. Antes, chamava pra dez festas, ele ia a nenhuma. Agora aparece em três, quatro.

Na faculdade, eu já tinha ouvido falar dele. E de longe, vi ele umas duas vezes.

Mas, pra mim, Guilherme sempre foi aquele tipo de homem que a gente sonha na adolescência.

Um ideal. Um mito.

Aquela lua alta demais pra alcançar.

A gente quase não teve contato.

Duas vezes, no máximo. Quando procurei o hospital por um incômodo nos seios.

Acabei marcando com ele sem saber.

Fiquei constrangida, claro.

Mas ele... foi puro profissionalismo.

Tão sério, tão tranquilo, que acabei relaxando logo.

E depois ainda me culpei por dentro.

“Pelo amor de Deus, Clarice... o cara é cirurgião. Já viu de tudo.”
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