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Capítulo 0002

Auteur: Luna Martins
Só de lembrar como foi a minha morte, um arrepio percorreu meu corpo.

“Se o destino me deu essa segunda chance... Então eu vou virar esse jogo.

Nada mais de submissão. Nada de erros. Dessa vez, quem dita as regras sou eu.”

Não dei atenção ao olhar sentido da Larissa, nem aos gritos raivosos do Murilo.

Simplesmente me abaixei, peguei a mala do chão e continuei arrumando tudo com calma.

Minha expressão serena parecia irritar ainda mais o Murilo. De repente, ele me empurrou com força.

— Tá bancando a madura agora, Beatriz? Acha que fazendo essa pose de quem não liga pra nada vai conseguir o que quer? Já vou avisando: mesmo que a gente se case um dia, eu nunca vou abrir mão da Lari. Nem pense que vou tirá-la da minha vida. E mais: até na nossa casa ela vai ter um quarto, ouviu bem? Se você não aceitar isso, então é melhor a gente nem se casar nunca!

Frases assim? Eu já tinha escutado mil vezes.

Se fosse antes, eu com certeza teria batido boca, chorado, feito escândalo...

Talvez até usasse a gravidez pra forçar ele a escolher.

Mas agora?

Agora... Eu torcia pra que esse casamento nem acontecesse.

— Ótimo. Então que não aconteça.

O silêncio que caiu foi tão absoluto que dava pra ouvir o som de uma agulha caindo no chão.

Olhei nos olhos dele, espantados e, com frieza, completei:

— Na verdade, é até melhor assim. Eu também não quero mais me casar com você.

Eu e Murilo éramos o clássico casal de infância: crescemos juntos, lado a lado, desde pequenos.

Nossas famílias tinham combinado o casamento há mais de vinte anos. Tudo estava encaminhado.

Pelo menos... Até dois anos atrás.

Foi quando Larissa apareceu na vida dele. Uma assistente novata, tímida e sorridente.

Lembro da primeira vez que a vi.

Fui até o escritório do Murilo levar uns docinhos caseiros, e dei de cara com ele gritando com ela.

Ela parecia um coelhinho assustado, encolhida, com os olhos marejados.

Estava prestes a chorar.

As outras pessoas tentavam intervir, mas Murilo nem ligava. Continuava esbravejando.

Aquilo me incomodou de um jeito estranho.

No fim, fui eu quem interveio e tentou acalmar a situação.

Quando Murilo me viu, suspirou, e finalmente deixou a menina em paz.

Ele me disse, naquela época, que gente assim não passava nem da experiência, seria mandada embora rapidinho.

Mas, quem diria...

Ela não só ficou, como virou a queridinha dele.

Murilo passou a tratá-la como se fosse de vidro, como se fosse preciosa demais pra ser tocada.

E, por causa dessa assistentezinha, ele foi capaz até de matar o próprio filho.

Murilo tentou encontrar algum traço de ciúmes nos meus olhos.

Mas tudo o que viu foi frieza. Desprezo. Decisão.

Por um instante, ele pareceu desconcertado.

Estendeu a mão, como se quisesse tocar meu rosto.

Foi então que Larissa começou a chorar, cobrindo a boca com a mão.

— Sr. Murilo... Bia... Não briguem por minha causa, por favor. Eu vou embora. De verdade. Vou sumir da vida de vocês, nunca mais vou atrapalhar.

Saiu correndo, aos prantos.

E Murilo?

Voltou a me encarar com aquele olhar amargo que eu já conhecia bem nos últimos dois anos. Frio. Cheio de desprezo.

— Beatriz, você faz questão de acabar com meu fim de ano, né? Se quiser mesmo casar comigo, para de implicar com a Lari. Senão, esquece! Eu não me caso com você nem morto. Quero só ver como você vai explicar essa barriga aí pra sua família.

O rosto dele estava carregado.

As palavras cortaram como navalha.

E então ele saiu, correndo atrás da Larissa, sem olhar pra trás.

Só que ele parecia ter esquecido de um detalhe, com menos de três meses de gestação, um bebê... Pode ser descartado.

E quanto ao casamento?

As famílias Santos e Lima tinham um acordo de décadas, é verdade.

Mas os Santos não tinham só um filho.

Foi a vibração do celular que me trouxe de volta dos pensamentos.

Mensagem nova.

Remetente: Larissa.

[Beatriz, e daí se você tem a família Lima atrás de você? O Murilo só tem olhos pra mim. Esse ano, vai passar sozinha com essa barriga aí. Ano que vem, pelo menos você vai ter um bastardo pra te fazer companhia. Quem sabe assim não se sente tão carente.]

Cada palavra, um veneno.

Mensagens assim?

Eu recebi várias ao longo dos últimos dois anos.

Cheguei até a mandar prints pro Murilo.

Mas ele só dizia que a Larissa era imatura, que eu precisava ter paciência, que era coisa de menina boba.

Murilo achava que eu não tinha para onde fugir.

Que estava presa a ele, para vida toda.

Por isso ele se dava o luxo de ser cruel, arrogante, insuportável.

Respirei fundo, deslizei o dedo pela lista de bloqueados... E então tirei ele de lá.

Ícone preto, nenhum nome. Mas eu lembrava muito bem quem era.

No Ano Novo, no dia do nosso noivado oficial entre as famílias Santos e Lima...

Eu vou dar ao Murilo o presente que ele jamais vai esquecer.
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