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Capítulo 0003

Author: Luna Martins
Assim que o Murilo saiu, fui direto pro hospital fazer o aborto.

Naquele momento, quando o anestésico começou a correr pelas minhas veias, meu celular vibrou. Era uma mensagem dele.

[Bia, o que eu disse antes foi no calor do momento. Fica tranquila, eu vou me casar com você, com certeza. No dia do nosso noivado, estarei de volta. Me espera, tá? Quanto à Lari… Finge que ela não existe. Já conversei com ela, ela não vai mais se meter na nossa vida.]

Li as mensagens, fria como gelo. E então, apaguei a tela. Sem responder.

Nos últimos dois anos, Murilo já tinha se rebelado várias vezes contra o casamento arranjado entre as nossas famílias, tudo por causa da Larissa.

Cheguei até a decidir sair do país, pra deixar os dois livres.

Mas no dia da minha viagem, ele apareceu no aeroporto. Chorando. Implorando pra eu não ir embora.

Aquele dia foi um caos. Perdi o controle. Ele também.

E foi assim que esse bebê aconteceu.

Só que...

Só no fim da minha vida eu descobri a verdade, Murilo só foi atrás de mim porque a família Santos o ameaçou usando a Larissa.

A união entre a família Santos e a Lima era inquebrável.

Nada nem ninguém ia mudar isso.

Então mesmo que Murilo amasse a Larissa, ele ainda assim teria que se casar comigo.

Senti o calor escorrer do meu corpo... Aquele filho nunca deveria ter existido.

Quando acordei, já estava no quarto do hospital.

Enquanto isso, Murilo e Larissa já estavam curtindo a viagem na praia.

Ela me mandou várias mensagens cheias de deboche. Fotos. Sorrisos.

Em algumas, Murilo a abraçava por trás, com um olhar doce.

O mesmo olhar que um dia já foi meu.

Hoje?

Hoje ele só me enoja.

[Beatriz, o Sr. Murilo disse que você também ama o mar. Devia ter vindo com a gente!]

[Ah, ele me preparou um show de fogos só pra mim. Depois te mando o vídeo, tá?]

[Velha ridícula. Se eu fosse você, já tinha caído fora. Ficar grudada no Sr. Murilo assim? Que nojo.]

Antes, eu jamais responderia esse tipo de mensagem.

Mas dessa vez… Eu respondi.

[Se gosta tanto assim do Murilo… Então não solta ele nunca, tá bom?]

“Quero ver, quando Murilo estiver no fundo do poço, se você ainda vai estar do lado dele, Larissa.”

Depois de enviar, eu só queria dormir um pouco.

Mas antes que conseguisse, o celular tocou.

Atendi, e já ouvi do outro lado a voz de Murilo, furioso:

— Beatriz, que diabos você aprontou agora? Eu já disse que vou me casar com você! Por que você insiste em descontar tudo na Lari? Ela não te fez nada! Eu só queria dar a ela um fim de ano tranquilo, e você precisa estragar tudo? Pede desculpa pra ela. Se não fizer isso, no dia do noivado não espere que eu vá ter pena de você.

Franzi a testa. Que homem irritante.

Só conseguia achar ele insuportável.

Murilo continuava falando sem parar.

Irritada, desliguei na cara dele e já aproveitei pra bloquear o número.

No dia em que recebi alta do hospital… Era o primeiro dia do ano novo.

Voltei pra casa e comecei a limpar tudo.

Tudo que lembrava o Murilo, roupas, escova de dentes, até os livros que ele tinha comprado foi direto pra sacola.

“Esse apartamento é meu. As coisas dele nunca deviam ter estado aqui.”

Mais tarde, fui pra casa dos meus pais jantar com a família.

Enquanto a TV passava os especiais de fim de ano, fiquei mexendo no celular por tédio.

De repente, uma notícia disparou para os assuntos mais comentados da internet:

[Show de Fogos – MS & LB]

Quando vi aquelas iniciais, já imaginei, Murilo Santos e Larissa Barbosa.

O show era pra ela.

E claro, logo em seguida chegou uma mensagem da própria Larissa. Com vídeo.

[Velha ridícula, o Murilo disse que esse show de fogos é só pra mim. E daí que você é a amiga de infância? E que tá grávida? Você nunca vai ter o amor dele. Pensando bem, até que o casamento de vocês é bom… Pelo menos eu fico com o coração dele.]

A notificação seguinte que apareceu foi do perfil sem foto, aquele mesmo que eu tinha desbloqueado no hospital.

Vi a mensagem...

E sorri, com os lábios curvando devagar.

“Então que essa noite... Seja a última comemoração desses dois desgraçados.”

No dia seguinte, a família Santos reservou um dos melhores salões da cidade para discutir oficialmente o noivado entre as duas famílias.

Mas… O noivo da noite, Murilo, não apareceu.

O pai dele, Bruno Santos, estava com a cara fechada e o tom gélido:

— O que esse Murilo tá pensando? Fazer bagunça no Ano Novo, tudo bem… Mas hoje?! Num dia como esse?! Ele tá passando dos limites. A culpa é sua, Liz, mãe molenga cria filho sem vergonha. Quando ele aparecer, eu mesmo vou ensinar a ele o que é responsabilidade.

A mãe do Murilo, Liz Dias, estava visivelmente aflita. Ao ouvir o marido, apenas baixou a cabeça, calada.

A tensão tomou conta da mesa.

Todos estavam incomodados, o ambiente pesado.

Mas eu sabia…

Murilo estava lá embaixo.

Ele só estava esperando.

Esperando que eu pedisse desculpas à Larissa.

Estava me punindo com esse atraso. Era o castigo dele.

E eu?

Eu também estava esperando.

Esperando alguém.

Enquanto isso, tentei manter a calma e conversar com os outros.

Fingi que não via as dezenas de mensagens chegando.

Depois de meia hora, o celular finalmente parou de vibrar.

E foi nesse momento que a porta do salão foi escancarada.

Murilo entrou, com o rosto vermelho de raiva, e veio direto na minha direção.

— Beatriz, você ficou surda? Eu mandei você pedir desculpas pra Lari! Essa é sua última chance. Se não pedir desculpas agora, esquece esse noivado.

O salão ficou em silêncio absoluto.

Bruno Santos bateu com força na mesa, levantando-se num pulo. Apontou para o filho, furioso:

— Seu ingrato! O que você pensa que tá fazendo?! Se atrasar já foi falta de respeito, mas vir aqui ameaçar a Bia?! Pede desculpa agora!

Meu pai, ao lado, estava com o rosto fechado como pedra.

Soltou um resmungo frio:

— Bruno, parabéns pela criação. Seu filho realmente não tem a menor consideração por uma filha da família Lima.

O rosto de Bruno ficou ainda mais tenso.

Sem saída, ele olhou para Murilo com pressão nos olhos, exigindo que se desculpasse.

Mas Murilo se recusou.

Foi então que Larissa apareceu.

Entrou chorando na sala, a cara toda manchada de rímel, a voz embargada:

— Sr. Murilo, por favor… Não briga por minha causa. Eu aguento, de verdade. Desde pequena eu estou acostumada com isso, um pouco mais não vai me matar...

Murilo ficou ainda mais sombrio.

Se aproximou de mim, e murmurou com veneno no tom:

— Beatriz, se não pedir desculpa agora, esquece o casamento. Quero ver se sua família vai te aceitar com essa barriga, sem marido. Aliás… Acho que vou chamar umas mídias pra divulgar bem bonito: “A única filha da família Lima engravida fora do casamento.” O que acha? Será que isso vai sujar o nome da sua família?

Levantei o rosto num pulo, os olhos arregalados de incredulidade.

Murilo arqueou uma sobrancelha, com aquele tom nojento de chantagem disfarçada:

— Bia… É só um pedido de desculpas. Se você fizer isso, tudo se resolve. A gente marca o casamento hoje mesmo, como querem as duas famílias. Você sabe o que é melhor pra todos, né?

Meu pai estava com raiva, mas… Em nenhum momento ele falou em cancelar o noivado.

E Murilo sabia disso.

Sabia que, enquanto meu pai não rompesse de vez, ele poderia fazer o que bem entendesse.

Sabia que eu estava sozinha.

Por isso, ele estava tão seguro.

Esperava com toda a arrogância que eu abaixasse a cabeça.

Mas então…

A porta do salão se abriu de novo.

E uma figura alta, de terno escuro e olhar afiado, entrou no ambiente.
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